Nos últimos anos, moradores de Porto Alegre viram surgir vários espaços públicos para atividades esportivas. Com a inauguração de um novo trecho da orla do Guaíba, por exemplo, a cidade apresentou aos seus habitantes quadras esportivas e a maior pista de skate da América Latina.
A bicicleta sempre foi parceira de muita gente, ainda mais com as iniciativas de compartilhamento desse que é um dos meios de transportes mais sustentáveis. Segundo levantamento da empresa Tembici, em 2021 o número de bicicletas em Porto Alegre cresceu 164% na comparação com o ano anterior e, em agosto, foram registradas mais de 4 mil viagens em um único dia.
Muita gente forma equipes para pedalar na cidade. A iniciativa Pedala Black, sob o slogan contra o racismo, contra o vento, contra o preconceito, se distingue das demais por ser formada por ciclistas pretos.
“Eu tinha uma bike e saí pra pedalar”, conta Jean Rodrigues, criador do grupo que nasceu em 2019. “No caminho achei um grupo de senhores brancos com suas mountain bikes [um tipo de bicicleta direcionada para terrenos elevados, como montanhas]. Perguntei como fazia para participar e pedalar com eles, mas falaram que tinha que trocar de veículo, usar capacete, cotoveleira, uniforme do grupo e tal. De tudo para não participar. Foi aí que eu tive a ideia.”
Somada ao fato de observar várias pessoas pretas pedalando sozinhas pela cidade, além de amigos combinarem passeios juntos, a ideia de Jean deu supercerto. O Pedala Black ganhou as ruas de Porto Alegre tem 75 integrantes.
Mobilidade essencial — Para a estudante de direito Amanda Guterres, a iniciativa atende demandas essenciais para a população negra, que historicamente enfrenta situações de vulnerabilidade social, como práticas racistas, violências e outras condições de quem convive à margem da sociedade. Ela vê o Pedala Black como uma ação de autoafirmação preta. “
É massa. Dá uma sensação boa praticar exercício físico e dar uma rolê a céu aberto com outras pessoas pretas. Ajuda na saúde e na autoestima (Amanda Guterres, estudante)
Já segundo o ciclista Madyer Fraga, 25, a importância da iniciativa é mostrar que corpos negros estão em uma constante mobilidade, tanto física como nas questões estratégias. Para ele, a bicicleta também serve como uma terapia.
Quando pedalo, eu consigo alinhar os meus pensamentos, esquecer dos problemas e também manter a saúde física em dia, sabe? É muito importante uma iniciativa que apresente essas qualidades do ciclismo para as pessoas negras. Sempre em mobilidade constante (Madyer Fraga, ciclista)
Ainda que seja a prática do esporte, Jean afirma que muitas vezes o público acha que o movimento é uma manifestação. “Do nada estão batendo palmas pra gente, quando na verdade estamos apenas praticando algo que a gente gosta. É um encontro de ideias entre as pessoas pretas”, conta Jean.
O Pedala Black geralmente parte do Largo Zumbi dos Palmares, no bairro Cidade Baixa, ou do Boteco do Paulista, próximo ao Gasômetro. O grupo aceita todos os tipos de bicicletas, se organiza para não deixar ninguém para trás e manter a segurança de todos no trânsito.
“A gente sempre coloca dois na frente do grupo, dois no meio e dois atrás para cuidar de todo mundo e ninguém se perder. Para as cores, estamos utilizando mais o verde limão, que é uma cor que destaca para os motoristas tanto durante o dia quanto à noite”, explica o organizador.
O Pedala Black faz passeios uma vez por mês, aos finais de semana. Mas Jean estuda a possibilidade de ampliar. Para conhecer, este é o perfil do Instagram. Por mensagem, dá para combinar um dia e sair com a turma.