Como as jogadoras pagam suas contas? Veja também: a cobertura completa do Mundial Feminino, e quando o Brasil joga
A seleção brasileira que participa da Copa do Mundo Feminina, na França, tem forte apoio estatal. Das 23 jogadoras do Brasil, 17 recebem o Bolsa Atleta, programa do Governo Federal que ajuda financeiramente as competidoras com pagamentos mensais. Como comparação, nenhum membro do time de Tite que disputa a Copa América a partir desta sexta, 14/6, recebe o Bolsa Atleta. As jogadoras da seleção dizem utilizar os recursos do programa para pagar despesas básicas como compra de chuteira, suplemento alimentar e até transporte para ir aos treinamentos.
NO ESTADÃO ESPORTES
A lateral Tamires, de 31 anos, é uma das atletas mais experientes da equipe. Jogadora do Fortuna Hjorring, da Dinamarca, ela já fez parte das categorias Nacional e Internacional do Bolsa Atleta e atualmente recebe os valores da faixa Olímpica. “É um incentivo muito grande. Às vezes, no futebol feminino, você não é tão bem remunerada em alguns clubes.
O Bolsa Atleta ajuda a somar os rendimentos com o salário para poder comprar chuteiras e suplemento alimentar”, explica. Os valores pagos pelo Bolsa Atleta variam de R$ 410 (categoria Base) a R$ 15 mil (Pódio). Na seleção feminina de futebol, as 17 contempladas recebem entre R$ 1.020 e R$ 3.500.
Entre as 23 jogadoras convocadas pelo técnico Vadão para o Mundial da França, apenas seis defendem clubes no Brasil. Atuar no exterior não é impeditivo para ser contemplada pelo programa. A lateral Letícia Santos defende o SC Sand, da Alemanha, desde 2017. Ela recebe o Bolsa Atleta na categoria Internacional (entre R$ 1.020 e R$ 2.500, a depender dos resultados obtidos e do nível da competição). Aos 24 anos, ela relembra que o dinheiro do programa, principalmente no início da carreira, chegou a ser a sua única fonte de renda. “Muitas vezes a gente não recebe salário ou ele é pouco. Foi importante em uma época em que os meus pais não podiam ajudar, para eu continuar indo aos treinamentos. Agora, o Bolsa Atleta tem me ajudado a auxiliar minha família também”, diz a jogadora.
AMADORISMO
Os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro Masculino de Futebol, para se enquadrar no Licenciamento de Clubes da CBF, precisam manter uma equipe de futebol feminino (tanto adulta quanto de base). A regra, no entanto, não garante a profissionalização da modalidade no País. A maioria das jogadoras é amadora. Apenas uma pequena parte tem contrato em carteira de trabalho, no regime CLT. Por isso, muitas atletas recebem dos seus respectivos times ajuda de custo somente em acordos pontuais de prestação de serviço para torneios e não têm salário fixo.
O Bolsa Atleta é considerado o maior programa de patrocínio individual para atletas do mundo. Em vigor desde 2005, já distribuiu mais de R$ 1,1 bilhão de acordo com dados da Secretaria Especial do Esporte, do Ministério da Cidadania
A zagueira Érika, do Corinthians, se vale do benefício do Bolsa Atleta desde 2007. Ela participou de toda a preparação para o Mundial até sexta, 7/6, quando foi cortada por lesão. “É um dinheiro de suma importância, que nos ajuda a comprar materiais, como chuteira, caneleira e roupas. Hoje, eu tenho carro, mas antes o dinheiro do Bolsa Atleta me ajudava também no transporte público de ônibus e metrô para ir aos treinos. Também ajuda na alimentação, já que a gente precisa muito de suplementos”, relata.
Marta, eleita pela Fifa a melhor jogadora do mundo por seis vezes, sendo cinco de forma consecutiva, também tem o Bolsa Atleta. A atacante do Orlando Pride, dos Estados Unidos, está inscrita na categoria Olímpica. Apenas seis atletas do elenco brasileiro que disputa a Copa do Mundo não são contempladas no programa Federal: Formiga, Daiane, Debinha, Kathellen, Luana e Ludmila. Elas jogam na Europa.
SOBRE O PROGRAMA
O Bolsa Atleta conta atualmente com 6.200 integrantes em cinco categorias. Até o fim do ano passado, estavam contemplados 3.058 atletas, mas em abril o governo do presidente Jair Bolsonaro publicou nova lista com mais 3.142 favorecidos. Assim, foram adicionados ao orçamento do programa R$ 70 milhões.
A previsão é de que o governo lance, ainda este ano, novos editais de seleção de atletas. As bolsas também devem passar por um processo de reestruturação, com reajustes de cerca de 10% nos valores do benefício. Levantamento da Secretaria Especial do Esporte aponta que o Bolsa Atleta já concedeu 63,3 mil bolsas para 26,5 mil atletas nos últimos 14 anos.
Nos Jogos Olímpicos do Rio, 77% dos 465 atletas da delegação brasileira participavam do programa. O Brasil conquistou 19 medalhas e somente o time de futebol masculino, que ganhou o ouro, não tinha atletas bolsistas.