A falta de tempo para brincar entristece e prejudica a infância e a juventude. Leia a análise da jornalista e escritora Kim Brooks, que investiga esse assunto
A jornalista e escritora Kim Brooks publicou recentemente no The New York Times um artigo sobre como a falta de tempo para brincar entristece e prejudica a infância e a juventude. “Como mãe e como escritora andei à procura de um culpado único”, escreve Kim. “Seriam as telas dos eletrônicos? A comida? A falta de ar fresco e tempo livre? O aumento do número de crianças superprotegidas e com compromissos demais? A cultura abrangente da ansiedade e do medo? Tudo isso pode contribuir, mas cheguei à conclusão de que os problemas de saúde mental e emocional de nossas crianças são causados por uma mudança no modo como as vemos e educamos e como isso transformou escolas, bairros e relações.”
A seguir, destaques do texto traduzido por Roberto Muniz para o Estadão Íntegra em português: bit.ly/kbrooks-livre-brincar
• Um estudo publicado pelo Journal of Abnormal Psychology concluiu que, entre 2009 e 2017, os índices de depressão subiram mais de 60% entre os jovens de 14 a 17 anos e 47% entre os de 12 e 13.
• A criação de filhos, antes vista como um trabalho necessário para o bem comum, transformou- -se num desafio para os pais, excetuando-se os mais ricos e privilegiados.
• Os filhos passam mais tempo confinados, os períodos escolares estão mais longos e organizados rigidamente e as crianças muito pequenas têm lição de casa mesmo com muitos estudos concluindo que isso é prejudicial.
• Testes padronizados e treinamentos substituíram o descanso, os almoços prazerosos, a arte e a música.
• A falta de recursos, incluindo o acesso a serviços de atendimento à saúde mental, à saúde em geral, à moradia acessível e a uma educação melhor, leva muitos pais a trabalhar mais duro que nunca.
• Para muitas crianças, quando o dia escolar termina não faz muita diferença. Elas passam tardes, fins de semanas e férias em atividades. Os pais trabalham.
CONVIVER É UM DESAFIO
Tali Raviv, diretora do Centro para Resistência Infantil, diz que muitas crianças atualmente têm dificuldade em conviver socialmente. Segundo ela, “as crianças hoje têm menos oportunidades de praticar o convívio – seja por viver em comunidades violentas nas quais não podem brincar na rua, seja por ser superprotegidas e não ter liberdade de ir até a esquina”. Elas não sabem “como começar uma amizade ou um relacionamento, o que fazer quando alguém as aborrece ou como resolver um problema”.
A QUESTÃO DOS ELETRÔNICOS
Qual o peso das telas dos eletrônicos e da mídia social no déficit social das crianças? Proibir ou limitar o tempo da criança na tela é suficiente? Não. As crianças se voltam para os eletrônicos porque não há mais oportunidades de interação humana real. As praças e os espaços onde elas aprendiam a ser pessoas sumiram ou se tornaram muito perigosas para quem tem menos de 18 anos.
DO QUE ELAS PRECISAM?
Alguma coisa precisa mudar, diz Denise Pope, cofundadora do Chalenge Success, uma organização baseada em Palo Alto, Califórnia, que ajuda escolas a melhorar a saúde mental das crianças. Segundo Denise, as crianças precisam:
• folgar mais
• ter almoços mais longos
• brincar livremente
• ter tempo com a família
• ter menos lições de casa e menos provas escolares
• ter mais ênfase no aprendizado social e emocional