As melhores produções internacionais dos últimos vinte anos. As escolhas são do crítico de cinema Luiz Carlos Merten
Os cinemas estão fechados. Mas, mesmo para quem atravessa a quarentena do novo coronavírus em home office, o tempo para ver filmes tende a ser maior – sobretudo porque os deslocamentos praticamente desapareceram. Para aumentar o repertório, um passo atrás. Aqui vai uma retrospectiva de filmes bons (internacionais), de 2000 a 2019; de ‘Dançando no Escuro’ a ‘Parasita’.
Nota: listas são arbitrárias (cada um tem a sua). Mas elas também são provocativas e instigantes.
Dançando no Escuro (2000)
Este musical de Lars Von Trier virou emblema das novas tecnologias que mudaram o cinema no século. Selma (Björk) é uma mãe solteira que migra da República Tcheca para os EUA na tentativa de mudar a sorte do filho, que é cego, e acaba sendo condenada à morte.
Moulin Rouge (2001)
Outro musical. A história de Satine (Nicole Kidman), mais deslumbrante que nunca, é na verdade a história de Christian. “There was a boy/A very strange enchanted boy…”. O máximo de artifício como forma de interpretar, senão retratar, a realidade.
Intervenção Divina (2002) e Kedma (2002)
Dois filmes e duas faces do mesmo conflito no Oriente Médio. No palestino Intervenção Divina, Suleiman e sua amada estão separados pela barreira israelense. Ele mora em Jerusalém e ela vive em Ramallah. No israelense Kedma, os judeus sobreviventes do Holocausto chegam de navio em busca da Terra Prometida. Expulsam os palestinos e começa outra diáspora.
A Melhor Juventude (2003)
A história de 40 anos da Itália por meio da ligação entre dois irmãos, Nicola e Matteo. A estrutura romanesca da literatura e do cinema no formato de uma série pioneira de TV, finalmente transformada em filme. Belo e maldito, Matteo coloca na tela o estigma das almas atormentadas. Sua última imagem é das mais belas filmadas.
O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei (2004)
O premiado fecho da trilogia do neozelandês Peter Jackson sobre a obra de JRR Tolkien. Além de prodigiosa lição de cinema narrativo, o filme usa novas tecnologias para produzir efeitos e fantasia e para criar um personagem pivotal, o Gollum.
O Segredo de Brokeback Mountain (2005)
O primeiro Oscar de direção de Ang Lee. No Oeste dos Estados Unidos, entre 1963 e 1983, a história de dois caubóis modernos que, após um breve contato sexual, seguem a vida marcados pela experiência. A homossexualidade tratada de forma adulta, Jake Gyllenhaal e Heath Ledger estão excepcionais.
Juventude em Marcha (2006)
Natural de Cabo Verde, Ventura é operário em Lisboa e vivencia o processo de especulação imobiliária no bairro de Fontainhas. O governo transfere a população, a comunidade articula-se e um mundo se move em diferentes direções.
Ratatouille (2007)
O ratinho que quer ser chef e o crítico que, numa cena memorável, encerra a busca proustiana pelo tempo perdido. Os novos processos digitais eliminam fronteiras, transformam fantasia em realidade e permitem projetar o espectador no rato. Coisa de gênio.
Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008)
O episódio intermediário da trilogia de Christopher Nolan sobre o Homem-Morcego é quase sempre considerado o maior filme de super-heróis. O vilão Coringa (Heath Ledger) é o lado maníaco e psicótico do herói. A tempo: no ano em que Clint Eastwood chegou de mansinho, ‘Gran Torino’ não foi o melhor do ano por um triz.
A Teta Assustada (2009) e O Segredo dos Seus Olhos (2009)
Urso de Ouro em Berlim, para Claudia Llosa e Oscar de melhor filme estrangeiro (hoje seria internacional) para Juan José Campanella. Peru e Argentina. A ameaça da guerrilha do Sendero Luminoso e a herança da ditadura militar.
Tio Boonmee (2010)
Palma de Ouro em Cannes para o tailandês Apichatpong Weerasethakul. Mais que um cineasta, ele se tornou um grande artista visual. O tio que está doente e vive cercado de fantasmas; a princesa que tem orgasmo com o peixe. Religião, encantamento, misticismo. Uma jornada para o maravilhoso.
A Pele Que Habito (2011)
O filme extravagante e brilhante de Pedro Almodóvar que os críticos menos amam: um cirurgião plástico se vinga fazendo uma cirurgia de mudança de sexo no homem que considera responsável pela morte da filha.
O Artista (2012)
A história é narrada como um filme mudo, com cartelas. O artista que desce ao fundo do poço, o cachorrinho e a mulher que o resgatam. O preto e branco suntuoso, a direção de arte, tudo nos conformes.
Azul É a Cor Mais Quente (2013)
As atrizes Léa Seydoux e Adèle Axerchopoulos são duas garotas que iniciam uma relação íntima. Os protestos nas ruas, a intimidade na cama. E, sempre, a questão de gênero, a linguagem, a afirmação da identidade.
Mommy (2014) e Adeus à Linguagem (2014)
Mommy, de Xavier Dolan, fala de uma família disfuncional, a mãe viúva e seu filho com déficit de atenção. Já Adeus à Linguagem, de Jean-Luc Godard, investiga como falam, o que dizem, o que querem as pessoas.
As 1001 Noites (2015)
Uma fábula portuguesa em que Miguel Gomes transforma a crise de Portugal numa riquíssima antologia de contos cinematográficos dividida em três partes. ‘O Inquieto’, ‘O Desolado’ e ‘O Encantado’. Coisa de gênio.
Elle (2016)
Isabelle Huppert, estuprada logo no início, inicia sua investigação. Quem? Nas suas delirantes fantasias científicas, nas abissais abordagens de aspectos mais sombrios da natureza humana, o diretor Paul Verhoeven foi sempre senhor da sua arte.
Moonlight – Sob a Luz do Luar (2017)
Hollywood e a Academia escolheram o cinema de gênero de Jordan Peele para celebrar a nova geração de autores afroamericanos. Um grande filme.
Roma (2018)
Alfonso Cuarón transformou a parceria do cinema com a TV, a Netflix, no fato consumado do ano. Uma crônica familiar suntuosamente filmada em preto e branco. Um novo conto da aia, com a história da doméstica da família do diretor.
Parasita (2019)
A história da família do subsolo que subverte a ordem na mansão dos ricos. Como tema, a revolta dos deserdados dominou o ano (‘Parasita’, ‘Os Miseráveis’, ‘Coringa’, ‘Bacurau’).
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