Segundo especialistas, a orientação deve começar em casa, com os pais, que precisam conduzir a situação com tranquilidade. Além de reforçar as dicas repetidas à exaustão, como lavar as mãos, utilizar álcool em gel e evitar contatos próximos, os ensinamentos devem ser em tom de conscientização
Os mais novos também podem contrair covid-19, mas a maioria dos casos é leve ou assintomática, ou seja, não apresenta manifestações perceptíveis da doença. Apesar disso, são capazes de transmitir e o risco aumenta a necessidade da educação preventiva. Elas e eles também têm, como todos nós, muitas dúvidas sobre a doença, o isolamento e os cuidados com a saúde – enfim, sobre o que estamos vivendo. Veja algumas respostas possíveis para as principais dúvidas na relação crianças e coronavírus.
CRIANÇAS SÃO MAIS RESISTENTES AO VÍRUS? - PARTE 1 O biólogo Fernando Reinach descreveu em sua coluna para o Estadão de 20 de junho um estudo em que cientistas descobriram que "pessoas com menos de 20 anos são duas vezes mais resistentes ao vírus que pessoas com mais de 20. Ou seja, o vírus tem o dobro de dificuldade de infectar quem tem menos de 20 anos. Portanto, há menos casos entre os jovens. Além disso, entre os que contraem o vírus, só 21% dos jovens entre 10 e 19 anos manifestam sintomas. Já nas pessoas com mais de 70, 69% apresentam os sintomas da covid-19. A conclusão é de que crianças e jovens são parcialmente resistentes e, em grande parte, assintomáticas". Sendo assim, como conter o espalhamento do vírus? (continua no próximo quadro)
Qual é a melhor forma de conversar com as crianças sobre o que estamos vivendo?
Respeitar a inteligência das crianças é fundamental na hora de conversar sobre o novo coronavírus. Pessoas entre seis e nove anos de idade já estão amplamente capacitadas para absorver esse tipo de conhecimento e compreender a mensagem. A conversa pode ser normal, com elementos lúdicos. A questão precisa ser tratada pelos pais e pela escola.
Sobre os hábitos de higiene, é bom ressaltar: além de reforçar sua importância a qualquer tempo da vida, inclusive para evitar outras doenças, é fundamental que os adultos deem o exemplo: sempre lavar as mãos com água e sabão, usar álcool em gel e, neste momento, usar máscara ao sair de casa ou se alguém de fora entrar em casa.
Quando a escola reabrir, é seguro mandar as crianças?
Caso a caso. Muitas instituições consideram a possibilidade de manter o ensino remoto para quem preferir não voltar ao sistema presencial, bem como adotar o esquema de aprovação automática. Mas as condições são desiguais e não existe reposta única. Há a questão dos vestibulares e do Enem, por exemplo. Quando as aulas voltarem, de todo modo, é importante que nossos filhos já estejam bem habituados com todas as medidas de higiene que já conhecemos e que podem ajudar a conter o espalhamento do vírus: lavar as mãos com água e sabão, usar álcool em gel e máscara e observar o distanciamento devem fazer parte da rotina. Mas são crianças e estarão reencontrando amigos. O ideal é que as escolas estejam bem preparadas para receber os estudantes de todas as idades, conversar sobre o que estamos vivendo, acolher suas dúvidas e reforçar os cuidados.
É verdade que as crianças são assintomáticas?
Muitas vezes, sim. Por isso precisam ficar afastadas de quem é do grupo de risco, como os avós. Outra coisa: na observação diária, se forem percebidos sintomas gripais, elas não devem ir para a escola. E a instituição precisa ser comunicada – sobretudo se houver confirmação de influenza ou da própria covid-19.
CRIANÇAS SÃO MAIS RESISTENTES AO VÍRUS? - PARTE 2 A descoberta de que as crianças são mais resistentes e assintomáticas demonstra, como explicam os autores do estudo descrito por Reinach, que "fechar escolas não é um fator importante para conter o espalhamento do vírus como imaginado inicialmente. Ao mesmo tempo, demonstra que controlar o espalhamento do vírus nas escolas é muito difícil pois a grande maioria das crianças infectadas não apresenta sintomas apesar de transmitir a doença. Essa descoberta vai dar muita dor de cabeça aos governantes que têm a responsabilidade de decidir se mantêm as escolas fechadas ou abertas nos próximos meses".
A exposição às telas me preocupa. Ao mesmo tempo, preciso trabalhar.
O uso de tecnologia começa a preocupar quando a internet passa a afetar outras atividades das crianças e dos adolescentes, como as horas em famílias, as tarefas escolares e os momentos de refeição. É importante prestar atenção se é só um consumo de conteúdo passivo, rolando a barra da tela de redes sociais, ou se a criança pesquisa assuntos de interesse. A internet pode ser usada de maneira destrutiva, que estimula o isolamento, mas há também a possibilidade de ser um uso criativo.
Meu filho trocou a noite pelo dia
A mudança da rotina do sono afeta o ciclo de liberação de hormônios. Essa ruptura pode causar irritação, ansiedade, alteração de humor e prejuízo de memória e de aprendizado. Além disso, a rotina inadequada de sono durante a quarentena pode dificultar o retorno às atividades quando o isolamento acabar.
Fontes: Luis Fernando Waib, médico infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia; Elson Asevedo, psiquiatra e pesquisador da Unifesp; Rodrigo Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria da USP; Marco Aurélio Safadi, infectologista do Sabará Hospital Infantil