Os jogos educativos online agora são usados para avaliar o desempenho das crianças e trazer um diagnóstico individual do aprendizado. Alinhados com a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) e a Prova Brasil, os
aplicativos podem complementar as aulas, mas é preciso cuidado para não pressionar as crianças por resultados ou tirar a autonomia do professor.
ELEFANTE LETRADO
Na região central de São Paulo, o Colégio Maria Imaculada usa a plataforma Elefante Letrado com as crianças em fase de alfabetização. O programa oferece 900 livros infantis, mede o tempo de leitura e avalia a interpretação
do texto por meio de um questionário. Uma vez por semana, Noemia Chamelet, professora do 1º ano do fundamental, apresenta um dos livros do aplicativo para leitura coletiva em aula e depois propõe como lição que os alunos leiam outra obra em casa. “Quando a criança termina a tarefa, recebo um relatório que me indica o tempo que ela levou para ler, se concluiu o livro, se entendeu o que leu. Com base nessa análise, sei em que ritmo cada um está e como trabalhar em sala para estimulá-los”, diz Noemia. O publicitário Alan Ristow, de 43 anos, conta que o filho Henrique, de 6, trocou joguinhos pelos livros digitais do Elefante Letrado e, nos últimos três meses, leu cinquenta livros pela plataforma.
MATIFIC
Em matemática, o Colégio Humboldt, na zona sul, adotou o Matific a partir do 3º ano do fundamental. Uma vez por semana, as crianças fazem exercícios em formato de jogo. A plataforma cria um relatório com o desempenho
individual e o geral da turma. “Entendemos o ritmo de cada criança, o que é difícil de detectar
na lição tradicional”, diz o coordenador Marcelo Milani.
DRAGONLEARN
Para Eliana da Silva, professora do 4º ano da Escola Estadual Idalino Pinez, o uso da plataforma russa DragonLearn, que também avalia dados com base em jogos de matemática, faz com que os alunos se concentrem mais do que em outras atividades propostas em sala de aula. “Eles não sentem que estão sendo
avaliados, entendem como se fosse uma brincadeira. Eles se empenham porque querem avançar para as próximas fases.” Com os exercícios, Eliana percebeu que parte dos 28 alunos da turma estava com dificuldade
na identificação numérica e, por isso, decidiu retomar o conteúdo que já havia sido ensinado em anos anteriores.
O QUE DIZEM ESPECIALISTAS
• “Alguns alunos podem se sentir desafiados, mas outros podem ficar frustrados ou ansiosos ao errar e, com isso, se afastar da disciplina. Também é preciso cuidado para não confundir o interesse da criança pela matéria
com um possível vício pelo jogo. (…) O livro didático passa por uma análise de uma equipe pedagógica. No aplicativo, nem sempre é possível saber qual é abordagem e se os enunciados trazem mensagem negativa.”
MONICA FRANCO, Superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação
• “A melhor forma de compreender as necessidades e dificuldades de cada criança, especialmente no início da vida escolar, é o olhar atento do professor. A criança precisa desenvolver uma relação próxima com o professor
para ganhar confiança e segurança na capacidade de aprendizagem. Ao delegar a responsabilidade dessa proximidade a uma ferramenta digital, corre-se o risco de rotular o aluno, fazer um diagnóstico raso e prejudicial.
(…) Tem de haver um cuidado para não reduzir o aprendizado apenas ao resultado acadêmico, deixando de lado o desenvolvimento integral da criança.”
NEIDE NOFFS, Psicopedagoga
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