Diariamente, o sindicalista Guilherme Amorim pedala 15 quilômetros entre o bairro Tenoné, na periferia de Belém, até a Marambaia. Ele diz que faz o trajeto em 45 minutos, meia hora a menos do que se usasse o transporte público. Embora reconheça os benefícios — ganho de tempo e qualidade de vida a prática da mobilidade ativa — Amorim reclama da ausência de fiscalização e dos problemas de mobilidade da cidade. “Faltam políticas públicas e há as que foram realizadas e deixadas pela metade, como é o caso do BRT e de ciclovias incompletas”, diz. “São poucas as campanhas de orientação ao ciclista. É preciso mais investimentos em ciclovia, principalmente nas periferias.”
Guilherme é cicloativista. Ele atua politicamente para garantir o uso da bicicleta como meio de transporte nas cidades, defendendo os direitos dos ciclistas e batalhando por condições dignas para que a presença desse meio de transporte seja cada vez maior.
Na capital paraense, a rede cicloviária tem pouco mais de 100 quilômetros, sendo que boa parte está na região central da cidade. Moradores das periferias sofrem com a falta de orientações educativas e de infraestrutura. Por outro lado, coletivos sociais trabalham a bicicleta como ferramenta de transformação social, inclusive com aulas para aprender a andar.
A também cicloativista Bia Viana defende a conexão com pessoas, cidades e natureza promovida pelo uso das bikes. “A construção de mais ciclofaixas e ciclovias ligando as periferias com o centro trará um incentivo bem significativo ao uso do modal”, afirma.
Pandemia — Melhora da saúde, menos uso de carro e vantagens para o meio ambiente são os argumentos mais comuns a favor das bicicletas. Com a chegada da pandemia, em março de 2020, o discurso incorporou a questão sanitária — as periferias teriam sido menos impactadas se existissem ciclovias e outras medidas de deslocamento sustentável nos bairros com populações mais pobres. Uma das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) é priorizar o pedal no ir e vir, porque “permite distanciamento social e proporciona o mínimo de atividade física necessária por dia.”
PARA QUE VOCÊ USA A BICICLETA? 75,8% - para ir de casa para o trabalho 61,9% - para lazer 55,7% - para fazer compras 25,4% - para ir até a faculdade *respostas múltiplas; foram ouvidas 7 mil pessoas, em 25 cidades brasileiras FONTE: pesquisa Perfil do Ciclista (2018)
O que dizem especialistas
Investir na bicicleta é investir na vitalidade urbana como um todo. Significa desacelerar as cidades e promover mais saúde para a população. Os números da violência no trânsito ainda são assustadores e o planejamento da infraestrutura cicloviária anda a passos muito lentos, com as periferias ainda muito necessitadas de ações efetivas
Aline Cavalcante, pesquisadora e diretora de participação pública da Ciclocidade, associação de ciclistas em São Paulo
É importante criar um plano de educação do poder público com equipe técnica e população, considerar as diferentes necessidades de segmentos da sociedade e propor uma estratégia. Um exemplo é a redução do uso do automóvel
Milene Pinto, 32, arquiteta e urbanista
Uma alternativa é que os gestores municipais criem pontos de compartilhamento de bicicletas interligados aos terminais hidroviários das cidades. Isso serve como boas alternativas para o ir e vir da população e redução dos grandes congestionamentos e aglomerações ocasionados no transporte público das cidades
Dorival Pinheiro, 46, arquiteto e mestre em conforto ambiental
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