A Feira Literária da Zona Sul (Felizs) foi criada em 2015 para popularizar a literatura na periferia. Realizada uma vez por ano, se consolidou e hoje é um dos principais eventos de literatura na cidade de São Paulo. A última edição ocorreu de 18 a 25 de setembro e reuniu atrações online e presenciais na região do Campo Limpo. Teve show da cantora Ellen Oléria.
Este foi o segundo ano que a Feira teve a maior parte da programação online, devido à pandemia do novo coronavírus. Algumas atrações presenciais, como a distribuição de livros em pontos de ônibus e uma amarelinha poética para crianças, foram pensadas de modo a evitar aglomerações.
Depois do encerramento, o Expresso na Perifa conversou com a produtora cultural Diane Padial e o poeta Binho. Os dois são idealizadores da Felizs e falaram da importância de pensar literatura nos bairros, mostrar o que existe de cultura na região e destacar o trabalho de artistas independentes.
“A criação da Felizs foi uma forma de juntar tudo o que a gente produz aqui e apresentar para o mundo”, diz Diane. “Ninguém vive sem a arte, seja ela qual for. Ter essa possibilidade de conexão com a arte, mesmo que seja online, é uma forma de existência. Outro ponto positivo é que, com a Internet, a gente alcança pessoas que estão em outros lugares.”
Ainda assim, a mudança da programação foi um desafio para os organizadores. O distrito do Campo Limpo tem histórico de problemas com o sinal da internet, o que prejudicou a transmissão em alguns momentos na edição de 2020, a primeira virtual. “Neste ano, decidimos que algumas atrações seriam ao vivo, como as conversas literárias, e outras seriam gravadas”, conta o poeta Binho. “Os shows, por exemplo, foram gravados antecipadamente”, diz. “É diferente de estar ao vivo porque a gente perde um pouco do contato, do fazer junto. Mas é um processo que estamos vivendo e aprendendo com os novos formatos.”
A arte em busca da existência — A cada edição, a Feira Literária da Zona Sul traz um tema diferente para a programação. Neste ano, a temática foi o verso “Existirmos: a que será que se destina?”, presente na música Cajuína, sucesso na voz de Caetano Veloso. A frase, para Diane, chama ao pensamento e à busca pela resposta do significado da vida. “Estamos vivendo as perdas, as mortes, a pandemia, tudo isso, mas a gente está aqui vivo, temos que nos destinar a algo, fazer uma reflexão”, emenda.
Em função deste momento de pandemia, de morte presente e descaso dos governantes, a gente queria trazer uma reflexão: por que estamos aqui e quais são os encaminhamentos que vamos dar para a nossa existência? (Diane Padial)
“Foi um tema bem existencial e foi pensado para este momento em que muitas pessoas estão precisando de apoio”, complementa Binho, que também é idealizador do Sarau do Binho, evento que acontece há 14 anos na zona sul de São Paulo e fez parte da abertura desta edição da Felizs.
Os artistas tiveram que se reinventar e se readequar. E a cultura faz parte de tudo isso, como um acalanto e, ao mesmo tempo, como uma provocação. É uma música que a pessoa ouve, uma série que ela assiste, um livro que lê ou um poema que escreve para aliviar um pouco nesses momentos (Binho)
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