A iniciação artística do carioca e morador de Niterói Alberto Pereira começou bem cedo. O pai, de quem recebeu o nome, tocava piano. A mãe, Solange, é “especialista em novelas”. E foi a irmã mais velha, Sylvia, quem mostrou a ele bandas e novos estilos musicais. Isso sem contar a pequena lousa em que ele gostava de desenhar. Na adolescência, Alberto participou de saraus, tocou violão, descobriu as próprias referências. Hoje, aos 32 anos, faz intervenções artísticas nas ruas do Rio de Janeiro. A técnica que usa é o lambe-lambe.
O primeiro trabalho do artista, em lambe, data de 2011. Foi uma forma de protesto contra aumentos na passagem de metrô no Rio de Janeiro. Nos anos seguintes, se dividiria entre a arte e os trabalhos paralelos em comunicação digital, design gráfico e como motorista de aplicativo. “Precisei seguir profissões e perspectivas pessoais que achei que seriam ‘corretas’ e ‘tradicionais’ para, aos 26 anos, questionar tudo”, diz Alberto. O talento para a arte crítica com impacto social falou mais alto.
Em 2017, a peça Jesus Pretinho traria uma releitura da representação cristã da Virgem Maria e de Jesus Cristo ainda bebê. “[A obra] Partiu de estudos que eu já vinha fazendo e das narrativas comuns ao meu trabalho, dessa brincadeira de inverter lógicas e signos impostos na sociedade desigual”, diz Alberto. E continua: “Talvez replicar isso pelas ruas e pelas redes tenha ampliado a minha visão e a de quem era atravessado por essa imagem. Gosto de ressignificar, questionar e criar imagens que nunca vi. Tem gente que sampleia sons, eu faço isso com imagens — e muitas vezes textos — em várias camadas.”
O projeto mais recente é 111: cento e onze, sobre João Cândido Felisberto, personagem central da Revolta da Chibata (1910), e seus companheiros. A obra de 11 metros de altura e nove de largura foi feita no chão da Praça Marechal Âncora, no centro do Rio. A ideia é mostrar como passamos por cima e sentamos sobre a nossa história.
VEJA TAMBÉM
- A arte urbana expressa (e impressa) nas periferias
- ‘A cultura de rua vem dos guetos’, diz pesquisadora
- Paulista Robinho Santana usa a pintura na luta contra o racismo
- No Rio de Janeiro, grafites celebram personalidades negras