6 fevereiro 2023 em Turismo
Além dos polos gastronômicos consolidados, a Capital vê a cena efervescer nas periferias
São Paulo é a terceira melhor cidade do mundo na categoria restaurantes, atrás apenas de Tóquio (Japão) e Seul (Coreia do Sul). Isso segundo o ranking do relatório “The World’s Best Cities” de 2023, realizado pela consultoria internacional Resonance Consultancy. A análise considera dados acerca de investimentos, qualidade de vida e viagens e tem categorias como vida noturna, museus, segurança e número de check-ins no Facebook — na qual a Capital paulista fica em quarto lugar.
De acordo com o relatório, “com a maior população de descendentes de italianos fora da Itália, a maior comunidade de descendentes de japoneses fora do Japão e uma grande comunidade do Oriente Médio, as delícias culinárias são uma certeza”. São Paulo também foi escolhida como a 33ª melhor cidade do mundo — um avanço em relação à edição passada, em que havia ficado em 44º.
Para todos os gostos
Maior capital da América Latina, São Paulo tem, segundo dados da Secretaria Municipal de Relações Internacionais, 30 mil bares em funcionamento e cerca de 20 mil restaurantes.
Existem opções para todos os gostos: no guia de estabelecimentos do site da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes Seccional São Paulo (Abrasel SP), por exemplo, eles estão divididos em 47 categorias, passando por hamburguerias, self-service, churrascarias, restaurantes italianos, tailandeses, indianos, peruanos, mexicanos e vegetarianos ou veganos.
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Quero receber!E, para os que não consomem produtos de origem animal, São Paulo é atualmente a cidade latina com o maior número de restaurantes veganos, de acordo com o ranking de uma pesquisa da plataforma americana Happy Cow e da organização britânica Veganuary.
Reconhecimento
A Capital paulista é ainda lar de nove locais premiados pelo Guia Michelin. Com duas estrelas, destacam-se o restaurante D.O.M, do chef Alex Atala, e o Ryo Gastronomia, do chef Edson Yamashita, de comida japonesa. Já o prêmio de uma estrela foi concedido a sete estabelecimentos: o Kan Suke, o Jun Sakamoto, o Kinoshita e o Huto, de cozinha japonesa, o Picchi, de culinária italiana, o Evvai e o Maní, da chef Helena Rizzo.
Outros 30 receberam o selo Bib Gourmand, uma categoria que reconhece casas que atendem aos padrões exigentes do guia enquanto servem pratos com um bom custo-benefício. Nesta categoria, estão locais como A Casa do Porco, o Arturito da chef Paola Carosella, a italiana Casa Santo Antônio e a libanesa Brasserie Victória.
Além de terem sido agraciados com estrelas Michelin, os nove restaurantes têm também em comum a localização. Estão em bairros mais centrais, como Itaim Bibi, Pinheiros, Moema, Jardim Paulistano e Vila Nova Conceição, considerados nobres. Mas, ainda que os destinos culinários da região central sejam mais conhecidos dos turistas e visitantes, responsáveis por restaurantes na periferia paulistana estão deixando marcas cada vez mais expressivas no que diz respeito à diversidade gastronômica da cidade.
É o caso de Thiago Vinícius de Paula da Silva, de 34 anos, um dos dois brasileiros que integram uma lista de 50 jovens que estão moldando o futuro da gastronomia, organizada pela World’s 50 Best Restaurants. Junto com a mãe, a chef Tia Nice, ele está à frente do Organicamente Rango, que fica na Vila Pirajussara, na zona sul, e busca estimular a geração de renda na região e difundir a alimentação orgânica e saudável. Em 2022, eles viabilizaram a distribuição de mais de 150 mil marmitas para 2.139 famílias dos distritos Vila Sônia, Taboão da Serra, Vila Andrade, Campo Limpo, Capão Redondo e Jardim São Luiz.
Segundo ele, a valorização da periferia tem despontado como uma tendência, com direito a roteiros gastronômicos das favelas da cidade de São Paulo que têm o potencial de criar uma cidade mais conectada e vão além de polos gastronômicos consagrados como a Mooca, a Liberdade e o Bom Retiro.
“Isso vem crescendo junto com a nossa capacidade de mostrar que São Paulo não é só Pinheiros, não é só Oscar Freire. É os nossos Jardins, mas é o Jardim Ângela, Jardim Rosana”, defende.
O processo, conta, é importante para alargar os horizontes de quem busca entender São Paulo, e tem repercussões econômicas e culturais que se estendem para além da culinária. “Temos 30 pessoas que trabalham no Organicamente Rango. Essas pessoas moram aqui (na região), deixam o filho na creche e vem pra cá, e isso tem uma importância gigantesca de qualidade de vida pro morador da periferia”, ressalta o empreendedor.
Direito à cidade
O sábado é o dia em que mais se observa pessoas de fora da comunidade nas mesas do restaurante. O local impressiona pelo sabor dos pratos — entre eles clássicos brasileiros como o baião de dois, a moqueca e a feijoada, inclusive em versões vegetarianas —, mas também, segundo Thiago, pelo tamanho e o valor acessível pago por ele.
Ao fortalecimento da economia local e a valorização da cena periférica, ele acrescenta que a inclusão desses locais no circuito gastronômico paulistano são uma forma de criar inclusão social. “Culturalmente, fortalece a questão do direito à cidade, né? Da mesma forma que nós queremos andar no centro sem parecer suspeito, a gente quer que as pessoas do centro também venham na nossa quebrada para poder comer aquele rango que alimenta não só o nosso corpo, mas nossa alma, para enfrentar os desafios do dia a dia”, pontua.