31 maio 2023 em Trabalho

Iniciativa impactou 6 mil pessoas entre Cidade Tiradentes e São Miguel Paulista em 2022

Mais que uma feira de alimentos; uma estratégia para comercializar a produção agrícola orgânica dos quilombos do Vale do Ribeira e combater a insegurança alimentar de áreas periféricas de São Paulo.

Essa é a missão da Quilombo&Quebrada, iniciativa que promove feiras de alimentos quinzenais nos bairros Cidade Tiradentes e São Miguel Paulista, na zona leste.

Tudo começou em 2020, em meio à pandemia de Covid-19, quando a Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira (Cooperquivale) e a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Instituto Socioambiental decidiram dar vazão à produção dos quilombos que deixou de ser entregue para a merenda escolar de municípios paulistas.

O resultado foi um plano emergencial de distribuição de alimentos na periferia, a semente para a criação da Quilombo&Quebrada — que ganhou forma em 2022.

O projeto é realizado pelo empreendimento de impacto social Kitanda das Minas e pela consultoria de inovação Mulheres de Orì, comandados pela chef Priscila Novaes, em parceria com a Cooperquivale e o Instituto Socioambiental.

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Há também o patrocínio da Fundação Tide Setubal. Considerando a equipe envolvida, as contratações e as famílias alimentadas, o projeto impactou cerca de 6 mil pessoas ao longo do ano passado — quando foram realizadas dez edições.

“As feiras são geridas por pessoas que estão na quebrada e esses alimentos são orgânicos, de cultivo tradicional, cultivo natural e vendidos a preços acessíveis”, explica Priscila. Segundo ela, a iniciativa foi pensada de forma estratégica para criar pontes entre o campo e a cidade com foco na ancestralidade.

“Isso é importante porque estamos conectando esses dois polos de cultura alimentar afro, que se distanciaram por conta de todo o processo de separação das pessoas pretas aqui no Brasil.”

A chef ressalta que, para impactar de forma significativa a qualidade de vida da população, é necessário sensibilizá-la sobre os alimentos quilombolas. “Quando se fala em alimento orgânico, imagina-se que o preço não é atrativo, que não vai ter variedade, que não é bonito. Conseguimos, com a variedade de alimentos e a qualidade deles, atrair esse público para a feira”, conta.

Além do trabalho de conscientização boca a boca, em que são abordadas as propriedades dos vegetais e as melhores formas de preparo, foram realizados vídeos que circularam nos locais das feiras e nas redes sociais.

Na Quilombo&Quebrada, é possível adquirir produtos como couve, alface, limão-rosa, mandioca, chuchu, repolho, alface, abóbora e banana-nanica. Depois de cada edição, a “xepa” é distribuída para as Cozinhas Solidárias do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que distribuem refeições gratuitas.

Alimento orgânico e tradicional

A Cooperquivale foi fundada em 2012 e abrange um total de cerca de 240 cooperados em 19 comunidades quilombolas dos municípios de Jacupiranga, Eldorado, Iporanga e Itaoca, no Vale do Ribeira.

De acordo com dados da cooperativa, durante o período pandêmico foram entregues mais de 240 toneladas de alimentos em ações de distribuição voltadas para famílias em situação de insegurança alimentar. Cerca de 31 mil pessoas foram contempladas pelas ações, entre famílias indígenas, quilombolas, moradores do Vale do Ribeira, do Vale do Paraíba e da Grande São Paulo.

Desde 2018, o Sistema Agrícola Tradicional (SAT) das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira é reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural brasileiro. O Iphan considera que fazem parte do SAT conhecimentos de origens africanas e indígenas, transmitidos por meio da oralidade e observação.

 

Serviço

Feira de alimentos Quilombo&Quebrada
Local: Galpão ZL (Rua Serra da Juruoca, 112, Jardim Lapena)
Dia: 03/06 (sábado)
Horário: das 9h às 15h

 

Raisa Toledo