Paixão nacional: o primeiro filme com atores da Turma da Mônica põe na tela figuras que há 60 anos povoam o imaginário dos brasileiros
LUIZ CARLOS MERTEN
O ESTADO DE S. PAULO
O filme Turma da Mônica – Laços acaba de entrar em cartaz. É dirigido por Daniel Rezende, desde sempre um fã e que participava da CCXP [evento de cultura pop] quando ouviu o próprio Mauricio de Sousa anunciar que suas criações – Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão etc. – ganhariam uma versão live action [filme com ator]. O trabalho seria inspirado na graphic novel de mesmo nome feita pelos irmãos Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi para o selo Graphic MSP. Rezende não vacilou. Entrou em contato com a editora e perguntou, simples e direto, se já havia um diretor. Diante da negativa, apresentou-se e disse: “Agora, tem”.
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Claro que houve discussão, negociação, mas um diretor com o currículo de Rezende impõe respeito. Mauricio de Sousa sempre quis ver seus personagens interpretados por atores. Para a realização de Turma da Mônica – Laços, a dúvida era se as crianças conseguiriam dar conta das emoções, da complexidade das figuras que há 60 anos estão no imaginário dos brasileiros, atravessando gerações.
Daniel Rezende: o diretor de Laços ganhou fama e foi indicado São Paulo, sexta-feira 28 de junho de 2019 | 21 ao Oscar como montador de Cidade de Deus,
de Fernando Meirelles. Do mesmo cineasta, ele montou
Ensaio Sobre a Cegueira, baseado no livro de José Saramago.
Rezende também dirigiu Bingo – O Rei das Manhãs
Houve um rigoroso processo de seleção de elenco. Mais de 7.500 crianças participaram. Rezende não as selecionou pela semelhança física, e sim pelo temperamento. Uma prótese foi providenciada para tornar sua Mônica dentuça, a maquiagem criou aquele efeito no cabelo de Cebolinha. Quando o próprio Mauricio de Sousa, apresentado aos atores, aprovou-os, Rezende relaxou. “Sabia que não conseguiria satisfazer todos os fãs. Guiei-me pelo criador. Se o pai havia reconhecido suas crianças, quem seria contra?”
Kevin Vechiatto, o Cebolinha, era o único com experiência. “Tleinei muito para tlocar as letlas”, ele diz, brincando. E o cabelo? “Foram semanas de testes com cabeleireiros e, depois, todo dia, eram pelo menos 20 minutos de maquiagem só para deixar daquele jeito.” E Giulia Benite, a Mônica? “Minha irmã sempre quis ser atriz, e acho que foi isso que despertou meu desejo de também ser. Tive mais sorte que ela. Fui escolhida para fazer a Mônica, já estou comprometida com novos projetos. E a minha irmã não ficou magoada por isso. Tem me dado todo apoio. A hora dela também vai chegar.” Sobre a personagem, diz – “Mônica sou eu. Aquela determinação, a coragem de se lançar, conheço bem esse comportamento.”
Sabia que não conseguiria satisfazer todos os fãs. Guiei-me pelo criador.
Se o pai havia reconhecido suas crianças, quem seria contra?”
Daniel Rezende, diretor de ‘Turma da Mônica – Laços’
A pergunta que não quer calar – para Daniel Rezende. Por que a Turma da Mônica? “Um pouco pelo mesmo motivo pelo qual quis fazer Bingo. O Brasil parece que tem vergonha de sua cultura pop. Quem não conhece a Turma da Mônica? Pelo menos três gerações já cresceram com ela e seus amigos.” Justamente, a amizade. Ao basear-se na graphic novel de Vitor e Lu Cafaggi, Rezende não estaria buscando restaurar laços? “Pode até parecer pretensioso num filme tão singelo, familiar, mas é isso, sim. Gostaria que as pessoas, o público, sentissem esse afago.” O filme tem a trama familiar e a aventura, que envolve o sequestro do cão de Cebolinha e leva os amigos a se unir para descobrir o que aconteceu com Floquinho.
No longa anterior, Bingo buscava um palco, seja na TV ou na sua igreja, como pastor. Cebolinha também busca um reconhecimento, e no final, olha o spoiler, ele vem – como animação. “Não tinha pensa – do assim, mas faz todo sentido, como você está dizendo”, acrescenta o diretor paulistano.
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