Em que pé estão as coisas nas redes pública e particular? Desde a interrupção das atividades presenciais por causa da covid-19, sobram perguntas e aumenta a ansiedade de famílias e estudantes. Veja um resumo da situação
SETEMBRO
O governo estadual prevê que as aulas sejam retomadas em 8 de setembro, de forma gradual. O plano é liberar primeiramente que 35% dos alunos voltem às escolas e depois 70%, até chegar nos 100%. Para isso, todas as regiões paulistas precisam ficar ao menos 28 dias consecutivos na fase amarela de flexibilização para reabertura (em que há menor taxa de infecção e ocupação de leitos). Um boletim será divulgado nesta sexta, 24. O próximo sairá em 4 de agosto.
VIDA REAL
A maioria das escolas brasileiras admite não estar preparada para voltar em novo formato pós-pandemia, o que certamente vai exigir uma boa parcela de ensino a distância. Pesquisa do Instituto Crescer mostra que apenas 22,6% das escolas em geral acreditam estar preparadas, do ponto de vista da infraestrutura tecnológica, para fazer frente aos novos tempos. A maioria, 67,9%, diz que ainda está correndo atrás do atraso e investindo em equipamentos. O restante descarta essa possibilidade e não acredita que sejam necessários novos investimentos, pois essa demanda “vai passar”. Leia mais nesta reportagem de Marcia de Chiara
REDE PARTICULAR
Colégios particulares de São Paulo têm preparado plantões de dúvida e reforço entre alunos – e muitos descartam a aprovação automática. As escolas têm criado comitês, contratado consultorias e adiantam obras.
Sobre aprovação e reprovação, não há consenso. Por um lado, entendem que a reprovação deve ser uma medida extrema, mesmo antes da pandemia, por outro temem que um discurso de aprovação automática na escola acabe desestimulando os alunos que estão engajados nos estudos. Para os que não conseguiram se adaptar ao formato das aulas a distância, os colégios têm preparado plantões de dúvida e reforço.
ACOLHIMENTO
Para o pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Justin Reich, responsável pelo estudo que acompanha as escolas americanas durante a pandemia da covid-19, o papel da educação neste momento deve ser mais de acolhimento do que de passar novos conteúdos. “Na volta às aulas, o ideal seria que as escolas se concentrassem em celebrar a resiliência e o aprendizado dos alunos durante o isolamento”, diz. Nesta entrevista para Renata Cafardo, Reich fala, entre outros assuntos, do papel do ensino remoto neste momento.
REDE PÚBLICA
A situação é diferente. As escolas públicas têm aval para realizar mudanças, mas as decisões devem ser tomadas pensando em cada aluno, por causa das realidades sociais distintas.
Sobre aprovação e reprovação, não há definição. O Brasil tem um dos maiores índices de reprovação do mundo, o que aumenta o risco de evasão. Professora de Língua Portuguesa e Tecnologias em uma escola estadual em Votorantim, no interior paulista, Cristiane Strieder ainda calcula o impacto da pandemia na rotina escolar. Parte dos estudantes não tem acesso ao computador. Outros se envolvem nas aulas online, conversam com professores por aplicativos até mesmo à noite e nos fins de semana. “E tem os que não frequentam um plantão de dúvidas, não conversam conosco. Acho que esses teriam de refazer.” Ela teme que, em um retorno das atividades normais, as defasagens entre os estudantes acabem dificultando o trabalho dentro de sala de aula. “Não é reprovação no sentido de punição, mas de recuperação para que consigam complementar os estudos”, diz Cristiane.
REDE MUNICIPAL
O prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), encaminhou na quarta-feira, 15 de julho, um projeto de lei com as especificações para o retorno da rede municipal de ensino. O texto, que ainda precisa ser votado pela Câmara Municipal, prevê medidas de apoio a estudantes, professores, servidores e instituições de ensino, assim como auxílios financeiros e aprovação automática dos alunos de todas as séries. Uma das propostas é a “recuperação das aprendizagens” para todos, que poderá ocorrer no contraturno em que o estudante estiver matriculado. Também está prevista a implementação do Programa São Paulo Integral, que amplia o tempo de permanência dos alunos por adesão e/ou por indicação da Secretaria Municipal de Educação.
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO Um parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) recomenda “fortemente” que redes de ensino e colégios, de todo o Brasil, evitem reprovar alunos em 2020. Sugere também diversificar as estratégias de avaliação, priorizando competências de leitura, escrita, raciocínio lógico, comunicação e solução de problemas. Ainda que não seja uma norma – cada escola e rede de ensino tem autonomia para decidir reter ou não os alunos – o parecer do CNE funciona como um norte para eventual retorno às atividades presenciais. “Claro que algumas escolas tiveram condições de desenvolver atividades online, mas essa não é a marca geral. E não se pode dizer que ocorreu, nem mesmo em todas as particulares. A recomendação é prestar grande atenção para evitar a sensação de fracasso”, diz a relatora do parecer no CNE, Maria Helena Guimarães.
Com reportagens de João Prata, João Ker, Julia Marques e Renata Cafardo
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