No último sábado, (7/10), o Hamas, movimento de resistência palestino, lançou um ataque surpresa e sem precedentes a Israel. O bombardeio deixou centenas de mortos e feridos. O grupo também sequestrou civis como reféns. Ao reivindicar os ataques, o Hamas afirmou se tratar de uma ofensiva para a retomada de território.
Apesar do estopim no fim de semana, em entrevista, Sâmia Teixeira, jornalista e pesquisadora sobre a Palestina, explica que as origens do conflito entre Israel e Palestina precedem o combate atual, expõe a realidade dos palestinos e similaridades com o Brasil.
NMP: Qual o fundamento do ataque do Hamas à Israel?
O ataque do Hamas foi uma resposta inevitável de um longo processo de escalada de violência, isolamento, humilhação e agressão cotidiana dos povos palestinos que vivem sob um regime de apartheid discriminatório.
NMP: Pode explicar melhor o que é o Hamas?
O Hamas é uma organização política e o único instrumento militar do Estado da Palestina, que não possui exército ou aparato militar que dê conta de enfrentar uma das maiores e mais bem equipadas potências militares do mundo. O grupo não é uma organização com uma representatividade expressiva, portanto não é correto afirmar que o Hamas é um sinônimo de povo palestino. Da mesma maneira, não é correto julgar ou denominá-lo apenas como terroristas.
NMP: A disputa que estamos acompanhando é atual? Qual a realidade da população palestina?
O povo palestino sofre por longos anos um sistema de apartheid e de discriminação, com leis exclusivas. É uma população extremamente jovem e totalmente abandonada, cercada militarmente, sem direito à mobilidade, dependentes do recebimento de doações da Organizações das Nações Unidas (ONU), sem acesso à água potável ou a serviços básicos de saúde. Além do mais, o povo palestino pode ser detido sem ter uma acusação formal, nas chamadas “prisões administrativas”.
Percebemos Israel cada vez mais fortalecido na região, ganhando o apoio de grandes potências mundiais e enriquecendo o setor militar importando e exportando armamento. Vale ressaltar que Israel, nos últimos anos, tem atacado constantemente territórios palestinos, não somente Gaza, e violado importantes direitos humanos, no entanto a imprensa e a comunidade internacional, nunca denominaram tais ataques como terroristas.
NMP: Quem são as pessoas mais afetadas nesta guerra?
Toda essa situação impacta duramente a vida de mulheres e crianças palestinas. Dados do Centro Palestino de Estudos (PUC/SP) mostram que em 2022, as autoridades israelenses prenderam sete mil palestinos, pelo menos 164 eram mulheres e 865 eram crianças. São dados alarmantes que dizem respeito a esse sistema autoritário e discriminatório israelense. Outro dado da Defense for Children, diz que uma média de 500 a 700 crianças passam por cortes militares israelenses sem direito a um julgamento justo.
NMP: Como o conflito está relacionado com a violência brasileira?
Enquanto Israel mata os povos palestinos, aqui no Brasil quem morre é a população preta, pobre e periférica. Por isso acho importante saber dessas relações e compreender essas realidades para que possamos fortalecer nossas percepções de mundo, nossas lutas e maneiras de resistência. Durante o Governo de Jair Bolsonaro, o ex-presidente sempre utilizou do discurso extremamente violento, policialesco e alinhado à política israelense de violência sistemática e de limpeza étnica na Palestina. Nos últimos anos, o Brasil também tem colaborado com Israel, participando das chamadas “feiras da morte”, eventos de tecnologia militar que vende e expõe material bélico.