Com a crise econômica e a disparada da inflação — que corroeu a renda sobretudo dos mais pobres —, além da pandemia, a pobreza extrema voltou a ser uma realidade para boa parte da população. O desemprego e o trabalho informal dobraram; mais da metade dos brasileiros declararam estar em situação de insegurança alimentar.
Vimos metrópoles como São Paulo virarem verdadeiros acampamentos a céu aberto, e famílias que haviam ascendido socialmente serem empurradas de volta para a pobreza, perderem suas casas e revirarem o lixo em busca de alimentos.
Enumero essas circunstâncias não para deprimir o leitor, mas para dar a dimensão adequada do problema que é a pobreza no Brasil. É urgente que a sociedade civil se mobilize para combatê-la. Esse reconhecimento é um salto cognitivo, o primeiro passo para qualquer mudança, um convite a cada um de nós. Afinal, num cenário tão crítico, cada ação faz a diferença, e cada tentativa de trabalhar pela diminuição do sofrimento humano tem um valor singular.
Em 2021, nós, da Gerando Falcões, expandimos nossa atuação nesse campo de combate. Encerramos o ano presentes em mais de 1.700 favelas de todo o Brasil. Em comparação a 2020, quando atendemos 289 comunidades, isso representa um salto de quase 500%.
Em 2021, capacitamos mais de 1.700 jovens e 240 líderes sociais
Formamos mais de 1.700 jovens nos nossos cursos de capacitação, e 240 líderes sociais na Falcons University. Esse último dado é especial por dois motivos. Primeiro, por representar um número quatro vezes maior que no ano anterior, quando formamos 63 líderes. Mas, principalmente, porque cada um desses formados sai de lá com um projeto para transformar sua realidade local por dentro, e com os recursos e apoio necessários para viabilizá-lo.
Esses líderes são sementes de algo maior, o primeiro passo de um círculo virtuoso de colaboração no combate à pobreza
No ano passado, também demos início ao nosso projeto mais ambicioso até o momento: implementar no país a primeira Favela 3D — Digna, Digital e Desenvolvida. Trata-se de um plano multissetorial, com participação do governo e da iniciativa privada, que começa na transformação por completo da Favela Marte, em São José do Rio Preto (SP). O foco está na melhoria da qualidade de vida dos moradores.
É a culminação da nossa visão de mundo, que alia o trabalho de base tradicional — construir casas, regularizar o uso da área e melhorar a infraestrutura — à emancipação dos seus moradores num nível mais profundo, capacitando-os e reorganizando a forma como o dinheiro circula no território, interrompendo ciclos de pobreza por meio de um desenvolvimento personalizado para o local. O projeto tem como foco sua mandala que conta com os seguintes pilares: moradia digna, acesso à saúde, direito à educação, cidadania e cultura de paz, primeira infância, autonomia da mulher, geração de renda e cultura, esporte e lazer.
Em 2021, firmamos parcerias para replicar a Favela 3D em mais três favelas: a Vergel do Lago, em Maceió, onde também inauguramos um centro de referência; no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, a primeira favela do Brasil; e na Boca do Sapo, cidade próxima à na Zona Leste de São Paulo.
Também no ano passado, relançamos a campanha Corona no Paredão e arrecadamos mais de R$ 74 milhões em doações. Esse valor foi convertido em cestas básicas digitais e entregue a chefes de família. Com isso, conseguimos beneficiar mais de 1,5 milhão de pessoas em situação de insegurança alimentar.
Por fim, arrecadamos R$ 4,9 milhões na nossa frente de varejo social. Formada por bazares físicos e digitais, ela tem como objetivo gerar sustentabilidade financeira para os projetos sociais, formar e capacitar jovens da favela, além de possibilitar o acesso a bens de consumo para população de baixa renda. Todo o valor arrecadado é revertido para ações da Gerando Falcões.
Para 2022, temos objetivos de expansão ainda maiores, e já estamos trabalhando para colocá-los em prática. Queremos chegar a 44% das favelas brasileiras e impactar a vida de 590 mil pessoas.
A pobreza é um problema complexo e multissetorial, mas não é insolúvel e não deve ser naturalizada. O que ela exige é uma mudança sistêmica, que combine os poderes do Estado, do mundo empresarial e do terceiro setor, embasada em educação, cidadania e desenvolvimento econômico.
Na Gerando Falcões, confiamos na nossa eficiência, velocidade e capacidade de execução para transformar a pobreza da favela em peça de museu, antes de Marte ser colonizado.
Ver essa foto no Instagram
VEJA TAMBÉM
- Coluna Gerando Falcões: ‘Cada um de nós pode ser um herói’
- O que estamos fazendo pelas vítimas das chuvas (e como você pode ajudar)