Alta dos preços, aumento de desemprego e economia estagnada preocupam banco mundial
A inflação continua sendo pauta recorrente no mercado financeiro, mas, mesmo para quem não acompanha os noticiários diariamente, dá pra sentir os efeitos inflacionários no bolso em cada ida ao supermercado: está tudo caro.
E essa não é apenas uma percepção do cidadão comum. A expectativa dos economistas para o fechamento do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano subiu pela segunda semana consecutiva, passando de 5,88% para 5,91%, de acordo o Boletim Focus, divulgado na última semana de novembro pelo Banco Central.
O IPCA é considerado o indicador oficial da inflação no Brasil, pois mede a variação dos preços de produtos e serviços consumidos pelas famílias brasileiras que possuem renda mensal de 1 a 40 salários mínimos.
Enquanto os preços sobem, o salário mínimo estagnou e o desemprego só aumenta. De acordo com uma pesquisa divulgada em novembro pelo Serasa Experian, a causa principal do endividamento no país é o desemprego. Pelo 9º mês consecutivo, a inadimplência aumentou no país: são mais de 68,39 milhões brasileiros endividados.
Com um cenário de economia estagnada e a inflação aumentando, muitos especialistas alertam sobre uma possível estagflação no Brasil.
O QUE SIGNIFICA ESTAGFLAÇÃO
A explicação para a origem da palavra é simples: estagnação + inflação = estagflação. Porém, existem vários fatores que devem ser considerados para definir se um país está ou não passando por um período de estagflação. Apesar de não existir um cálculo específico, três principais indicadores são utilizados: Produto Interno Bruto (PIB) baixo, Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alto e aumento da taxa de desemprego do país. A estagflação pode acontecer quando esses três elementos estão presentes em um mesmo período, colocando o país em uma grande recessão econômica.
Apesar de a palavra não estar na boca do povo, a estagflação está longe de ser um termo novo. O termo em inglês stagflation (stagnation + inflation) foi utilizado pela primeira vez em 1965 pelo político britânico Iain Macleod e ganhou ainda mais força na década de 1970, com o 1º Choque do Petróleo, nos Estados Unidos.
Quando olhamos para o panorama do Brasil, a primeira grande estagflação data do começo dos anos 80, em meio à crise da dívida brasileira e ao 2º Choque do Petróleo, iniciado em 1979. Já o fenômeno mais recente de estagflação em nosso país ocorreu entre 2015 e 2016, quando o governo buscava equilibrar o combate à inflação com uma política nacional de estímulo ao consumo.
Mas, afinal, estamos passando por um período de estagflação?
Quando analisamos um contexto global, surge um alerta. De acordo com um levantamento feito em novembro pelo Bank of America (BofA), um dos maiores bancos estadunidenses, a ideia de uma possível recessão econômica já preocupa o mercado. 92% dos entrevistados apostam em um cenário de crescimento global abaixo da tendência, combinado com uma inflação elevada, em meio à alta de juros, promovida em economias desenvolvidas para combater a alta de preços.
Na Europa, vários países enfrentam situação parecida. A inflação da Alemanha, por exemplo, é a mais alta da série histórica desde que o país passou a integrar a zona do euro; sem falar na crise energética que atingiu a União Europeia, gerada, principalmente, pela guerra na Ucrânia.
No Brasil, apesar da inflação acelerada e altos níveis de desemprego, para os especialistas, ainda é cedo para se falar em um processo de estagnação. Isso porque o terceiro elemento para se chegar a essa conclusão é o Produto Interno Bruto do país e tudo indica que o PIB brasileiro vem crescendo acima das projeções do mercado.
Como a estagflação afeta o dia a dia?
O governo tende a adotar uma série de medidas para conter a inflação e uma delas é a elevação da taxa de juros. Em outubro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano. Esse é o patamar mais alto desde novembro de 2016, quando a taxa básica estava em 14% ao ano.
Pode até ser contra intuitivo, mas quando a inflação está alta, a principal ferramenta utilizada é o aumento dos juros. A intenção é reduzir o consumo e estimular uma queda nos preços. Os efeitos dessa medida já chegaram ao bolso do consumidor: para se ter uma ideia, no mês de outubro, os juros do cartão de crédito subiram quase 9%, atingindo 399,5% ao ano.
Como driblar os impactos de uma possível estagflação?
Separamos algumas dicas que podem ajudar a contornar os impactos de uma possível estagflação no bolso dos consumidores:
→ Faça um planejamento financeiro: independentemente do período, seu dinheiro precisa de uma direção, por isso, ter um planejamento é essencial para estimar, registrar, categorizar e avaliar gastos e investimentos. Assim, você consegue decidir em quais áreas da sua vida você precisa economizar ou gastar mais, por exemplo.
→ Quite as dívidas: nem todas as dívidas são negativas, mas as dívidas do cartão de crédito e do cheque especial são consideradas ruins. Por isso, é importante se livrar dessas dívidas o quanto antes. Além disso, aproveite para dar prioridade ao pagamento das dívidas que têm taxas de juros mais altas.
→ Monte a reserva de emergência: sabemos que, em momentos de incertezas financeiras, guardar dinheiro se torna ainda mais difícil, mas é justamente nesse momento que ter uma reserva de emergência é essencial para não se endividar, principalmente em situações de desemprego.
→ Invista em aplicações que protegem o dinheiro da inflação: se você tem dinheiro investido, saiba que a inflação em alta pode corroer o seu patrimônio. A notícia boa é que existem opções de investimento que evitam que o dinheiro aplicado se desvalorize com o passar do tempo.
Apesar de não termos passado por períodos de estagflação nos últimos anos, a situação que o Brasil enfrentou com a crise da pandemia de Covid-19 mostrou alguns dos sinais de como a estagflação pode impactar o dia a dia das pessoas, como instabilidade econômica, preços altos e desemprego. Tudo isso evidencia a importância de se ter bons hábitos financeiros para se proteger dos impactos de crises econômicas.