O artista Robinho Santana atendeu a videochamada da reportagem quando pintava a figura do rapper Enéas Enézimo em uma parede de sete metros de altura no Sesc Santo André, na região metropolitana de São Paulo. Enézimo morreu de covid-19 em 2020, aos 46 anos.
Não foi fácil para Robinho chegar alto e alcançar pessoas de diferentes lugares por meio de suas ilustrações. “Se você for fazer uma relação de onde vim e a educação que tive na escola, eu estar neste espaço é muito significativo. Foi um processo de anos para me aceitar. Sempre fui artista, mas não acreditava”, diz.
Se você fizer a relação de onde vim e a educação que tive na escola, eu estar aqui é muito significativo
Cria do bairro de Jardim Ruyce, em Diadema, ele atribui muito da dificuldade de se reconhecer como artista à ausência do ensino de arte no currículo escolar. “Somos resistência porque viver de arte no Brasil é algo que não foi mostrado para a gente.”
Filho de Josefa Santana, conselheira tutelar, e Vicentinho da Silva, ex-metalúrgico e atual deputado federal pelo PT, antes de subir no andaime Robinho formou-se em design, fez tirinhas em jornal e peças de publicidade e enfrentou preconceito. “Teve casos de fazer propostas de ilustração com personagens negros, mas alguém trocava por brancos. Às vezes, sem explicação”, conta.
Aos 30 anos, fez a primeira exposição de arte. “Teve uma importância para além de mim. Outras pessoas se reconheceram nela e isso me deu uma energia grandiosa para entender que queria fazer da minha vida.”
O primeiro mural foi pintado por Robinho na capital paulista, na Avenida 9 de Julho, e retrata um pai segurando uma criança. Ambos negros. “A gente está ligado que os exemplos de pessoas negras mostrados na TV ou em qualquer outra mídia durante anos eram muito negativos. Então ali eu tentei ressignificar essa imagem colocando o pai negro como algo positivo e potente”, explica.
A gente está ligado que os exemplos de pessoas negras mostrados na TV ou em qualquer outra mídia durante anos eram muito negativos. Então ali eu tentei ressignificar essa imagem colocando o pai negro como algo positivo e potente
Em Belo Horizonte, Robinho fez em 2020 uma das maiores empenas grafitadas no Brasil: em cerca de 2 mil metros quadrados, a arte Deus é Mãe faz uma homenagem às mães pretas do país. O trabalho teve a colaboração de pixadores locais e repercutiu mundialmente – mas, de novo, veio o que ele chama de falta de respeito. A Polícia Civil de Minas Gerais abriu investigação contra os artistas por um suposto crime ambiental na produção da obra. O inquérito foi arquivado e a pintura continua lá. “Isso só mostra que as pessoas não respeitam e não entendem a cultura periférica brasileira.”
Recentemente, Robinho esteve de novo em Diadema para imprimir na lateral de um prédio na Fábrica de Cultura a ilustração de um jovem negro com a camisa cobrindo o rosto, um chapéu de formatura na cabeça e diploma na mão.
A obra é especial para o artista porque a mensagem, além de estar no lugar em que ele nasceu e foi criado, estimula o debate da importância da educação para que pessoas negras e periféricas ocupem diferentes espaços. “Poder voltar e fazer um trabalho gigantesco, depois de ter pintado em Belo Horizonte e no Centro de São Paulo, é olhar e ressignificar meu passado”, finaliza.
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