O dia 23 de julho de 2022 entrou para a história da literatura no Brasil — em especial, a literatura produzida por autoras negras
Um grupo de escritoras se reuniu nas escadarias da rua 13 de maio, no bairro do Bixiga, centro de São Paulo, para participar de uma fotografia emblemática. O ato do dia 23 de julho foi organizado pelo coletivo de escritoras negras Flores de Baobá e acrescentou ao recorte de gênero a distinção racial. O ato ocorreu pouco mais de um mês depois do dia 12 de junho, quando mais de 400 autoras mulheres foram fotografadas na Praça Charles Müller, em frente ao Estádio do Pacaembu, durante a Feira do Livro promovida pela “Revista Quatro Cinco Um”.
Eu estive nos dois eventos, ambos reconhecidamente históricos e importantes. No primeiro, porém, das mais de 400 mulheres presentes só 30 era negras. Menos de 10%. Surgiram dali um grupo de mensagens para que as autoras pretas se fortalecessem e a ideia da reunião das escritoras para marcar, também, o Julho das Pretas, uma agenda em celebração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha, comemorado no dia 25 de julho.
“A escrita de mulheres negras é ancestral, mas o título de escritoras é negado a elas constantemente. O coletivo Flores de Baobá quer com essa foto mostrar que existem muitas escritoras negras e que o cenário da literatura brasileira também é composto por essas mulheres”, diz um trecho do convite para a participação na foto do Bixiga.
As fotos das autoras mulheres na Praça Charles Müller e das escritoras negras no Bixiga são inspiradas em retrato feito nos Estados Unidos em 1958 e intitulado Um Grande Dia no Harlem, quando o fotógrafo Art Kane registrou um grupo de 58 músicos de jazz
“Daquela foto a gente pensou nessa e o resultado foi incrível”, afirma Mari Vieira, que integra o Flores de Baobá. “Sabemos que temos mais escritoras negras do que as que estão aqui presentes. Mas a gente sabe que a nossa chamada repercutiu, então outras ações vão florir. Essa alegria é imensa.”
Nós, escritoras negras de diferentes regiões de São Paulo, até de outras cidades e estados, começamos a chegar por volta das 10h. A fotógrafa convidada, Anna Carolina de Souza Dias, do coletivo Fridas Comunica e Fotografia, fez o registro oficial por volta das 11h.
Esmeralda Ribeiro, que também faz parte do Flores de Baobá e é uma das fundadoras da série literária Cadernos Negros, lembrou que nas décadas de 1980 e 1990 não existia acesso às redes sociais e muitas mulheres negras que escreviam não se conheciam. “Essa movimentação tem 45 anos, de trazer mais mulheres negras para que escrevessem, publicassem, trouxessem seus textos, seu corpo, o que elas pensavam. Os homens negros falavam da gente, mas a gente queria falar por nós. Esse momento, de escrever e falar da gente, dos nossos sentimentos, das nossas emoções, nossas relações afetivas, isso é importante”, conta Esmeralda.
“A nossa luta é pela nossa liberdade enquanto escritoras, seres humanos, brasileiras, mulheres negras, em uma potência que é muito forte e que é negada pela sociedade”, diz a autora Vera Campos. Para ela, estar no Bixiga com a possibilidade de abraçar suas iguais foi, além de uma alegria, uma forma de fortalecimento mútuo. As escritoras Bruna Cristina e Samira Calais reforçam a emoção e a importância do momento para elas e para a sociedade. “É meu primeiro livro, minha primeira escrita, eu nunca imaginava estar aqui entre tantas potências”, relatou Bruna. “Um dia histórico para guardar no nosso coração para sempre”, completa Samira.
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Mulheres que brilham e inspiram !!
Mulheres Negras que Brilham e Iluminam !!
Mulheres Pretas que brilham !!
Mulheres negras que empoderam as mulheres negras que as sucedem esse deveri ser o título e a dimensão exata dessa luta.
Foi muito potente e inspirador esse encontro, sou muito grata por ter feito parte desse momento.