11 outubro 2022 em Direitos Humanos E Cidadania

Projeto premiado presta atendimento na Vila Prudente e em Sapopemba

Todas as segundas-feiras, às 15h30, mulheres vítimas de violência se reúnem para reescreverem suas histórias no grupo Crônicas de Maria, atividade desenvolvida com quem usa substâncias psicoativas e está em acompanhamento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Álcool e Drogas II Sapopemba, na zona leste de São Paulo.

Segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), “a iniciativa é voltada para pacientes que vivenciam ou vivenciaram violência em algum momento de suas vidas, seja sexual, psicológica, moral, física, patrimonial, abandono familiar ou discriminação social”. Não há a exigência de que as vítimas tenham medida protetiva contra o agressor para integrar o grupo.

Mais de 50 mulheres já foram atendidas desde que foi criado, em setembro de 2021, pela enfermeira Karoline dos Santos Germano e pelas terapeutas ocupacionais Juliana Aureana Leal e Tatiana Natalino Vilches.

O Crônicas de Maria leva esse nome porque usa uma metodologia de acolhimento e fortalecimento por meio de escrevivências, metodologia proposta pela escritora Maria Conceição Evaristo. Cada nova integrante é “rebatizada” para preservar a identidade original e recebe um nome composto, sendo Maria o primeiro. O segundo precisa guardar relação com a realidade e é escolhido pela própria participante.

Maria Ramona, uma das atendidas, homenageou o neto Ramon com seu pseudônimo. Com mais de 60 anos, a dificuldade de conseguir emprego a levou a beber em excesso.

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O boletim é semanal, às segundas, quartas e sextas.

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“Entrei em março deste ano porque era viciada em álcool. Com a minha idade, não conseguia emprego, entrei em depressão, o desespero bateu e comecei a beber. Percebemos que não estamos sozinhas, uma ajuda a outra e ninguém julga ninguém”, ressalta.

Após o “rebatismo”, a escrita é utilizada como ferramenta de cuidado.

“Conforme nossas ‘Marias’ vão contando suas histórias, nós vamos reescrevendo-as de uma forma diferente, usando poesia, emoção, mitologia e até religião. É uma combinação da realidade delas com algo lúdico”, explica Juliana Aureana Leal, terapeuta ocupacional e uma das técnicas que conduzem o grupo.

Mais do que um grupo de contação de histórias, Juliana afirma que é “uma maneira de perceberem suas reais condições de vítimas da violência, muitas vezes não sabida, mas de uma forma mais leve” e, assim, transformarem suas vidas. Ao escutarem os relatos, as mulheres se veem como protagonistas de suas vidas, proporcionando pertencimento, empatia e solidariedade entre elas.

A dinâmica envolve, ainda, a elaboração coletiva de um título para a história. “Quem nunca errou que atire a primeira Pérola” foi o escolhido após Maria Pérola compartilhar sua vivência, enquanto “Palavras desaparecidas de Aparecida Maria” representou as coisas que Aparecia Maria não conseguia falar.

O projeto também fornece orientação sobre a rede de apoio do município disponível às mulheres em situação de violência. O profissional técnico de referência responsável por assistir o tratamento da mulher no Caps AD II Sapopemba faz um acompanhamento individual e articula apoios necessários, seja psicológico, social ou judicial junto à rede do território.

Reconhecimento

A iniciativa ganhou o Prêmio David Capistrano, do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems/SP), em março deste ano. “Crônicas de Marias – Escrevivências de mulheres que usam substâncias psicoativas na periferia de São Paulo” foi a vencedora da premiação, que incentiva as experiências transformadoras na gestão municipal do SUS.

Agora, mais “Marias” vão poder contar suas histórias e mudar suas vidas por meio dessa atividade. O projeto foi ampliado em agosto, de forma piloto, para a UBS Iaçapé Jd. Planalto, que utilizará essa metodologia para mulheres que fazem acompanhamento em saúde, independentemente do uso de substâncias.

Serviço

As interessadas que moram em Sapopemba e Vila Prudente podem buscar atendimento no Caps AD II Sapopemba de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, sem necessidade de agendamento. A unidade está localizada na rua das Esterlinas, 142, Jardim Grimaldi.

Mylena Lira