23 novembro 2022 em Desenvolvimento Econômico

Muitas são idosas ou acometidas por doenças que não conseguiram colocação no mercado de trabalho

Quem passa às quartas, quintas e sextas-feiras, entre 7h e 17h, na Praça Mendel Hirschfeld, próximo ao Metrô Vila Prudente, em frente à Universidade Uninove, visualiza barraquinhas amarelas enfileiradas. Elas compõem a paisagem do local há seis meses e contribuem com o sustento de 22 famílias atualmente.

Por trás de cada barraca está uma mulher, que viu na revenda uma forma de empreender e viver. Muitas são idosas ou acometidas por doenças, como depressão e câncer, e não conseguiram colocação no mercado de trabalho. A maioria é mãe solo e arrimo de família.

É o caso de Greyce Costa, que tem 39 anos, é solteira, tem três filhos e é uma das idealizadoras da Feira do Desapego. Assim como outras expositoras, ela depende 100% do lucro obtido no local. Por isso, muitas vezes dorme nas filas dos bazares nos quais garimpa os produtos usados e compra para revender. Quando consegue uma mercadoria boa, tira de R$ 1.200 a R$ 1.500 no mês.

A feira funciona no local desde o dia 28 de abril de 2022. “A Subprefeitura da Vila Prudente nos acolheu”, ressalta Greyce. A Prefeitura de São Paulo, pela Subprefeitura Vila Prudente, apoia a iniciativa. Para estimular o trabalho realizado e garantir que as mulheres continuem as atividades, a subprefeitura cede o espaço público sem cobrar taxas.

As normas para exposição e o funcionamento das feiras é organizado pelo coletivo de mulheres empreendedoras, que tem Greyce e Luzinélia Silva na linha de frente. Recentemente, elas criaram uma ONG para facilitar a renovação da autorização na subprefeitura, o que precisa ser feito a cada três meses.

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Apesar de a feira da Vila Prudente ter completado seis meses no final de outubro, o projeto existe de forma legalizada desde 2017, quando Luzinélia e Greyce implantaram a Feira do Desapego na Mooca, onde funciona até hoje, às quintas, sextas e sábados, das 7h às 17h. Lá, são 32 expositoras ao lado do Metrô Bresser-Mooca. É possível encontrar inúmeros produtos, entre eles artesanatos, roupas, calçados, bolsas, bijuterias e brinquedos.

“Muitas pessoas dependem dessa feira. A Greyce mesmo sustenta os filhos dela, paga o aluguel. Esses dias eu estava sem gás, peguei umas coisas e vendi. É um trabalho tão lindo, que ajuda tanto no emocional quanto na questão do dinheiro”, reforça Luzinélia.

Origem e expansão

A feira, que hoje sustenta mais de 50 famílias, recebeu esse nome porque, no início, as mulheres vendiam (e trocavam) itens pessoais. Aprenderam a desapegar para converter objetos pouco usados ou que já haviam caído em desuso em renda. Com o passar do tempo, porém, começaram a comprar em brechós e bazares de igrejas para revender.

Luzinélia tem 47 anos e atua com revenda há 22 anos, sendo uma das mais antigas do coletivo. Ela, que trabalhou muito tempo como empregada doméstica, diz que encontrou na feira um sentido para viver depois que perdeu a irmã.

“Peguei (sic) uma depressão muito grande quando minha irmã morreu e o único lugar que me distraia era a feira. Nela, a gente conversa. No dia que uma faz aniversário, a gente comemora. Quando uma precisa, a gente ajuda. É um conjunto de mulheres e uma ajuda a outra em muitos sentidos”, ressalta.

Hoje em dia, por problemas de saúde na coluna, Luzinélia não expõe produtos nas feiras, que ficam longe de onde mora com o marido e os dois filhos, em Guaianases, zona leste. É cadastrada, no entanto, no programa “Tô Legal”, da Prefeitura de São Paulo, que permite o comércio ambulante. Ela revende brinquedos pelas redes sociais e entrega pessoalmente.

Foi assim que Greyce começou no ramo da revenda há dez anos. Em 2012, ela vendia itens novos e usados pela internet, por meio de grupos do Facebook, e ia até as catracas do Metrô para entregar ao comprador, mas começou a ter problemas com os seguranças.

Passou a vender em uma praça na Vila Matilde, de maneira informal, onde Luzinélia também revendia com outras mulheres. Frequentemente, contudo, a Polícia Militar e a Guarda Civil as retiravam do local. Em 2017, junto com Luzinélia, que conhecia uma funcionária da Subprefeitura Mooca, elaborou o projeto da Feira do Desapego.

“Pensei, não faz sentido mulher velha, com criança, ficar correndo de polícia. Estou trabalhando, não estou fazendo nada de errado. Então, a Greyce elaborou o projeto comigo, apresentamos, gostaram e conseguimos legalizar a primeira feira na Mooca”, relembra Luzinélia.

Greyce afirma que a pandemia prejudicou os negócios, mas agora o movimento está voltando ao normal. Há três vagas para novas expositoras na feira da Mooca e quem quiser participar pode procurar por ela no local. Também é possível colocar o nome na lista para eventual futura vaga na Vila Prudente. Interessados em fazer doações de produtos usados ao coletivo também podem ir diretamente às feiras.

No dia 9 de dezembro, das 8h às 17h, vai rolar o Mega Feirão do Desapego de Natal, uma oportunidade para adiantar a compra dos presentes para toda a família. O evento natalino vai reunir as expositoras das duas feiras, terá área gourmet e será realizado na rua Visconde de Parnaíba, 1.772, na Mooca.

Serviço

 

Feira do Desapego da Vila Prudente

Praça Mendel Hirschfeld, próximo ao Metrô Vila Prudente

De quarta a sexta, das 7h às 17h

 

Feira do Desapego da Mooca

Ao lado do Metrô Bresser-Mooca

De quinta a sábado, das 7h às 17h