14 dezembro 2022 em Cultura, Desenvolvimento Econômico
Grupo de artistas do Grajaú leva arte a jovens da periferia de São Paulo
De ecobags a oficinas de arte em camisetas, um grupo de cinco grafiteiros do Grajaú, na zona sul de São Paulo, vem unindo o empreendedorismo e a arte para falar das vivências comunitárias e ensinar o grafite a jovens e adolescentes da Capital. Denominado Salve Selva, o coletivo oferece oficinas, revitalização de espaços e produção cultural em locais públicos e privados.
O primeiro passo foi em 2007, produzindo ecobags e criando grafites com coletivos e movimentos sociais focados em ecologia . “Quisemos trazer essa coisa do grafite e da natureza, muito forte na nossa região”, diz Tiago Morais, artisticamente conhecido como Tigone.
A inspiração para o grupo veio da experiência domiciliar de Morais. Desde os seis anos de idade, ele ajudava os pais na produção de bolsas para vender entre os feirantes locais. Já o interesse pelo grafite nasceu da própria comunidade. “O Grajaú é uma região muito grafitada”, contextualiza.
Após a produção de ecobags, que mobilizaram profissionais da comunidade no ramo da costura e da arte, despontou um novo projeto: customizar roupas, em 2011, quando os integrantes batizaram o movimento como Salve Selva.
Quatro anos depois, um novo salto. Os membros do coletivo passaram a trabalhar com oficinas voltadas à arte-educação. O trabalho desenvolvido os levou aos bancos do ensino superior e um novo campo se abriu. Tigone, por exemplo, cursou licenciatura em Artes Visuais. Foi também com as oficinas que o coletivo se deu conta da necessidade de formalizar as atividades por meio da inscrição como Microempreendedor Individual (MEI).
Siga o nosso Canal e saiba tudo sobre a cidade de São Paulo pelo Whatsapp
O boletim é semanal, às segundas, quartas e sextas.
Quero receber!Hoje, o Salve Salve promove entre 8 e 15 oficinas por mês em espaços públicos e privados de São Paulo, como centros de convivência e empresas. No catálogo de atividades, estão oficina de grafite; stencil art; mandala com stencil e arte em bolsas e camisetas. O público tem, majoritariamente, entre 12 e 20 anos.
“A gente traz temas importantes, como o empoderamento negro, feminismo e o movimento LGBTQIA+ e coloca na linguagem do grafite”, destaca Tigone.
Com oficinas, vendas de grafite e organização de show ou bailes, cada integrante do coletivo recebe por mês uma média de R$ 2 mil, segundo o artista.
Segundo Tigone, o coletivo já influenciou participantes a criarem suas próprias iniciativas. É o caso de Gustavo Dimg, de 26 anos, que participou de oficinas de grafite e desenho. A experiência fez Dimg levar projetos de arte-educação para a população de Registro, a cerca de 187 km de São Paulo. “Hoje eu multiplico o que o projeto me proporcionou”, afirma.
Assim como o Salve Selva, Dimg desenvolve um trabalho que alia impacto social e sustentabilidade financeira. O grupo não tem nome, porém tem “uma força coletiva”, define Dimg. “Depois que precisei me mudar de lá (do Grajaú), acabei sendo mais ativo socialmente com empreendedorismo, arte, cultura e educação, vertentes que eles (integrantes do Salve Selva) exercem”, diz.
De acordo com o Mapa da Desigualdade 2022, elaborado pela Rede Nossa São Paulo, cerca de 3% dos MEIs ativos estão no Grajaú. Especialistas afirmaram ao Estadão Expresso Bairros que há um movimento de migração de projetos para negócios sociais no local, impulsionados pelo desemprego provocado pela pandemia de Covid-19 e as baixas ofertas de empregos formais na região.
Abel Serafim