17 fevereiro 2023 em Cultura

Desfiles da elite do Carnaval paulistano começam nesta sexta no Sambódromo do Anhembi

O Sambódromo do Anhembi, na zona norte de São Paulo, vai viver dois dias de festa com os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial neste Carnaval. São 16 agremiações, divididas em dois dias de folia.

Na sexta, 17, saem a Independente Tricolor, a Acadêmicos do Tatuapé, a Barroca Zona Sul, a Unidos de Vila Maria, a Rosas de Ouro, a Tom Maior e a Gaviões da Fiel. No sábado, desfilam a Afoxé Filhos da Coroa de Dadá, a Estrela do Terceiro Milênio, a Acadêmicos do Tucuruvi, a Mancha Verde, a Império de Casa Verde, a Mocidade Alegre, a Águia de Ouro e a Dragões da Real.

Já no domingo é a vez das escolas do Grupo de Acesso 1, que competem para chegar ao Grupo Especial no próximo ano: Nenê de Vila Matilde, X-9 Paulistana, Camisa Verde e Branco, Vai-Vai, Morro da Casa Verde, Colorado do Brás, Pérola Negra e Mocidade Unida da Mooca. Confira os horários de todos os desfiles aqui.

Com décadas de história, as escolas de samba de São Paulo fazem parte do que é hoje considerado um dos maiores carnavais do País e, em 2023, abordam em seus enredos temas como fé, intolerância religiosa, negritude e ancestralidade. Muitas delas representam bairros da Capital paulista — e muitas os trazem até no nome.

Para Lúcia Helena da Silva, diretora cultural da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, isso se deve ao caráter intrínseco da relação entre as agremiações e a comunidade onde estão inseridas, já que os moradores são os seus maiores frequentadores. 

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“Além de sua função sociocultural, as escolas de samba estão permanentemente atentas ao que as comunidades necessitam e são importantes formadoras de opinião e agentes de transformação em seus bairros, agindo para promover inclusão e a quebra de preconceitos”, afirma. 

Ela explica que cada região tem uma particularidade, identificada pelas organizações. A Unidos de Vila Maria, por exemplo, estruturou um centro de fisioterapia que passou a atender o público local. Já a Nenê de Vila Matilde, da zona leste, criou os projetos Filhas da Águia e Nenê do Amanhã, que formam passistas e ritmistas mirins, com foco em afastar as crianças da violência urbana.

Entre outras ações desempenhadas nos bairros estão atividades vespertinas para idosos e, na pandemia, muitas das escolas também se converteram em pontos de arrecadação de alimentos, distribuídos para moradores e artistas das agremiações. “É algo muito natural essa relação, porque a escola de samba e a comunidade são uma coisa só”, retoma Lúcia.

A carnavalesca destaca que a influência das agremiações pode ser notada em todas as regiões de São Paulo — afinal, considerando apenas as escolas filiadas à Liga, são 34 organizações, espalhadas por todas as zonas da cidade. Saiba mais sobre algumas escolas de samba e que bairro elas representam.

Zona leste

Três escolas de samba têm ligação com bairros da região leste. O bairro Vila Matilde é representado pela Nenê de Vila Matilde, que já foi campeã do Carnaval paulistano 11 vezes. Sob as cores azul e branco, a escola, fundada em 1949, fala este ano em seu samba-enredo “Faraó-Bahia” sobre o combate ao racismo e à intolerância religiosa para com as religiões afro-brasileiras.

O Tatuapé também tem a sua escola, a Acadêmicos do Tatuapé, criada em 1952, que conta com dois títulos. No samba-enredo deste carnaval, a agremiação homenageia a cidade de Paraty e conta sua história. Já a Leandro de Itaquera, vermelha e branca, que foi fundada em 1982, fala sobre as raízes africanas na formação do Brasil em “Batuque, a força da raiz”.

Zona oeste

Na zona oeste, a Pérola Negra da Vila Madalena traz as cores vermelho, azul, branco e preto e homenageia o cantor Jair Rodrigues com o enredo “Prepare o seu coração: Jair Rodrigues, Festa para o Rei Negro”. A Águia de Ouro, da Pompeia, foi fundada em 1976, já foi campeã e fala este ano sobre perseverança e crença em um mundo melhor em “Um Pedaço do Céu”.

O bairro Barra Funda tem uma particularidade: conta com três escolas de samba. A Mancha Verde, campeã do carnaval passado, vai exaltar o xaxado, que categoriza como uma dança “genuinamente brasileira”, com “Oxente – Sou xaxado, sou Nordeste, sou Brasil”. Na mesma paleta de cores, a Camisa Verde e Branco, que acumula nove títulos em seus 70 anos de história, traz o enredo “Invisíveis” para tratar da desigualdade social.

A terceira, Tom Maior, usa as cores vermelho, amarelo e branco e ficou em quarto lugar no carnaval de 2022. Em 2023, vai prestar homenagem à geração da vida com o samba-enredo “Um Culto às Mães Pretas Ancestrais”.

Centro

Representante da Bela Vista, a Vai-Vai é a escola de samba paulistana com mais títulos, vencedora de 15 carnavais. A agremiação foi criada em 1930 sob as cores preto e branco e traz uma reedição do samba-enredo de 2005, falando sobre a busca pela imortalidade — seja na ciência ou na religião.

Já a Gaviões da Fiel, do Bom Retiro, desfilará ao som de “Em Nome do Pai, dos Filhos, dos Espíritos e dos Santos… Amém!”, sobre a superação de obstáculos com a força da fé. A Gaviões foi fundada em 1969 e tem Sabrina Sato como atual rainha de bateria.

Zona Norte

A zona norte conta com uma escola que já foi campeã de dez carnavais. Com as cores vermelho e verde, a Mocidade Alegre representa o bairro Limão e traz o samba-enredo “Yasuke”, que explora a riqueza ancestral da cultura africana e do Japão de forma conjunta. A Unidos do Peruche, com cinco títulos, também fica no Limão — e embala o desfile deste ano com um samba sobre o uso de perfume ao longo da história.

Sete vezes campeã, a Rosas de Ouro da Freguesia do Ó é azul, rosa e branca e pede igualdade racial no samba-enredo de 2023. Já a bicampeã X-9 Paulistana, da Parada Inglesa, homenageia a sambista Dona Ivone Lara, que foi a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola de samba, na carioca Império Serrano.

A Casa Verde também tem uma escola, a Império da Casa Verde, com três títulos. Azul e branca, a agremiação rende homenagem ao som dos tambores com o samba-enredo “Império dos Tambores – Um Brasil Afromusical”.