29 março 2023 em Inovação E Tecnologia

Saiba em que pontos um sistema de Inteligência Artificial vai ajudar os jornalistas

Com o avanço das ferramentas de inteligência artificial generativas (sendo a mais comum o ChatGPT, da OpenAI), é natural que geradores de conteúdo, bem como profissionais de várias áreas, sintam o impulso de experimentá-las e usá-las em casos reais, com a intenção de saber se podemos nos valer de forma confiável dessa poderosa tecnologia para melhorar o trabalho e a produtividade. E, no nosso caso, levar a você, leitor, mais informações – e de forma mais clara.

É essa a proposta. Utilizar a inteligência artificial generativa em um projeto inovador como o Estadão Expresso Bairros. A ferramenta consegue encontrar, listar, confrontar e comparar dados, além de resumir de forma clara as informações, funcionando como uma espécie de motor gerador de “conteúdos relacionados”.

Explicando de outra maneira a operação de um sistema como ChatGPT: imagine que ele selecione, em um caso hipotético, três dados presentes na internet sobre determinado assunto. Vamos chamá-los de A, B e C. Depois, a IA vai encontrar, supomos, uma relação entre A e C, mas que exclui B. Com base nisso, a plataforma gera um texto fazendo todas as correlações mais importantes.

Pode passar a impressão de que a ferramenta “pensa”, mas não é isso. A inteligência artificial não cria nada. Apenas relaciona, lista, encontra e entrega as informações de forma mais clara, mais “mastigada”, como se diz popularmente.

Ah, mas por que simplesmente não usar o Google? Porque, nesse caso, as informações mais importantes não serão selecionadas nem explicadas em linguagem natural. Tente encontrar um dado qualquer sobre, digamos, seu bairro, no buscador mais famoso do mundo. Você vai se deparar com centenas, talvez milhares de links. Terá de entrar em cada um deles e procurar o que quer. E pode sair sem encontrar. A IA, nesse ponto, está um passo à frente.

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No caso do jornalismo, é muito importante entender que uma ferramenta como o ChatGPT não é capaz de trabalhar diretamente com nossos bens mais preciosos: as fontes, seguras e confiáveis. A IA não é capaz de fazer entrevistas nem de extrair informações delas.

Ela não escreve histórias com base em novas informações, tarefa que (ainda) é desempenhada muito melhor por humanos. Não consegue, por exemplo, encontrar um personagem que reclame de falhas de coleta de lixo; nem aquela pessoa que está há meses esperando uma consulta em uma unidade de saúde pública qualquer. Também não diz em quais ruas de São Paulo há mais roubos de celulares, nem os locais mais perigosos para se andar à noite. Mesmo que, em alguns casos, os robôs consigam entregar algo mais parecido com uma narrativa, ela fatalmente terá erros ou falsidades.

De acordo com o portal Wired, que vem fazendo experimentações e publicando textos feitos por inteligência artificial, “isso ocorre por razões óbvias: as ferramentas de IA atuais são propensas a erros e vieses e geralmente produzem uma escrita monótona e sem originalidade. Além disso, alguém que escreve para viver precisa estar constantemente pensando na melhor maneira de expressar ideias complexas com suas próprias palavras”. Por fim, uma ferramenta de IA pode inadvertidamente plagiar as palavras de outra pessoa, caso elas estejam na internet.

É importante lembrar, também, que toda a base de conhecimentos com a qual trabalha a versão mais recente do ChatGPT é restrita a 2021.

Além da correlação de informações importantes presentes na internet sobre os temas mais demandados pelos nossos leitores, a IA pode ser usada para tentar gerar ideias para novas matérias. Ela funciona bem para sugerir textos cuja publicação pode valer a pena com uma apuração mais precisa ou verificação dos dados. Além disso, como já descrito, o ChatGPT é uma ferramenta de pesquisa geralmente melhor do que um buscador, extraindo informações de enormes quantidades de textos e links (alguns não facilmente encontráveis na rede) e resumindo tudo isso.

De qualquer forma, o verdadeiro trabalho, que só os humanos podem fazer, é avaliar quais dessas ideais valem a pena perseguir. Por isso mesmo, como no caso das matérias que você vai acompanhar aqui no Estadão Expresso Bairros, a supervisão humana das informações trazidas pela IA generativa ainda entregará a última palavra. Nós contaremos com a ajuda preciosa da ferramenta, mas ela não nos substituirá. Importante: as reportagens produzidas com o apoio do ChatGPT trarão sempre uma mensagem, ou seja, o leitor será informado quando ela tiver sido utilizada. Convidamos você a acompanhar os resultados.

Daniel Gonzales