31 março 2023 em Cultura, Urbanismo
SP ganha murais em diferentes pontos a cada ano; confira as imagens e o mapa para visitar
Quem passeia pelo elevado Presidente João Goulart, mais conhecido como Minhocão, já deve ter se acostumado a ver as empenas cegas dos prédios preenchidas por grandes murais coloridos . A tendência de pintar as paredes sem janela, entretanto, já se espalhou por outros bairros e alcança as periferias. Para Baixo Ribeiro, galerista da Choque Cultural e especialista em arte urbana, essas obras configuram um novo movimento muralista paulistano — que, na verdade, não é tão novo assim.
Baixo aponta que esses trabalhos começam a aparecer, em 2006, após a aprovação da Lei Cidade Limpa, que retirou as publicidades das empenas dos prédios, liberando espaço para os artistas. Foi o galerista que articulou, em 2011, a instalação do mural de Daniel Melim, na rua Brigadeiro Tobias, 787, que pode ser visto da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Para Baixo, o trabalho é um marco dessa cena muralista da cidade.
“A pintura desse mural foi um momento da passagem desse movimento que nasceu independente do mercado e foi criminalizado. São trabalhos que se adaptaram muito bem à cidade de São Paulo e agora têm uma relação afetiva com a população porque dialogam com todas as pessoas”, explica o galerista em entrevista ao Expresso Bairros.
Os murais ajudariam as pessoas a ter uma relação mais amistosa com a cidade, cuja verticalização desordenada a transformou em um “paliteiro urbano”, nas palavras de Baixo.
“De repente, os bairros térreos começam a receber prédios altos, que vão palitando a cidade. Como não há uma organização, as construtoras criam empenas cegas onde supõem que vá aparecer um empreendimento ao lado. A parede sem janela fica como uma ameaça à população.”
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A solução do mural resolve duas questões: abre espaço para arte e aumenta a chance das pessoas de ter contato com trabalhos artísticos fora dos espaços de galerias e museus. As ruas também são escolas para os artistas que estão pela primeira vez experimentando trabalhar com grandes escalas e fora do ambiente controlado de um ateliê. Nas ruas, eles estão expostos ao sol, vento, chuva e interação com as pessoas.
“Já podemos dizer que estamos criando uma escola de muralismo paulistano a partir da troca que os artistas estão fazendo entre si sobre materiais, equipamentos e estratégias. Isso acontece porque muitos profissionais estão se capacitando ao dar assistência a outros mais experientes e acompanhando o processo dos trabalhos”, analisa Baixo.
Os novos murais na zona oeste
Frequentadores e moradores do bairro de Pinheiros, já devem ter reparado em novos murais ocupando as empenas dos prédios. Muitos deles foram feitos nas três edições do festival NaLata, organizado por Luan Cardoso.
“Fiquei muito tempo estudando onde realizar o festival. Porque queria fazer fora do Centro — um local que já tem muitos murais nas empenas”, explica Cardoso ao Expresso Bairros.
A escolha do organizador por Pinheiros aconteceu em razão do volume de pessoas que circulam pela avenida Faria Lima, rua dos Pinheiros, Largo da Batata e arredores. A primeira edição do festival aconteceu, em 2020, ainda tímida devido à pandemia de Covid-19.
Naquele ano, foram pintados sete murais. Na segunda edição, o bairro ganhou mais 11. E, em 2022, outros 14. “Ao ver os artistas pintando, as pessoas sentem que fazem parte da cidade. Elas comentam, criticam, dão sugestões e, se estão passando de carro, buzinam”, conta.
Quando o artista Zeh Palito estava pintando o seu mural na rua dos Pinheiros, o qual retrata um homem negro, um senhor o abordou e o agradeceu pela pintura dizendo: “é muito importante ver pessoas pretas pintadas em um prédio desse tamanho”. O depoimento deixou Cardoso e Palito comovidos.
“Infelizmente o artista com obras apenas em instituições de arte acaba tendo um acesso reduzido às pessoas. Afinal, quantos, no Brasil, conseguem ir a um museu?”, questiona.
Para o festival, além de artistas conceituados na cena da arte urbana, Cardoso convida profissionais com trajetória em instituições e no mercado de arte, mas que ainda não experimentaram a rua, como é o caso de Panmela Castro e Éder Oliveira, que participaram da 3ª edição.
Público e Privado
Embora as pinturas vistas nas ruas sejam consideradas públicas, as empenas dos prédios geralmente são de propriedade privada. Para o artista ocupar o espaço com liberdade para criar, Cardoso passa meses negociando com os proprietários e participando de assembleia de condomínios.
“O único jeito que encontrei para que eu tivesse liberdade na escolha dos profissionais, e os artistas, liberdade de criação, foi conseguir patrocinadores para que os prédios não tivessem custo algum”, explica Cardoso.
A cada edição do festival, entretanto, as negociações tendem a ficar mais fáceis. Os moradores da região se acostumam a ver murais em outros prédios e alguns agora desejam que o seu condomínio também tenha um.
A quarta edição do festival está programada para outubro e Cardoso já renovou o contrato com todos os condomínios. Para o organizador, o sinal de que o projeto já está incorporado na rotina do bairro é encontrar passeios guiados pelos murais aos fins de semana.
Veja, no mapa abaixo, onde encontrar os murais:
Karina Sérgio Gomes