9 abril 2023 em Turismo
EMEI Armando Arruda Pereira promove passeios de triciclo com os pequenos pela República
No meio do vai-vem da praça República, no centro de São Paulo, entre pessoas apressadas para pegar o metrô ou o ônibus, crianças passeando montadas em triciclos quebram o ar sisudo e frenético da região. O passeio faz parte do projeto “Motoca na Praça”, da Escola Municipal de Ensino Infantil Armando Arruda Pereira, localizada na praça da república, onde estudam cerca de 300 alunos de 4 e 5 anos.
“Queríamos que as crianças tivessem uma maior vivência com o entorno do bairro no qual elas estudam”, explica ao Expresso Bairros a professora Lívia Arruda, idealizadora do projeto. “Levá-los para passear com o triciclo foi uma tentativa de criar uma rotina como esses passeios, que teve uma aceitação logo de cara.”
O projeto começou em 2019, quando a professora, que trabalha na EMEI há 12 anos, teve a ideia de usar os triciclos que havia na escola para fazer com as crianças um passeio na praça. Antes de sair com os alunos, foi preciso fazer um treino para que eles aprendessem a usar o brinquedo como transporte — afinal, nem todos sabiam pedalar, mas é liberado usar os pés para dar impulso para quem não alcança ou não tem força para empurrar o pedal. Depois, com os alunos, estipularam as regras: não pode passar na frente do colega nem correr.
Os primeiros passeios aconteceram na própria praça. Guiando as motocas, eles saem em fila da escola e seguem a professora. Mais dois funcionários da escola acompanham o passeio para tomar conta do grupo.
Para identificação visual, as crianças usam coletes da escola e os adultos, coletes de travessia cedidos pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Lívia ressalta que a obrigação das crianças de cuidarem do brinquedo durante o trajeto faz com elas fiquem mais cuidadosas e atentas, além de chamar a atenção de quem cruza o caminho do comboio.
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A experiência de circular com as crianças pela praça encorajou Lívia a ampliar o trajeto. A postos em seus triciclos, os alunos visitaram o Copan, o Sesc 24 Maio, a Galeria Olido, a Biblioteca Mário de Andrade, o Teatro Municipal e o Viaduto do Chá — todos os destinos ficam em um raio de 500 metros da escola. Durante os passeios os pequenos fazem desenhos de observação e conversam sobre o que viram.
“As crianças às vezes não têm acesso a esses lugares pelo desconhecimento da família. Depois que visitam, elas pedem aos pais para voltar aos lugares. A experiência cria nelas um senso de pertencimento à cidade e dessas atrações culturais bacanas”, explica Lívia. “A motoca tem o seu lado lúdico, da brincadeira, mas é o nosso transporte, porque elas usam o brinquedo para chegar até o destino.”
Hoje, o projeto criado por Lívia é replicado em todas as turmas da escola, que saem com os alunos pelo menos uma vez na semana. “Eu sempre enfatizei muito a importância de não ser algo esporádico e ter uma constância para que entrasse para a rotina dos alunos e assim eles estabelecessem uma relação com a cidade”, ressalta.
Passear rotineiramente com as crianças montadas no triciclo também despertou o olhar da comunidade para a EMEI. Os espaços culturais do entorno passaram a convidar as crianças para atividades; voluntários pediram para participar da escola, realizando oficinas com os alunos; e o projeto foi premiado. Em 2022, o “Motoca na Praça” recebeu os prêmios “Territórios”, do Instituto Tomie Ohtake, e “Paulo Freire”, da Prefeitura de São Paulo.
“Os prêmios municipal e nacional valorizam o projeto e nos dão respaldo. Não é mais apenas uma atividade de uma professora em uma escola isolada. Espero que o Motoca na Praça inspire outras escolas a pensar em alternativas possíveis de atividades educativas para os seus alunos”, conclui.
Karina Sérgio Gomes