10 abril 2023 em Educação

Mais de 200 unidades adotaram modelo que é referência no incentivo à leitura

Jhonatam Bueno, de 19 anos, já publicou três livros de poesia e mantém dois perfis literários que somam mais de 31 mil seguidores no Instagram. O gosto pela escrita começou na Academia Estudantil de Letras (AEL), na Escola Municipal Prefeito José Carlos de Figueiredo Ferraz, no distrito de Artur Alvim, zona leste de São Paulo.

“Consegui me tornar escritor e hoje estou estudando Letras Português-Espanhol graças à AEL”, afirma o universitário.

Inspirado na Academia Brasileira de Letras, o projeto surgiu em maio de 2005 na Escola Padre Antonio Vieira, na zona leste, por iniciativa da professora de português Maria Sueli Fonseca. Os objetivos são desenvolver as habilidades de leitura e escrita dos alunos,  promover a inclusão social e criar um espaço de convívio nas unidades educacionais.

Para o coordenador da AEL na Secretaria Municipal de Educação, Guilherme Cunha de Carvalho, a atividade cria uma cultura de incentivo ao estudo e aproxima a literatura do cotidiano dos alunos. “Eles passam a frequentar e a se identificar mais com a escola e perdem a timidez para se apresentar. Individualmente, você vai ter esses impactos”, observa.

De 2005 para cá, 220 escolas municipais implementaram uma academia estudantil de letras, que hoje envolve 300 professores e mais de cinco mil alunos. O modelo pode ser aplicado do infantil ao ensino médio e à Educação de Jovens e Adultos, com adaptações para cada público.

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Na fase da educação infantil e do 1º ao 3º anos, o projeto apresenta aos alunos autores e livros para formar repertório cultural. Já a partir do 4º ano, eles podem escolher um escritor com o qual se identifiquem para se debruçar e compartilhar as descobertas com os colegas nos encontros do projeto.

No 7º ano, recomenda-se que o aluno assuma uma cadeira na academia, à medida que a cadeira do autor que escolheu ficar vaga por motivo de saída de integrante ou ao passo em que são criadas novas. Cada academia tem autonomia para definir o número de representantes.

Mediados por professores, toda semana a academia deve realizar encontros, no contraturno das aulas,  com os estudantes para formação leitora e discussões literárias  e uma oficina de teatro para adaptações dos textos debatidos. Também são organizados eventos culturais, palestras, seminários e solenidade de posse dos novos acadêmicos.

Cidade Tiradentes

Na Escola Professor Antônio D’Ávila, em Cidade Tiradentes, a AEL Walcyr Carrasco foi a porta de entrada para discutir questões sociais enfrentadas pelos estudantes, como racismo e gênero. Após exposição de obras como as de Conceição Evaristo e Carolina Maria de Jesus, os alunos viram as suas histórias refletidas nos livros, relata a coordenadora da academia da unidade, Márcia Dias.

“Isso fez com que eles se identificassem (com as narrativas)”, afirma Dias. Além de criar o hábito de ler, ela afirma que os membros do projeto também ampliam as possibilidades culturais, com visitas a museus e aos teatros.

Murilo Ceriaco, de 12 anos, tem o sonho de fazer teatro e viu na AEL Walcyr Carrasco a oportunidade para juntar duas paixões: escrever poemas e atuar nos palcos. No projeto desde o 4º ano do ensino fundamental, ele conta que a prática da leitura ajuda a produzir as redações e a compreender os enunciados de matemática.

Em 2020, a academia foi instituída, por lei,  no município de São Paulo. De acordo com a SME, o projeto já foi utilizado como modelo em diversos Estados do País, como Rio de Janeiro,  Rio Grande do Norte, Sergipe e Minas Gerais.

Desde 2019, são publicadas coletâneas com os textos produzidos por alunos e professores da Academia Estudantil de Letras. Este ano as inscrições seguem até primeiro de junho e devem ser feitas pelo e-mail das diretorias regionais de educação.

 

Abel Serafim