30 abril 2023 em Cultura, Desenvolvimento Econômico
Com a ONG Gerando Falcões e investidores, organização tenta criar a primeira Favela 3D da Capital
Há dez anos, um portal de comunicação chamado “Vozes da Vila Prudente” era criado pelo estudante de comunicação social Cesar Gouveia. Seu objetivo era chamar atenção para o projeto de uma obra do Metrô que previa a retirada de moradores da Favela de Vila Prudente, onde ele vivia com a família.
A iniciativa chefiada pelo jornalista se tornou o Instituto Vozes das Periferias e, hoje, está à frente do projeto Favela 3D na Favela do Haiti, que pretende transformar a comunidade na primeira do gênero na cidade de São Paulo.
Os três Ds correspondem a “digna, digital e desenvolvida”. O projeto é uma estratégia da ONG Gerando Falcões, com quem o Vozes das Periferias tem uma parceria de longa data. Trata-se de uma metodologia de atuação sistêmica baseada na colaboração entre entidades do terceiro setor, poder público e empresas privadas para propor soluções de combate à pobreza nas comunidades participantes.
“Se fosse individualizado, seria muito mais difícil. Então, em termos práticos, nós aceleramos o processo da quebra do ciclo de pobreza unindo os três setores”, pontua Cesar Gouveia. Entre as três frentes de ação da iniciativa estão a promoção de moradia digna, geração de renda e desenvolvimento social, mas outro aspecto é fundamental para criar os ambientes 3D: a participação popular.
Os moradores são cocriadores das soluções, o que, segundo o Favela 3D, aumenta as chances de que a transformação se sustente a longo prazo. “Essa comunidade (do Haiti) é autossuficiente em termos de organização e isso é benéfico para uma Favela 3D, porque a gente apoia uma comunidade que já tem no seu DNA uma continuação, um legado”, explica o CEO do Vozes das Periferias.
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Quero receber!Comunidade do Haiti
Uma Comissão Representativa da Comunidade formada por seis pessoas, que passarão por uma formação da Gerando Falcões, foi eleita em março. Quanto ao início dos trabalhos, obras de revitalização da praça e da fachada da comunidade estão previstas para o fim do mês de junho. Também deve ocorrer neste ano a regularização do acesso a serviços de saneamento básico e eletricidade. O projeto Favela 3D na Favela do Haiti tem como empresas parceiras e investidoras a Gerdau, o festival The Town e a Fundação Volkswagen.
Morada de cerca de 290 famílias, a comunidade do Haiti foi fundada há menos de uma década, em 2015, e tem o nome associado à presença de migrantes haitianos nos primeiros anos de existência. Antes do início das ações, a metodologia Favela 3D realiza um diagnóstico social para entender melhor as especificidades das demandas de cada comunidade e nortear os próximos passos. Confira alguns dos dados coletados na pesquisa conduzida no local:
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27% das famílias vivem com uma renda menor que um salário mínimo (média de R$ 1.665);
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61% das casas são chefiadas por mulheres;
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97% das famílias não possuem nenhum documento de propriedade de suas casas;
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20% das famílias se alimentam duas vezes ou menos por dia;
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54% dos entrevistados disseram nunca ir a eventos culturais, principalmente devido ao custo do transporte e à distância;
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7 a cada 10 entrevistados estão insatisfeitos com os espaços públicos de lazer existentes atualmente na favela;
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94% dos entrevistados querem participar ativamente do Projeto Favela 3D ou ONG local;
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O índice de esperança de que projetos sociais possam melhorar a favela é de 95%.
Criação de oportunidades
Desde a parceria com a Gerando Falcões, em 2018, o Instituto Vozes das Periferias atua para criar oportunidades de geração de renda, qualificação profissional, esporte e cultura para a população da região da Vila Prudente. Segundo a organização, mais de 401.711 crianças, jovens e adultos já passaram pelas atividades oferecidas, que incluem oficinas de pintura, dança de rua, futsal e jiu-jítsu e 11 cursos de capacitação nas áreas de comunicação, tecnologia, administração e vendas.
Também existe um programa de empregabilidade, que promove a colocação no mercado de trabalho de jovens e adultos que participaram de cursos profissionalizantes, cursos rápidos ou workshops oferecidos pela organização.
De acordo com o fundador, o instituto captou mais de R$ 1 milhão em recursos em 2022. O ano teve um saldo de 115 pessoas empregadas, 20 parcerias de inovação, educação e fortalecimento territorial firmadas e cinco novos projetos implementados — o maior deles o Favela 3D.
Raisa Toledo