18 maio 2023 em Cultura
Espetáculo nasceu de live durante a quarentena; confira a entrevista com a cantora
Ninguém passou incólume pelas lives durante o isolamento social. Houve quem amou, quem odiou e quem soube aproveitar a oportunidade. A cantora carioca Teresa Cristina se tornou a rainha das transmissões ao vivo nas redes sociais. “Eu não queria pensar em morte”, conta Teresa ao Expresso Bairros. “Durante o dia, fugia para os meus cadernos, estudando as músicas para montar o repertório que cantaria à noite”, lembra.
Foram várias apresentações virtuais à capela homenageando cantores, compositores, estilos musicais e até trilha sonora de novelas. A cantora baiana Maria Bethânia foi uma das homenageadas e dali surgiu a semente do show “Teresinha: as canções que Bethânia me ensinou”, que apresenta nesta sexta-feira (19/5), no Tokio Marine Hall (rua Bragança Paulista, 1281 — Santo Amaro).
“Eu queria mostrar o olhar genial e inovador dela na escolha do repertório. Muitos compositores escreveram músicas especialmente para Bethânia, pensando em sua respiração e sua voz”, explica. “É uma declaração de amor para ela. Por tudo o que fez, faz e ainda vai fazer. Maria Bethânia me faz gostar de ser brasileira.”
Em 2023, Teresa completa 25 anos de carreira como cantora. Mesmo depois das turnês nacional e internacional com Caetano Veloso, em 2016, e lives que ajudaram milhares de pessoas a enfrentar a pandemia de Covid-19, a cantora não conseguiu fechar um patrocínio para viajar com esse projeto e depende da bilheteria para pagá-lo. Os fãs, entretanto, não desapontam e os ingressos estão quase esgotados.
“É um equilíbrio de muitas coisas: pagar bons músicos, tempo de ensaio, iluminação, figurino… Tem de equilibrar tudo isso e subir no palco, sorrir, cantar bem, mas sem demonstrar preocupação com essas contas. É muito difícil. Conheço pouquíssimas artistas negras com patrocínio”, ressalta.
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Durante a pandemia de Covid-19, você se destacou com suas lives, ganhando a alcunha de Rainha das Lives. Suas apresentações nas redes sociais foram a sua pós-graduação em música brasileira?
Para mim, foram. Vou a muitos lugares e sempre alguém vem me dizer: “Você me salvou”. Minha resposta é: “A gente se salvou junto”. Eu não queria pensar em morte. Durante o dia, nos intervalos de cuidado com a casa, com a minha mãe e com a minha filha, eu fugia para os meus cadernos, estudando as músicas para montar o repertório que cantaria à noite. Eu pesquisava quais os compositores e em quais álbuns estavam determinadas músicas, além de aprender a cantá-las. As lives me ajudaram a expandir minha mente. Entendi que não sou definida. Teresa Cristina é sambista, sim. Mas também sou uma intérprete que gosta de cantar Lulu Santos, Guilherme Arantes, Diana Ross e Iron Maiden.
Esse show nasce de uma de suas lives. Você poderia compartilhar o processo?
Fiz uma live em homenagem à Bethânia no dia do aniversário dela. Depois realizei outras sobre os álbuns Mel e Álibi. A ideia do show surgiu em uma conversa com a Adriana Calcanhotto, que me convenceu a fazê-lo. Em princípio, a Adriana iria me dirigir, mas, por uma série de compromissos, não rolou. Escolhi o repertório, mostrei a ela para ver o que achava. Depois, segui sozinha na direção e produção.
Imagino que você já tenha produzido e dirigido outros shows seus. Esse apresenta algum desafio diferente?
A diferença é a escala. A Betânia é uma artista gigante. Esse show precisa ser feito em um palco grande para comportar o repertório e a importância dessa pessoa. Eu queria mostrar o olhar genial e inovador dela na escolha das canções. Muitos compositores escreveram músicas especialmente para Bethânia, pensando em sua respiração e sua voz. É uma declaração de amor para ela. Por tudo o que fez, faz e ainda vai fazer. Maria Bethânia me faz gostar de ser brasileira.
Você já disse que, quando criança, imitava a Bethânia. Essa brincadeira de imitá-la fez com que você quisesse ser cantora?
Sou pisciana, adoro um drama e a Bethânia me oferecia uma paleta de emoções. Tive esse momento de imitar a Betânia na frente do espelho — até brinco com isso no show. Não sabia se queria ser cantora, mas eu queria ser a Bethânia. Tinha seis ou sete anos. Então, eu não conhecia o tamanho daquelas emoções. Uma mulher falando dos seus amantes, dos seus amores que não deram certo. Eu não tinha nem beijado na boca! Mas a Bethânia sempre foi uma referência para mim, de respeito com público, com o compositor. Gosto do olhar dela para esse Brasil que está um pouco mais distante do litoral.
Até a sua apresentação no Rio de Janeiro, seu show estava sem patrocínio. Mas você lotou a casa de espetáculos. Conseguiu um patrocinador para seguir em turnê?
Ainda não. É um equilíbrio de muitas coisas: pagar bons músicos, tempo de ensaio, iluminação, figurino… Tem de equilibrar tudo isso e subir no palco, sorrir, cantar bem, mas sem demonstrar preocupação com essas contas. É muito difícil. Conheço pouquíssimas artistas negras com patrocínio. Eu queria que alguém me dissesse que estou errada, mas as estatísticas mostram que não estou.
Você está completando 25 anos de carreira. Quais são os projetos para celebrar a efeméride?
Além do show em homenagem à Maria Bethânia, estou com o Pagode Preta, com uma banda só de mulheres. O samba nasceu na mão de uma mulher, rapidamente foi para a mão dos homens e não conseguimos pegá-lo de volta. O repertório mira nos pagodes dos anos 1980 e 1990. Esse show estreia no dia 2 de junho no Circo Voador, no Rio de Janeiro, mas espero levá-lo para outros lugares. Tenho também um novo álbum de músicas inéditas, que já era para ter saído, mas, com a pandemia, atrasou. Além de outros projetos engatilhados, mas que ainda não posso contar.
Serviço
“Teresinha: as canções que Bethânia me ensinou”
Tokio Marine Hall, rua Bragança Paulista, 1281 — Santo Amaro.
Sexta-feira (19/5) às 22h.
Ingressos a partir de R$ 100. Site: https://www.tokiomarinehall.com.br/teresa-cristina.