24 maio 2023 em Turismo
Casa inaugurada no ano passado fica a apenas 4 minutos da estação Guaianases, da CPTM
Na época de faculdade, o engenheiro de produção Renan Millá, de 28 anos, até era adepto do cafezinho para se manter acordado nas reuniões do trabalho, mas estava longe de ter a bebida como uma paixão.
“Era sempre aquele da garrafa térmica, fermentado. Batia no estômago e já dava problema”, conta. O incômodo durou até que ele conheceu o conceito do café especial — que atende a padrões de qualidade elevados, como grãos selecionados e colhidos manualmente no tempo ideal. Foi como se um novo mundo se revelasse e o produto se tornou um grande interesse do jovem.
Renan fez cursos de barista e mergulhou na história da que é uma das bebidas mais consumidas no mundo. Hoje, estuda também gestão de cafeterias. A jornada o fez olhar de forma diferente para o local em que nasceu e cresceu; o bairro de Guaianases, na zona leste.
“Me deparei com o contexto de que pessoas como eu fizeram a história do café, periféricos, negros e mulheres. Comecei a frequentar cafeterias e constatar que, infelizmente, nós não somos o público consumindo esses produtos”, lembra.
A virada de chave ocorreu quando ele participou de um festival de café e se impressionou com a ausência de diversidade entre as pessoas presentes, majoritariamente brancas. A partir daí, juntou o novo interesse à sua vontade de empreender e criou, no fim do ano passado, o Café do Millá, que fica a quatro minutos da estação Guaianases da CPTM.
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Quero receber!A cafeteria é pensada para levar os cafés especiais à periferia, a fim de contribuir com a ampliação das opções de lazer e gastronomia na região e inserir nesse universo os consumidores de cafezinho que não se sentem à vontade para ir a espaços no centro ou em bairros mais nobres da capital.
Abertura ao novo
A novidade encontrou certa resistência entre o público, mas gradualmente conquista o coração — e o paladar — da clientela. O empreendedor atribui a abertura ao fato de ser, ele mesmo, um morador de Guaianases, o que facilita uma aproximação.
Ainda assim, relata que muitos chegam para experimentar uma das opções do cardápio em uma espécie de desafio: querem “ver se esse café é bom mesmo”.
E o que não falta no Café do Millá são estratégias para se aproximar dos clientes e estimular a curiosidade acerca da cultura do café. Em posts nas redes sociais da cafeteria, Renan informa sobre a história da bebida, tira dúvidas sobre o preparo, esclarece sobre a colheita dos cafés especiais e reflete sobre hábitos brasileiros — como a preferência pelo café aquecido.
No balcão, ele cria novas combinações de sabores e faz questão de compartilhar o que aprendeu com os consumidores. “Muitas vezes você olha no cardápio, tem um monte de nome em italiano, você não faz ideia do que é aquela bebida e não se sente confortável de perguntar. Quero é que venham perguntar mesmo”, reforça.
Café especial
A cafeteria tem cerca de 25 itens no cardápio. Entre as opções, café com laranja, com cana-de-açúcar, os refrescantes frappuccinos e café extraído com o método aeropress — que fica no meio do caminho entre um coado e um expresso.
Quem frequenta pela primeira vez tende a apostar no cappuccino, bastante presente no imaginário popular e um dos mais vendidos. “Mas, se me dão oportunidade, eu direciono para outras bebidas”, afirma o empreendedor. Uma criação própria, que mistura os sabores do café e do açaí e recebeu o nome de Café Amazônia, também tem feito sucesso.
Em abril, Renan contratou seu primeiro funcionário, que também é morador de Guaianases. Além de contribuir para mudar o cenário que vivenciou quando mais novo — em que precisava se deslocar para consumir as coisas em que tinha interesse, do espetinho ao fliperama —, seu objetivo como empreendedor é valorizar e capacitar a mão de obra local.
“Eu quero dominar o projeto de A a Z, no sentido de imergir também os meninos daqui da região, criar o primeiro trabalho deles, profissionalizar a galera. Acredito no potencial sem dúvida nenhuma”, conta.
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Raisa Toledo