5 junho 2023 em Meio Ambiente

Grupo se mobiliza para transformar o local em centro cultural na zona sul de São Paulo

Mesmo de longe, uma chaminé de tijolos chama a atenção de quem passa pela avenida Ricardo Jafet. Ela faz parte da Usina Eco-Cultural, que fica ao lado da estação Santos-Imigrantes, Linha 2 – Verde do Metrô, na região do Ipiranga (zona sul).

Antigo Incinerador Vergueiro, o local se tornou ponto de encontro de artistas, arquitetos, ambientalistas e moradores da região que têm em comum o interesse de transformá-lo em um centro cultural.

A área utilizada é principalmente a externa, porque o prédio, que ficou desativado por 20 anos, não está em boas condições de preservação e tem indícios de contaminação do solo. Segundo os organizadores, a ideia para o edifício é fazer um museu do meio ambiente que preserve a história das instalações.

Na parte de baixo, funcionaria um mercado de alimentos orgânicos. Tudo de forma a contemplar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e integrada ao Parque Linear Municipal do Riacho do Ipiranga, que um projeto de lei que tramita na Câmara Municipal de São Paulo pretende criar.

Há 11 meses, são realizadas atividades como teatro, dança, capoeira, ioga e oficinas de educação ambiental, além de programações voltadas para crianças, com brincadeiras de rua. Foram criados uma cozinha, uma biblioteca e um brechó, e festivais de forró e de rock já movimentaram o espaço.

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“O que acontece é uma mobilização convidando a comunidade para dentro da Usina. É importante preservar essa história e transformar isso em um espaço devolvido à sociedade”, resume a arquiteta Débora Machado, uma das organizadoras do movimento Usina Eco-Cultural.

Movimentando o Ipiranga

Débora estima que mais de três mil pessoas já tenham passado pelo local — e cerca de 200 compõem o movimento. Em um dia de evento, o fluxo pode chegar a 250 visitantes. A professora Kéuri Santos, que mora em um prédio nas proximidades e passava pela Usina a caminho do Metrô, ficou curiosa para conhecer melhor a movimentação.

Ela conta que o primeiro evento em que participou foi o festival de forró: “A gente achou um clima super gostoso, tinha várias crianças dançando e muito mais pessoas do que a gente esperava encontrar. O projeto chama atenção porque é um bairro muito parado”.

As festividades geraram reações entre os moradores do prédio, que relataram se incomodar com o barulho.

Kéuri discorda quanto ao transtorno causado pelas músicas, mas atribui a mobilização dos moradores ao fato da região ser bastante “pacata”. “É uma mentalidade muito de ‘eu comprei aqui porque era calmo’, mas é uma área valiosíssima enquanto equipamento cultural, pensando que é do lado do Metrô e extremamente carente de entretenimento”, destaca.

O ator Oswaldo Moraes mora no bairro desde criança e acompanhou o tempo em que o prédio ficou abandonado desde que perdeu sua função de incineração de lixo doméstico e hospitalar, em 2002. Para ele, a mobilização que deu origem à Usina Eco-Cultural tem um papel importante na vida do Ipiranga. “É uma semente de muita harmonia e muita cultura, porque nós estamos aprendendo a politizar e estamos praticando cidadania. Não faço para mim, mas para o bairro, a sociedade”, afirma.

Oswaldo comanda dois dos três grupos de teatros que atuam na Usina. “Atualmente somos 14, tem pessoas idosas, LGBT, jovens, gente de fora do Brasil… é uma mistura de todos”, diz. O grupo tem apresentações previstas para os dias 3, 10 e 17 de junho, em que são abordados temas como violência, capitalismo e preservação ambiental.

Ocupação

Fruto da articulação entre ambientalistas, arquitetos e artistas, o movimento Usina Eco-Cultural conta com o apoio de membros da Câmara Municipal de São Paulo e da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Em janeiro, a vereadora Silvia da Bancada Feminista (Psol) deu entrada em uma solicitação pelo uso do espaço.

No início de maio, integrantes do movimento apresentaram o projeto ao Conselho Participativo Municipal do Ipiranga, composto por integrantes da sociedade civil, e solicitaram o uso de uma verba de R$ 6 milhões para viabilizá-lo.

No dia 27/05, o local foi alvo de uma fiscalização. Dois autos de infração que somaram R$ 42,129,30 foram emitidos no nome de Débora. Os documentos listam as infrações de “realização de evento sem a respectiva autorização emitida pela municipalidade” e “ocupação irregular de área municipal”.

Segundo o auto de intimação, caso a área não seja desocupada ou uma defesa apresentada no prazo de 15 dias, serão adotadas as medidas previstas no Decreto Municipal nº 48.832. Entre as providências, estão listadas a retirada compulsória, o isolamento da área, a interdição e a notificação para desocupação.

A Usina Eco-Cultural criou um abaixo assinado para angariar apoio para a inclusão do antigo Incinerador Vergueiro no circuito cultural da cidade de São Paulo. A petição pode ser consultada aqui.

Raisa Toledo