21 junho 2023 em Assistência Social

Selo Amor Espresso ajuda na conquista da autonomia financeira e emocional pelo trabalho com café

Um lugar para se reerguer e ter um novo começo. É assim que Ellen Cristina Benite Vieira, de 38 anos, enxerga a ONG Selo Amor Espresso, onde participa, até o final de julho, da Turma 8 de formação de barista.

Gratuito, o aprendizado não fica restrito a conhecer os vários tipos de cafés, métodos de preparo, como regular a máquina de espresso ou vaporizar bem o leite para um saboroso latte. Para ela, que já amava café, o diferencial é o suporte psicológico e emocional oferecido no espaço.

“Às vezes eu chego triste lá, mas saio mais confiante. Sinto-me muito privilegiada porque muitas pessoas gostariam de estar fazendo esse curso”, disse com a voz embargada.

Segundo Fernanda Samaia, psicóloga, presidente da ONG e idealizadora do projeto, junto com sua amiga Maria Alexandra, as alunas têm uma rede de apoio do começo ao fim. É feito o acolhimento, capacitação, desenvolvimento da autonomia emocional, encaminhamento para entrevista de emprego e acompanhamento por até seis meses após o término da formação.

Estar desempregada é requisito para ser selecionada no projeto, que começou em uma comunidade da zona norte de São Paulo, em 2020. De lá para cá, cerca de 60 mulheres realizaram a formação de barista, que tem duração de nove semanas, atualmente, com aulas às segundas e quartas-feiras, das 16h30 às 20h30.

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O boletim é semanal, às segundas, quartas e sextas.

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Nesse período, as participantes têm aulas teóricas e práticas sobre como preparar um bom café especial com a professora Bia Sobral, barista profissional. Com mais uma psicóloga, Fernanda dá aulas sobre inteligência emocional, que passa pelos pilares do autoconhecimento, autoregulacao, habilidades sociais e comunicação não violenta. Também aprendem sobre finanças básicas, a montar um currículo e como se portar na entrevista de emprego.

“Além disso, aprendem a traçar metas para que não dependam de motivação externa. Muitas vezes, o ambiente externo é completamente contra elas se desenvolverem. Então, auxiliamos a fortalecer o lado interno”, explica Fernanda. Ela ressalta que todas saem com currículo pronto e duas entrevistas de emprego garantidas, pois a ONG faz a ponte com cafeterias e docerias.

Para Ellen, que foi vítima de violência doméstica e passa por um processo de separação do ex-marido, a possibilidade de conquistar um emprego fixo é “uma luz no fim do túnel”, pois representa a chance de conseguir a guarda das duas filhas, que estão com ele. Formada em administração, ela tem experiência como chefe de cozinha e sonha em cursar gastronomia.

Inclusão

Maryele Araújo, de 21 anos, moradora de Interlagos, na zona sul, conquistou o primeiro emprego com carteira assinada pelo projeto. Ela fez parte da Turma 7, encerrada em 12 de abril de 2023. Sete dias depois, em 19 de abril, começou a trabalhar em uma cafeteria localizada em Perdizes.

Além da parte profissional, que Maryele pretende continuar desenvolvendo, com a realização de um curso de latte art em breve, o Selo Amor Espresso contribuiu para sua evolução mental. “Melhorou também na parte do emocional porque tinha muita coisa que eu não sabia lidar e as aulas de acompanhamento emocional ajudaram”.

Origem

A iniciativa foi inspirada em modelos de projetos nos quais Fernanda trabalhou nos Estados Unidos, onde morou por 11 anos, fez graduação e depois mestrado em psicologia clínica.

Não é sobre café. O Selo Amor Espresso, apesar de se desenvolver dentro de uma cafeteria, é sobre “transformar a vida de mulheres em situação de vulnerabilidade”, afirma Fernanda. A bebida é usada como ferramenta, pois sua família tem uma fazenda de café em Brotas, no interior de São Paulo, e doa os grãos usados nas aulas.

Além disso, a escolha foi pautada em outros fatores: o mundo dos cafés especiais está em crescimento, para ser barista não precisa de formação acadêmica e a área possibilita o crescimento dos profissionais.

“Não queremos que elas tenham trabalho em troca de dinheiro. Ajudamos elas a entenderem o potencial que têm e a construir uma carreira. Pelo momento do mercado, o barista pode crescer, participar de concursos, empreender, dar cursos”, frisa Fernanda.

A cafeteria que leva o mesmo nome emprega duas ex-alunas e, para incentivar o empreendedorismo, acabou de lançar um curso particular, com duração de uma hora, que ensina a extrair o café no método que o cliente escolher. A aula será ministrada pelas ex-alunas e parte da renda será revertida a elas.

Gabriela Magalhães Feitosa, de 19 anos, é uma das funcionárias da cafeteria, aberta em setembro deste ano. Em maio fez um ano que ela concluiu a formação. Foi da Turma 5, quando o curso ainda era promovido na zona norte. Pegava quatro ônibus e dois metrôs e levava três horas no percurso para se deslocar da sua casa, no Jabaquara, zona sul.

Se não fosse o auxílio transporte fornecido pela ONG e o suporte emocional, talvez tivesse desistido. “O curso agregou muito na minha vida. Não só na parte financeira, mas desenvolveu minha parte emocional.

Parcerias

A ONG atende mulheres em situação de vulnerabilidade social e cerca de 90% sofreram ou já estiveram inseridas em algum tipo de violência doméstica. Para ajudar na independência financeira e autonomia de vida das participantes, a Selo Amor Espresso conta com algumas parcerias.

Uma delas é justamente para a seleção das mulheres que se encontram em um momento de vida propício para se dedicar à capacitação. Outras ONGs que desenvolvem ações com esse público fazem as indicações, como a Casa Mariás, por meio da qual Ellen conseguiu a vaga na capacitação.

Os pré-requisitos são:

  • ter a partir de 18 anos;
  • estar desempregada;
  • disponibilidade para trabalhar em período integral (44 horas por semana), com uma folga semanal;
  • saber falar, ler e escrever em português;
  • filho acima de um ano, se tiver;
  • ter celular com WhatsApp;
  • ter Bilhete Único; e
  • não ter vício em bebida alcoólica ou outras drogas.

Algumas também chegam por indicação de ex-alunas ou após conhecerem o projeto nas redes sociais. As alunas são escolhidas via entrevista e preenchimento de um formulário. Ao começar o curso, recebem vale-transporte, apostila e avental para as aulas práticas, além de todos os produtos utilizados no preparo dos cafés, que também vêm de doação.

Há empresas que doam leites e xaropes, outras fazem contribuição financeira, existem os parceiros de contratação, que empregam as alunas ao final da formação de barista e há, ainda, docerias e cafeterias que revertem parte do lucro com alguns cafés de seus menus para o treinamento. Quem quiser apoiar o projeto, pode entrar em contato pelo site da ONG.

 

SERVIÇO

 

Cafeteria Amor Espresso

Alameda Santos, 1.298, das 8h às 19h

São diversos tipos de bebidas com café, desde o tradicional espresso aos elaborados com doce de leite. O cliente escolhe o grão, entre as quatro variedades (Paraíso, Arara, IAC e IPR), e o método de extração para o preparo. Os coados são feitos na Hario, Koar, Clever ou AeroPress. Os preços variam de R$ 6,50 a R$ 20.

 

Mylena Lira