22 junho 2023 em Inovação E Tecnologia, Sem categoria

Apaixonado por astronomia, Sérgio Mazzi tem 20 câmeras instaladas em seu telhado na zona leste

De um pequeno sobrado na região de Sapopemba, na zona leste de São Paulo, já foram capturadas imagens de mais de 5 mil meteoros. O responsável pelo feito é o geógrafo Sérgio Mazzi, também astrônomo amador e presidente da Associação Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon).

Depois de conhecer a Bramon, ele instalou a primeira câmera em 2019, como um teste. “Eu gosto de fazer ciência. Era um desafio, aí logo na primeira noite ela pegou um meteoro e não parou mais”, conta. Logo veio a segunda câmera e, então, as seguintes. Hoje, já são 20: cinco funcionam durante o dia, e o restante monitora o céu à noite.

Outros integrantes da associação também têm as suas próprias câmeras, o que permite que o grupo determine, a partir da triangulação, parâmetros como a órbita de objetos celestes, sua provável origem, velocidade, ângulo e provável massa. “Elas mandam as imagens para um software, que analisa o movimento e consegue fazer a filtragem, se é um meteoro ou um avião. Aí a gente analisa esses dados e eles vão para o servidor”, explica.

Confira abaixo algumas das imagens captadas por Sérgio e as câmeras que ele utiliza:

A astronomia é uma paixão antiga de Sérgio e influenciou, inclusive, a escolha de sua formação profissional: “É uma das coisas que me move, desde que me conheço por gente”. Entre os objetos mais interessantes e inusitados que já capturou em suas câmeras, ele lista alguns meteoros grandes, a aceleração de uma sonda chinesa que está em Marte e alguns balões soltos ilegalmente, em chamas.

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A dedicação à observação do céu na cidade de São Paulo tem seus desafios. “Tem a poluição luminosa, a poluição do ar, às vezes o clima não é legal por causa da nebulosidade. Mas a gente é resistente e, mesmo assim, conseguimos contribuir com a pesquisa”, afirma.

Relevância científica

O objetivo, da atuação pessoal de Sérgio e também da Bramon, é contribuir para pesquisas na área e para que cientistas, não apenas brasileiros, consigam encontrar meteoritos — nome que recebe o que resta do meteoro após o contato com a atmosfera. Prestam apoio, por exemplo, para o grupo Meteoríticas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), composto em sua maioria por cientistas mulheres.

A colaboração é possível porque, analisando as órbitas de meteoros, asteroides ou cometas, o local da queda pode ser estimado. “Quando você consegue achar um objeto desse, é como se uma nave espacial tivesse pego uma amostra de um planeta ou de um asteroide. Então, você consegue analisar sem precisar fazer uma viagem espacial”, pontua Sérgio.

As imagens capturadas podem, também, ajudar a solucionar dúvidas sobre objetos celestes avistados. Nesta semana, luzes azuladas e esverdeadas geraram um debate sobre do que se tratava: um meteoro, pedaço de rocha atraído pelo campo gravitacional da Terra, ou lixo espacial voltando à atmosfera do planeta — hipótese defendida por astrônomos ligados ao Observatório Nacional.

Para a Bramon, no entanto, o corpo avistado é um objeto natural, ou seja, um meteoro. A informação, segundo Sérgio, pode ser comprovada a partir de dados como a velocidade e o ângulo do objeto, assim como uma comparação com a trajetória do satélite chinês que seria a origem do lixo espacial.

Rede de colaboradores

As câmeras utilizadas por Sérgio variam bastante, das mais baratas às mais caras. “Cheguei a comprar duas por cinquenta e seis reais, que o pessoal estava se desfazendo. Fiz uma modificação e elas trabalham hoje observando o céu”, diz.

Como presidente da Bramon, ele diz que um dos objetivos da associação é aumentar a sua rede de operadores de câmeras — hoje bastante concentrada no sudeste. “A gente tenta incentivar quem gosta disso a montar uma estação e agregar dados.” Aos interessados, basta entrar em contato com a Bramon e seguir as orientações de instalação da câmera e do software usado, para que as imagens façam parte do banco de dados dos pesquisadores.

Raisa Toledo