25 junho 2023 em Direitos Humanos E Cidadania, Jabaquara

Coletivo Cartografias Negras trabalha para resgatar as origens de pontos importantes da Capital

Qual história você conhece de São Paulo? Com pontos turísticos espalhados por todos os bairros, pouco se fala sobre as comunidades negras que não só se instalaram, como ajudaram a construir a Capital paulista.

E foi com o objetivo de relembrar e ressignificar essa história que o coletivo Cartografia Negra, recém-indicado ao Prêmio Pipa, nasceu em 2017. Integrado pelos pesquisadores Raíssa Albano de Oliveira, Carolina Piai Vieira e Pedro Vinicius Alves, o coletivo já mapeou alguns pontos da metrópole e faz parcerias com instituições para promover esses locais.

“O questionamento começou a partir do núcleo familiar entendendo também a cidade como um ser que perdeu parte de sua história”, diz Alves, acerca de como a partir de uma inquietação particular em conhecer os seus antepassados, os pesquisadores se juntaram para mapear lugares históricos.

As pesquisas do coletivo, e de outros pesquisadores e organizações, mostram como São Paulo tem um passado não somente ligado à escravidão, mas também à resistência da comunidade negra e como isso foi se perdendo com o tempo.

Para a pesquisadora Carolina, esse resgate vai além das construções: é importante para identificação dos cidadãos. “A gente não está falando só de arquitetura, existe também a construção de vida, de cultura e de conhecimento.”

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O Expresso Bairros convidou o coletivo Cartografia Negra para indicar alguns dos lugares mapeados que contam um pouco da história negra na cidade. Confira:

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos

 

Quem passa diariamente pelo Largo de Paissandú, no centro da cidade, rumo amo a museus, faculdades e  estabelecimentos comerciais, provavelmente já notou a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. É um importante símbolo da comunidade negra em São Paulo e mantém missas afro centradas e com santos negros. A igreja ficava na Praça Antônio Prado, quando foi demolida pelo irmão de Antônio Prado nas obras de modernização de São Paulo. Está no Paissandú desde 1906.

Endereço: Largo do Paissandú, s/nº – Centro Histórico de São Paulo

 

Largo da Misericórdia

 

Largo da Misericórdia, no centro, em 1907 – Crédito: Arquivo/Estadão

 

O Largo da Misericórdia abrigou o primeiro abastecimento público da cidade, o Chafariz da Misericórdia ou de Tebas, uma homenagem ao arquiteto e engenheiro negro Joaquim Pinto de Oliveira Tebas, que o construiu em 1792. De acordo com o levantamento do coletivo, o Largo era bem movimentado pela população negra, que encontrava tempo entre as enchidas de baldes de água para conversar e organizar resistência à escravidão. “É um lugar interessante para lembrar da história do Joaquim, que também era chamado de Tebas. Inclusive tem a estátua dele (perto da Igreja do Carmo, na Praça da Sé), construída em homenagem”, diz Vieira, estendendo o roteiro de visitação.

Endereço: Largo da Misericórdia, s/n – Centro Histórico de São Paulo

 

Capela Nossa Senhora dos Aflitos

 

Crédito: Tiago Queiroz/Estadão

 

O bairro da Liberdade é conhecido por ser uma viagem ao continente asiático. Há, contudo, uma raiz negra para se conhecer por lá. Inaugurada em 1779, a Capela Nossa Senhora dos Aflitos tem origem ligada ao surgimento do Cemitério dos Aflitos, o primeiro público da cidade e onde os índigenas, negros e escravos eram enterrados.

Endereço: Traves. Rua dos Estudantes – alt. nº 52 – R. dos Aflitos, 70

 

Butantã

 

Em parceria com a Casa Sueli Carneiro, o coletivo Cartografias Negras mapeou recentemente o bairro Butantã, na zona oeste. A região é conhecida por abrigar um dos campus da Universidade de São Paulo (USP). E é justamente a ligação com a sua construção que o coletivo mapeou. Migrantes trabalharam na construção do campus Butantã e se estabeleceram nas redondezas. Mesmo após o fim das obras, essa comunidade de trabalhadores permaneceu, dando origem à Favela de São Remo, ao lado do campus e que abriga 13 mil habitantes.

Outros locais foram mapeados no bairro, como o rio Pirajussara. Documentos acessados pelo coletivo recordam que comunidades se instalaram às margens do rio, mostrando a vivência de quilombolas na região de Pinheiros e o intercâmbio de pessoas negras com povos originários no século 19, que ensinavam técnicas de pesca e caça, e as características daquela terra para esconderijos e fugas.

Endereço: Próximo das Avenidas Rio Pequeno e Corifeu de Azevedo Marques

 

Sítio da Ressaca

 

Na zona sul, o Sítio da Ressaca vale um olhar diferenciado. A data de construção aproximada da casa do sítio remonta a 1719, de acordo com o site do Museu da Cidade de São Paulo. Localizado próximo ao antigo caminho de Santo Amaro, a construção chama atenção pelo estilo colonial, chamada de casa bandeirante. O imóvel foi encomendado pela neta do ex-governador da capitania de São Vicente. Com 8.750 metros quadrados, o terreno já foi um quilombo de passagem, ou seja, era onde os escravizados fugitivos descansavam de suas viagens antes de seguirem para o Quilombo do Jabaquara, lugar que abrigou cerca 10 mil escravizados.

Endereço: Rua Nadra Raffoul Mokodsi, 3, Jabaquara

 

Laura Abreu