3 julho 2023 em Assistência Social

Programa de habitação provisória promove resgate de dignidade a ex-moradores em situação de rua

Mais do que moradia, uma oportunidade para recomeçar e construir a vida, com autonomia e dignidade. É o que o Programa Vila Reencontro, da Prefeitura de São Paulo, proporciona aos mais de 200 ex-moradores em situação de rua acolhidos nas duas unidades que estão em operação atualmente, na zona norte (Cruzeiro do Sul) e na região central da cidade (Anhangabaú).

Segundo a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads), estão previstas as entregas de duas novas vilas neste ano: a Vila Reencontro “Pari”, também no Centro, na segunda quinzena de julho, e a Vila Reencontro ‘Santo Amaro’, na zona sul, em agosto.

Inspirado no modelo internacional “Housing First” (moradia primeiro), o programa foi colocado em prática há seis meses e já fez a diferença na vida de muitos nesse período. O projeto tem como objetivo principal promover a reinserção social daqueles que estão em situação de vulnerabilidade. Por isso, começa tirando as pessoas da rua e dando um lar temporário a elas.

As vilas têm casas modulares com 18m² de área e oferecem um ambiente completo para os moradores. Cada unidade possui um banheiro privativo, ventilador de teto, uma mini cozinha equipada com fogão de duas bocas, geladeira e pia, além de um quarto mobiliado com cama, berço (se houver necessidade) e um guarda-roupa.

“Uma coisa que é simples para todo mundo, para mim foi um choque: eu entrei na casa e tinha uma geladeira”, afirma Luiz Henrique dos Santos, da Vila Cruzeiro do Sul, no Canindé. A mudança externa também provocou mudanças internas. “Parece que a mente da gente abre e aí começamos a focar em outras coisas, como o trabalho, conversar com pessoas diferentes, isso tudo com a ajuda do programa”, explica.

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Nas áreas comuns, os moradores podem desfrutar de uma cozinha comunitária, refeitório, lavanderia, playground, banheiros, sala para atendimentos sociais, depósito para alimentos, bicicletário, estacionamento para carroças e até mesmo uma horta. Além disso, diariamente são servidas refeições completas, como café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar.

Toda essa infraestrutura traz mais segurança para Cintia dos Santos Freitas, grávida de sete meses e acolhida com sua família na unidade Canindé. Para ela, estar no programa significa ter o conforto de um lar para recomeçar e poder cuidar dos seus filhos dignamente.

“Agora não terei mais o problema de pensar: ‘meu filho vai nascer e será que eu ainda estarei nessa casa?’, como aconteceu com o Antony [filho mais velho]. Desta vez, eu vejo que vou viver mais a maternidade, vou ter um cantinho para cuidar do meu filho sem medo de amanhã ter que mudar de lugar”, diz.

Estudo e trabalho

O Programa Reencontro é baseado em três eixos de atuação: conexão, cuidado e oportunidade. Além de fornecer moradias transitórias em casas modulares, o programa oferece capacitação profissional e encaminhamento para empregos, promovendo assim a reinserção no mercado de trabalho.

O projeto presta serviços socioassistenciais, disponibiliza cursos profissionalizantes e faz a intermediação de mão de obra, com busca ativa de vagas e incentivos para contratação tanto no setor público quanto privado.Já foi realizado mutirão para cadastramento em vagas de emprego, capacitação para entrevistas e preparação de currículos.

Há quatro meses, Marta Rodrigues da Mota foi residir na Vila Cruzeiro do Sul justamente com o objetivo de conseguir um emprego. “Já consegui. Tenho duas filhas que estão encaminhadas para trabalhar também, uma faz parte do POT (Programa Operação Trabalho) e a outra foi chamada para o jovem aprendiz”, comemora.

Jenneferly da Silva Vieira é moradora da mesma unidade e já está empregada há dois meses. “Hoje eu estou na BomPar como agente de saúde e estou muito feliz”, conta com um sorriso no rosto. Ela afirma que viu no mural de informações da vila que a BomPar teria um processo seletivo, inscreveu-se e passou para atuar no Consultório na Rua, exatamente com o que desejava trabalhar.

“Eu também vou fazer minha matrícula na faculdade para cursar Serviço Social e eu espero que um dia eu possa voltar aqui pra ajudar outras pessoas como eles me ajudaram”, diz. Jenneferly tem dois filhos e estava há seis anos em busca de moradia digna. “A Vila Reencontro é um marco na minha vida. Ano passado eu não tinha nem ensino médio e, neste ano, eu vou fazer faculdade”, completa.

Além de emprego, o acolhido Cléber Fernandes também quer finalizar os estudos. “Minha meta é terminar os estudos e aqui eu sei que vou ter espaço para conseguir”, salienta. Ele afirma que foi incentivado a me inscrever no ENCCEJA (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) para obtenção dos certificados do ensino fundamental e médio.

Também conseguiu na vila Cruzeiro do Sul a oportunidade de participar do Programa Operação Trabalho (POT), iniciativa da prefeitura que gera oportunidade de trabalho para os que se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Unidades em funcionamento

A Vila Reencontro Cruzeiro do Sul foi a primeira a ser inaugurada, em dezembro de 2022, e funciona no antigo clube da Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), em terreno com mais de 30 mil m². O investimento total na instalação dessa vila foi de R$ 2,796 milhões.

A segunda unidade, chamada Vila Reencontro Anhangabaú, foi inaugurada em fevereiro deste ano em uma área de 1.917 m² na Ladeira da Memória, no centro de São Paulo. Foram investidos mais de R$ 3 milhões nessa vila.

Ambas têm 40 casas modulares e cada uma tem capacidade para até quatro pessoas. Portanto, as vilas podem abrigar até 320 moradores no total, mas hoje têm 226 acolhidos, sendo 120 na Cruzeiro do Sul e 106 na Anhangabaú.

Para ser elegível a residir nas vilas, é necessário estar em situação de rua por um período mais recente, entre seis e 36 meses. Tanto pessoas solteiras quanto famílias podem ser acolhidas, sendo dada prioridade para as que têm crianças de 0 a seis anos ou mulheres com histórico de violência doméstica.

 

Mylena Lira