26 outubro 2023 em Educação

Projeto venceu na categoria Educação de Jovens e Adultos do 18º Prêmio Paulo Freire de Qualidade do Ensino Fundamental

Os alunos do Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos Rolando Boldrin estavam ensaiando para um coral a música “A vida de viajante,” de Luiz Gonzaga. A letra diz: “Minha vida é andar por esse país para ver se um dia descanso feliz. Guardando as recordações das terras onde passei, andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei”.

Partindo da música, junto com outros professores, a turma desenvolveu o projeto “Cordel do Viajante”, premiado na categoria Educação de Jovens e Adultos da 18ª edição do Prêmio Paulo Freire de Qualidade do Ensino Fundamental.

“Muitos dos nossos alunos são migrantes ou de família de migrantes nordestinos e se identificaram com a letra,” conta a professora Josiane Rodrigues Marques ao Expresso São Paulo.

Cada aluno desenvolveu uma estrofe em uma linguagem poética, como a literatura de cordel, contando sua história de vida. “A turma está ainda na fase de alfabetização. Então, nada melhor do que escrever sobre si próprio para treinar a leitura, a escrita e a escuta”, aponta.

De acordo com a professora, todos os estudantes se empenharam no projeto e aprenderam a dar valor à sua própria história. “Eles trouxeram um conteúdo rico, apresentando questões da migração e os sonhos que levaram na mudança de cidade. Não imaginavam o quão valiosas eram essas experiências”, lembra.

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Um dos versos de uma das alunas diz assim:

“Veio de Pernambuco por desentendimento familiar. Atrás de sua liberdade, casou. Como babá, doméstica e cozinheira, trabalhou. Teve um filho, motivo de seu orgulho. Seu sonho não cabe em São Paulo; deseja voltar para Pernambuco.”

Para ilustrar as histórias, os alunos desenvolveram ainda ilustrações usando a técnica da isogravura – parecida com a xilogravura, mas em vez de madeira, usaram placas de isopor. A linguagem também é muito aplicada nas publicações de cordel feitas no Nordeste.

Além de gramática, literatura e artes, os alunos estudaram geografia, analisando mapas interativos dos estados e regiões do país. Josiane ressalta ainda que o maior sonho desses estudantes é aprender a escrever e a ler.

“Eles não tiveram oportunidade de estudar na juventude, então, se esforçam muito nas aulas. Geralmente estão cansados após um dia de trabalho, mas o desejo de aprender é tão grande que eles não faltam. É gratificante,” diz.

Para a professora, o prêmio foi uma surpresa e um reconhecimento do trabalho dos estudantes. “Ficamos muito felizes e nos sentimos realizados, principalmente pelos alunos,” comemora. As histórias foram reunidas em uma publicação distribuída para cada um dos alunos participantes.