6 fevereiro 2024 em Pessoa Com Deficiência

Prefeitura lança nova edição de projeto voltado à comunidade surda e apresenta a Bateria Inclusiva

Com homenagem às 22 escolas de samba paulistanas parceiras da inclusão e show da banda de pagode Inimigos da HP, a 8ª edição do projeto Samba com as Mãos, que traduz em libras os sambas-enredo de agremiações da capital, foi lançada pela Prefeitura de São Paulo nesta segunda-feira (5).

Em clima de pré-Carnaval, o evento realizado na Praça das Artes, no Centro Histórico da capital, reuniu cerca de 800 pessoas – público formado por participantes de cinco instituições de pessoas com deficiência e de alas das escolas de samba.

Uma cabine de audiodescrição, recurso de acessibilidade destinado às pessoas com deficiência visual e cegas, e intérpretes da linguagem dos sinais ajudaram no acompanhamento dos shows.

Criada pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED), em parceria com a Liga das Escolas de Samba de São Paulo (Liga-SP), a iniciativa disponibiliza vídeos com a interpretação em Libras dos sambas-enredo das escolas do Grupo Especial e, desde o Carnaval passado, também do Grupo de Acesso 1.

As gravações dos 22 sambas interpretados foram realizadas em dezembro, na Fábrica do Samba. Com o apoio de integrantes das agremiações, intérpretes de Libras e surdos, eles serão disponibilizadas nas redes sociais da SMPED, respeitando a ordem dos desfiles no Sambódromo, nos dias 9, 10 e 11 de fevereiro.

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O boletim é semanal, às segundas, quartas e sextas.

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O objetivo é que até o dia dos desfiles a comunidade tenha acesso a todos os conteúdos.

Bateria Inclusiva

O principal destaque da noite foi o desfile da Bateria Inclusiva, composta por mestre, dez ritmistas, cantor, passistas e porta-estandarte, todos portadores de alguma deficiência. Alguns integrantes já participam do Carnaval de São Paulo em diversas agremiações. O grupo completo, no entanto, estreou em novembro de 2023 na Casa Brasil prestigiando atletas durante os Jogos Paralímpicos de Santiago, no Chile.

Nataly

A próxima agenda da Bateria Inclusiva será no Desfile das Campeãs, no Sambódromo do Anhembi, onde, de salto alto e cadeira de rodas, a estudante Nataly Lopes Andrade de Paulo, aos 17 anos, vai desfilar mais uma vez. Um grave doença começou a limitar seus movimentos quando tinha 10 anos, mas o apoio dos programas do município permitiram a realização do sonho de curtir o samba na avenida. Há oito anos ela desfila na Barroca Zona Sul, na Unidos de São Lucas e na Raízes de Vila Prudente, onde é passista.

Mel

Na ponta dos pés, a bailarina clássica Mel Reis, aos 39 anos, fará seu primeiro desfile na passarela do samba. Em 2002, ela sofreu um acidente de moto e lutou durante 13 anos e 39 cirurgias para não perder a perna direta. Em 2016, veio a amputação. Mas uma prótese com sapatilha de ponta a manteve na dança e, no ano passado, ajudou a transformá-la em rainha da Bateria Inclusiva.

Carolina

Carregando o estandarte da bateria, Carolina Santos leva a bandeira da inclusão desde que nasceu, há 45 anos, com uma deficiência rara que causa a ausência de braços e pernas. Desde um ano de vida, ela usa próteses nas pernas e desde a infância sempre esteve envolvida com o mundo das artes. O Carnaval entrou definitivamente em sua vida em 2019, quando o recebeu o convite do Bloco do Fico para se tornar porta-estandarte e desfilar pelo bairro do Ipiranga.

“Saber que a gente pode ocupar todos os espaços de forma leve, inclusiva e, principalmente, com alegria é bom demais”, define Carol.

Ricardo

Com deficiência auditiva, o repositor Ricardo Rodrigues Santos, 30 anos, não esconde a emoção de poder tocar justamente o surdo, instrumento que marca o tempo musical na bateria. Com a ajuda de um intérprete de libras, ele conta que, incentivado pelo pai, toca vários instrumentos desde os 4 anos, quando começou a perder a audição do ouvido direito. Hoje ele ouve muito pouco com o esquerdo. Desde 2010, integra da bateria da Vale Encantado e este ano desfila pela Terceiro Milênio. Via intérprete, ele comenta que a Bateria Inclusiva lhe dá voz. No meio de 200 ritmistas, ele é apenas mais um. Questionado sobre o que sente quando toca ele sorri, gesticula e bate no peito: “Não tem como explicar, é uma vibração contagiante”. Os gestos dispensam tradução.

 

Luly Zonta