12 abril 2024 em Saúde

Animal adotado por equipe do Hospital Dia Cidade Ademar é “funcionário” com direito a crachá

Sob o olhar da mãe, Enzo Lopes, 6 anos, de alta de uma cirurgia, aguardava o pai na recepção do Hospital Dia (HD) Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo. Para lhe fazer companhia, lá estava o Ademar, o primeiro cão hospitalar da rede municipal de saúde da capital.

Foi no mesmo hospital que o cão, à época sem dono, apareceu filhote, em janeiro do ano passado. Em busca de abrigo, comida e atenção, ele foi ficando. Hoje, o vira-lata cresceu, ganhou casa, ração, RG animal, uma família que veste jalecos e coleira com crachá. Em retribição, dá carinho aos pacientes.

Ao percorrer os corredores do hospital, Ademar transforma o ambiente. Rostos preocupados ou com expressão de dor ganham ar de surpresa e sorrisos.

Diretor clínico do HD Cidade Ademar, o pediatra Ronald Maia Filho explica que a presença do Ademar se insere num projeto maior: o Escritório do Paciente, que busca humanizar o atendimento hospitalar e melhorar a experiência do usuário na unidade, dentro do conceito de Cuidado Centrado no Paciente.

cão hospitalar

Foto: Luly Zonta/Especial para o Estadão

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“Quando o filhote apareceu aqui na porta todo mundo se encantou. Ele começou a ser cuidado pelos colaboradores e um grupo questionou se poderia ficar com o animal aqui no hospital”, lembra o médico. “Foi aí que resolvemos tomar todas as medidas para adotá-lo. Desenhamos um projeto e o clandestino ou ‘cão destino’ virou cão oficial.”

Aprovação

O projeto foi submetido ao Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS), que administra a unidade, e encaminhado à Secretaria Municipal da Saúde. A partir da aprovação veio o processo de inserção do cãozinho, que nesta época ganhou nome em alusão à unidade e à região da cidade onde fica o hospital.

Foi necessário adestramento, vacinação, vermifugação, castração e a adoção formal com RG e chip de identificação. Todo o processo levou oito meses. Além disso, Ademar passa por frequente aprovação Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, que elaborou o protocolo de circulação pelos espaços.

“Apesar de o Ademar ser dócil, para viver no hospital, além de todos os cuidados sanitários, precisa ser à prova de provocação”, diverte-se Ronald. O médico explica que mais de 50% dos atendimentos do hospital são de pediatria. Logo, o cão precisa estar preparado para a meninada que abraça, aperta, grita, puxa o rabo e as orelhas do animal.

A experiência com o uso de cães na terapêutica de pacientes é uma prática prevista pela lei municipal nº 16.827/2018, mas geralmente é feita com animais visitantes. Ademar, inclusive, já visita unidades dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) na região onde mora.

“Case” de sucesso

Segundo o médico, o caso de “Ademar, o cão hospitalar” tem sido levado a congressos e já serve de modelo para o adestramento e adoção de outros animais pela rede hospitalar do município.

Desde agosto de 2023, acompanhado do adestrador Dalton Gameleira, Ademar visita os pacientes no ambulatório, sai para dar voltas nos corredores com os colaboradores e muitas vezes acompanha a rotina de atendimento do diretor do hospital.

Responsável pelos cuidados diários do cão Ademar, a auxiliar administrativa Roseli Prado, 34 anos, que há dez trabalha no hospital, diz que se emociona todos os dias com as cenas de alívio e distração que o animal proporciona. “É gratificante e apaixonante ver a interação, principalmente com as crianças especiais e com câncer”, comenta.

Dupla jornada

A inovação também ajuda na manutenção do patrimônio do hospital. Se durante o dia o cão troca carinho com pacientes, à noite, quando os portões se fecham, ele é solto da coleira e vira vigia com a equipe da guarita.

“Ele é um cão de segurança maravilhoso. Já evitou dois assaltos à unidade e outro dia impediu que um bandido invadisse a casa do vizinho”, relata Samuel Pereira, coordenador de enfermagem do hospital.