13 dezembro 2025 em Cultura

Tecnologia disponível nas bibliotecas municipais permite leitura por meio da conversão de texto em áudio

Aos 51 anos, o cearense Francisco Antônio Saraiva de Lima reencontrou, em São Paulo, o hábito da leitura. Morador de Itaquera, ele perdeu a visão aos 40 anos, após complicações de saúde que o afastaram do trabalho e o levaram a um período prolongado de depressão. O retorno aos livros ocorreu pelo uso de óculos inteligentes capazes de transformar texto impresso em áudio em tempo real.

Frequentador assíduo da Biblioteca Mário de Andrade, no centro da cidade, Francisco passou a utilizar o equipamento regularmente. A tecnologia permite a leitura de livros, jornais, revistas, gibis e outros materiais impressos, sem a necessidade de versões em braille ou audiolivros previamente produzidos. O dispositivo escaneia o texto e o converte imediatamente em voz, ampliando o acesso ao acervo físico das bibliotecas.

O equipamento consiste em uma pequena câmera acoplada à haste de um óculos comum. Além de textos, o sistema identifica imagens, reconhece cédulas de dinheiro, cores, códigos de barras e rostos previamente cadastrados. O custo do aparelho pode chegar a R$ 16 mil, mas o uso é gratuito nas bibliotecas municipais.

Atualmente, as 54 bibliotecas da rede municipal contam com, no mínimo, dois óculos disponíveis para uso interno. Com isso, leitores com deficiência visual podem acessar qualquer um dos mais de 5 milhões de exemplares disponíveis no acervo, escolhendo diretamente nas estantes os títulos de interesse.

Para pessoas que perderam a visão ao longo da vida ou possuem baixa visão, a tecnologia amplia a autonomia no processo de leitura. O uso exige que o leitor aponte o equipamento para o texto, o que torna o recurso menos indicado para pessoas cegas de nascença, que em geral utilizam braille ou audiolivros. Ainda assim, o dispositivo complementa as opções existentes e amplia as possibilidades de acesso à informação.

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Francisco aprendeu a operar o equipamento com apoio da equipe da biblioteca e hoje utiliza os comandos com facilidade. Ele passou a ler obras de diferentes gêneros e também a escolher livros para familiares. A biblioteca se tornou parte de sua rotina e um espaço de convivência frequente.

Além dos óculos leitores, as bibliotecas municipais mantêm um acervo acessível com quase 21 mil itens, entre livros em braille, livros falados e audiolivros. Seis unidades funcionam como polos regionais especializados em braille e oferecem envio gratuito de obras por remessa postal, por meio do serviço de cecograma.

A rede também disponibiliza atendimento mediado por intérpretes de Libras para pessoas com deficiência auditiva, além de programação cultural com tradução em Libras. Os espaços contam com recursos de acessibilidade arquitetônica, como rampas, banheiros adaptados, piso tátil e balcões de atendimento adequados.

Acervo digital

No ambiente digital, a plataforma BiblioSP Digital reúne mais de 17 mil títulos com recursos de leitura em voz alta, ajustes de fonte, contraste e espaçamento, além de audiolivros. O site do Sistema Municipal de Bibliotecas possui ferramentas de acessibilidade, como audiodescrição e tradução automática para Libras, e algumas unidades oferecem salas de informática com acesso gratuito à internet.

As bibliotecas municipais também mantêm programação cultural com foco em inclusão, com atividades voltadas a diferentes públicos, como crianças, idosos e pessoas com deficiência. Oficinas, clubes de leitura e ações de estímulo à leitura fazem parte da rotina das unidades.

Com a combinação entre acervo físico, tecnologia assistiva e recursos digitais, a rede municipal de bibliotecas amplia o acesso ao conhecimento e fortalece o papel desses espaços como equipamentos públicos de cultura, cidadania e inclusão.