No Brasil, setembro é o mês escolhido para espalhar informação e conhecimento sobre saúde mental – e o que pode levar ao suicídio. Todo ano, o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio é destacado no calendário: 10 de setembro. A data é organizada pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e tem a Organização Mundial da Saúde (OMS) como copatrocinadora.
Em ação desde 2015, o Setembro Amarelo foi criado pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Durante o mês, monumentos em diferentes cidades adotam a cor amarela em suas fachadas para dar visibilidade à causa. “Tem crescido o número de pessoas que aderem à campanha e a gente tem tentado fazer mais coisas que envolvam a proposta do Setembro Amarelo”, diz Adriana Rizzo, voluntária do CVV, sobre o impacto da campanha ao longo desse tempo.
PREVENÇÃO
O CVV aposta na educação e na conversa aberta sobre suicídio. “É preciso perder o medo de falar sobre o assunto. O caminho é quebrar tabus e compartilhar informações”, defende o movimento em seu site e afirma que o suicídio é um ato de comunicação. “Quem se mata na realidade tenta se livrar da dor, do sofrimento, que, de tão imensos, parecem insuportáveis.” Ao conversar abertamente sobre o assunto, o indivíduo que idealiza o suicídio e quem estiver ao redor dele podem identificar juntos os sinais e procurar serviços que oferecem ajuda especializada. “Às vezes, a pessoa acha que está acontecendo só com ela, não conversa, não se informa e acaba ficando isolada, acha que não tem saída nem solução. À medida que fala, ela se interessa de alguma maneira e também ajuda as outras”, diz Adriana.
Para o psiquiatra Celso Lopes de Souza, educador e fundador do Programa Semente, que desenvolve aprendizagem socioemocional para crianças e adolescentes em parceria com as escolas, já está mais do que comprovado que falar sobre suicídio não agrava a situação. “Muito pelo contrário, pode ajudar a tratar”, afirma. Souza diferencia os indivíduos que têm pensamentos de morte dos que têm ideação suicida. “O pensamento de morte é mais comum. A pessoa pensa ‘eu poderia morrer’ ou ‘eu queria morrer’. A ideação do suicídio é mais grave, em que a pessoa pensa ‘eu quero me matar’”, explica. Ele diz ainda que aqueles com ideação suicida vivem três ‘is’: sentem que a dor é impossível, insuportável e interminável.
DADOS
• Segundo a OMS, mais de 90% dos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais e, portanto, podem ser evitados se as causas forem tratadas corretamente.
• No Brasil, 32 brasileiros tiram a própria vida por dia, o equivalente a uma pessoa a cada 45 minutos.
• No mundo, ocorre um suicídio a cada 40 segundos. Ações preventivas são fundamentais para reverter essa situação.
SINAIS
• isolamento
• deixar de fazer algo de que gostava muito
• descuido com aparência
• piora do desempenho na escola ou no trabalho
• alterações no sono e no apetite
• frases como “preferia estar morto” ou “quero desaparecer”
#SetembroAmarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. É neste mês que ações em diferentes esferas sociais buscam promover a saúde mental e dar destaque a centros que oferecem ajuda a quem precisa
A cor amarela segundo o CVV, representa a luz e o sol e reflete a proposta da campanha de preservar a vida; para dar visibilidade à causa, ações reforçam conscientização e conhecimento sobre o tema
O QUE EXPLICA A IDEAÇÃO SUICIDA?
Muitas pessoas que pensam sobre o assunto têm a sensação de desesperança e que a única solução disponível seria a morte. “O suicídio é o ato mais individual do ser humano. Contudo, como qualquer fenômeno humano, implica um entendimento bio e psicossocial. O isolamento, a sensação de desintegração social e de não pertencer detêm um peso significativo na decisão suicida. Quando ajudadas a tempo, as pessoas podem entender que há outras formas de resolver as suas circunstâncias e que há quem se encontre empenhado em ajudá-las”, diz a psicóloga Elaine Di Sarno, especialista em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (IPq-HC).
DEPRESSÃO E OUTROS FATORES
“As teorias recentes defendem que pode haver uma predisposição individual para o suicídio, que é ativada ao longo da vida por experiências negativas precoces (experiências traumáticas) que vão dar origem a um padrão de pensamento negativo. Os números apontam-nos um grande culpado. Mais de 50% das pessoas que se suicidaram sofriam de depressão”, diz Elaine Di Sarno. Situações de separação, divórcio, luto recente, solidão, desemprego, mudança ou perda recente de trabalho, problemas escolares ou laborais, doença grave ou crônica e dependência de drogas e álcool podem, efetivamente, resultar numa resposta negativa e levar ao suicídio.
AJUDA
No Brasil, o CVV oferece atendimento voluntário e gratuito 24 horas por dia a quem está com pensamentos suicidas ou enfrenta outros problemas. A organização, uma das mais antigas do País, atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio por meio do telefone 188 e também por chat, e-mail e pessoalmente. Informações em www.cvv.org.br/quero-conversar
Com reportagem de Camila Tuchlinski e Ludimila Honorato, O Estado de S. Paulo