Enquanto a vacinação contra a covid-19 avança no País, a cobertura para outros imunizantes que ajudaram a eliminar doenças do território nacional está em declínio. A queda na proteção contra enfermidades preveníveis foi catalisada pela pandemia, mas não causada por ela. Desde 2015, todas as vacinas do Programa Nacional de Imunizações (PNI) sofreram reduções significativas na sua cobertura. Os índices que ficavam acima de 90%, caíram para níveis equivalentes aos da década de 1980, acendendo um alerta em pais e especialistas.
“O PNI é, sem dúvida, o maior exemplo de sucesso na saúde pública brasileira”, afirma Daniel Jarovsky, pediatra e infectologista do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo. “O sarampo chegou a ser eliminado do território nacional, mas voltou a circular em 2018, porque a cobertura vacinal caiu.”
Atualmente, a segunda dose da tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, está em 47%, o mesmo nível da dose de reforço contra a poliomielite, aponta o pediatra Eduardo Jorge Fonseca, membro do comitê de imunização da Sociedade Brasileira de Pediatria e representante da regional Pernambuco da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Em 2020, somente 19% dos pré-adolescentes de 11 e 12 anos tomaram a meningocócica conjugada quadrivalente, que protege
contra a meningite.
“Esses dados são extremamente preocupantes”, diz Fonseca. “Em 2020 e 2021, houve redução de casos de todos os vírus e bactérias respiratórios. A minha preocupação é que, quando a covid estiver controlada e as pessoas deixarem de usar a máscara, haverá uma população pouco protegida contra outras doenças e suscetível a infecções. Os pais precisam correr para atualizar o calendário das crianças e adolescentes.”
Para blindar a saúde da criança, todos ao seu redor – pais, avós, babás, irmãos – têm de estar com a carteirinha em dia para influenza (gripe), coqueluche, pneumonia, sarampo, rubéola, caxumba e varicela (catapora)
O Programa Nacional de Imunização existe desde 1973 para prevenir e controlar doenças. O plano inclui 18 imunizantes contra mais de 20 doenças
POR QUE A COBERTURA ESTÁ BAIXA?
O pediatra Eduardo Jorge Fonseca, da Sociedade Brasileira de Pediatria, aponta alguns motivos para a queda na vacinação. “As vacinas são vítimas do próprio sucesso”, diz o médico
- Falsa sensação de segurança, porque, graças à imunização de gerações anteriores, muitas doenças foram controladas ou erradicadas
- Preocupação excessiva com efeitos colaterais leves, como dor, febre e irritabilidade, como se fossem mais relevantes do que a proteção
- Medo equivocado de que as vacinas sobrecarreguem o sistema imune
- Falta de tempo dos pais — os postos de saúde deveriam abrir também no turno da noite
Quem nos preocupa são os hesitantes. Eles questionam, adiam as doses e escolhem quais imunizantes tomar
Eduardo Jorge Fonseca, médico e integrante da Sociedade Brasileira de Pediatria
BEBÊS PREMATUROS
Respeitar o calendário de vacinação é importante para a saúde de todos os bebês. No caso dos prematuros, o rigor deve ser ainda maior. “Por causa do sistema imunológico debilitado, eles têm mais risco de desenvolver doenças infecciosas graves”, diz Daniel Jarovsky, pediatra e infectologista do Hospital Infantil Sabará.
A cronologia de imunização é a mesma para todos: ao nascer, o bebê recebe a primeira dose da hepatite B. A dose única da BCG, que previne formas graves da tuberculose, o recém-nascido precisa pesar pelo menos 2 quilos. As demais vacinas começam a ser aplicadas com dois meses de vida. Segundo Jarovsky, qualquer bebê saudável pode ser imunizado, desde que não tenha uma contraindicação específica.
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