Ela já foi chamada de “bike de preguiçoso” e agora ganha as ruas. Os adeptos destacam comodidade, velocidade, segurança e mudança no estilo de vida. A reportagem de Juliana Diógenes e Giovana Girardi conta como a bicicleta elétrica está se transformando em uma alternativa concreta (para muitos, já virou) de transporte em São Paulo.
“Foi uma mudança de paradigma. Saí do carro blindado para a bicicleta elétrica.” Há quase um ano, o dentista Rogério Granja, de 45 anos, largou o automóvel na garagem e passou a sair sobre duas rodas na maioria dos deslocamentos, até para ir trabalhar. “Optei por comodidade. Em dias de calor, não quero chegar suado ao trabalho”, explica Granja.
Diariamente, ele percorre pelo menos dez quilômetros: vai de casa, no Campo Belo, na zona sul da capital, até a Vila Nova Conceição, onde fica seu consultório. “Hoje, sei todas as lojas que estão em volta da minha casa e do meu consultório. Eu cumprimento os seguranças e os manobristas do prédio. Você se torna uma pessoa mais sociável. Muda a interação com a cidade. Dentro do carro, você fica achando que o mundo lá fora não te pertence.”
Capazes de atingir até 25 km/h – velocidade máxima permitida em ciclofaixas e ciclovias, segundo o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) –, as elétricas atraem um público que tinha dificuldade de usar bicicletas pelos mais diversos motivos, como não querer chegar suado ao local de trabalho, não conseguir transpor as ladeiras e ter receio do trânsito. Com a ajuda do motor, é mais fácil largar em um semáforo e pedalar perto dos carros.
Palavra de quem pedala 1
Aníbal Codina, engenheiro, usa a bike elétrica desde março para ir e voltar do trabalho, perto do Shopping Santa Cruz. São cinco quilômetros de distância, com subidas íngremes. “Consigo subir pedalando sem transpirar. Se não fosse subida, estava na bicicleta normal”, diz Codina, que investiu cerca de R$ 13 mil, entre veículo e acessórios. “Hoje, só uso [o carro] para deixar minhas filhas na escola. Quando saio à noite, vou de bicicleta ou peço transporte por aplicativo.”
Palavra de quem pedala 2
A editora de vídeos Silvia Ballan, de 45 anos, já levava as filhas para a escola numa bicicleta convencional há anos – e escrevia em um blog sobre a experiência para estimular outros pais. Em 2012, ela abandonou o carro definitivamente, passando a se locomover para todos os lugares na magrelinha. Dois anos atrás, quando a filha começou a crescer e passou a pesar na garupa, ela pensou em desistir. Até que conheceu a e-bike. “Tem hora que cansa pedalar, porque São Paulo é uma cidade de muitas ladeiras. A elétrica quebra tudo isso. Ela sobe tranquilamente e me proporciona o que uma bicicleta convencional não oferece. Me sinto segura em ruas mais escuras. A velocidade é um benefício não somente para as ruas com ladeira, mas para a segurança.”
Ocupação ciclovia
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 2017 o Brasil importou 2.165 bicicletas elétricas inteiras. Somente até agosto deste ano, o número quintuplicou: o País importou 13.203 e-bikes. A tendência é tão nova que a classificação fiscal do produto foi criada pela Receita Federal somente ao final de 2016.
Na ciclovia da Avenida Brigadeiro Faria Lima, um levantamento feito pela Aliança Bike observou que as elétricas dobraram de concentração nos últimos três anos. Em 2015, representavam 2% do total de bikes circulando por ali, hoje já são 9%. Mapeamento feito pela empresa Vela junto a cerca de mil usuários também mostrou que a maioria se concentra naquela região e nas ciclovias da Consolação, da Paulista e da Sumaré.