A forma como nos relacionamos com o meio ambiente interfere na saúde de todos os seres humanos e não humanos. E tem a ver com o coronavírus. Entenda
A poluição diminuiu no Brasil e no mundo com as pessoas em casa?
Sim. Dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), compilados durante o começo da quarentena, em março, mostram que os índices de poluição atmosférica na capital paulista tiveram redução de 50% em apenas uma semana, principalmente pela queda na circulação de veículos. Além disso, imagens de satélites já fotografaram várias regiões ao redor do mundo com menos fumaça sobre as cidades. O ar melhorou, houve redução de consumo de combustíveis fósseis e caiu a poluição aérea, porque o tráfego de aviões também diminuiu.
O Acordo do Clima de Paris prevê a redução da emissão de gases do efeito estufa e o controle do aquecimento global. Objetivos como esses podem ser alcançados agora?
Segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a pandemia de coronavírus deve resultar em uma diminuição de 8% nas emissões de dióxido de carbono em 2020, em comparação com o ano de 2019. Mas isso ainda é considerado pouco para atingir o objetivo do Acordo de Paris.
Qual seria a redução necessária?
Precisaríamos ter uma redução de 8% a cada ano até 2030 para atingir o objetivo do Acordo de Paris. Especialistas ressaltam que, em todas as crises observadas nos últimos tempos, como a Segunda Guerra Mundial e a crise de 2008, houve redução das emissões por causa da diminuição das atividades econômicas, mas nos anos seguintes elas ficaram altas, até como um esforço para retomar a economia.
O comportamento da sociedade precisa mudar.
Como a pandemia do novo coronavírus é uma crise humanitária e de saúde, talvez tenhamos uma chance maior de mudar o comportamento. Estamos comprovando que podemos consumir menos, trabalhar em casa e diminuir o trânsito.
É verdade que animais como tartarugas estão aparecendo cada vez mais nas praias?
São reais os relatos da presença de animais em locais onde já não eram mais vistos, como uma espécie rara de tartaruga na costa da Índia e peixes em Veneza, na Itália. Para manter esse cenário, especialistas afirmam que será necessário repensar e reformular o atual modelo de exploração econômica da sociedade, incluindo os moldes em que são feitas atividades turísticas e de lazer.
O coronavírus é um efeito da destruição do meio ambiente?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as evidências científicas sugerem que o coronavírus teve origem animal. A destruição do meio ambiente pode ter impulsionado a contaminação. Problemas com o desmatamento tornam o ambiente hostil aos animais e os empurra para viver mais próximos dos seres humanos. Proximidade oferece aos vírus neles alojados meios de chegar e se adaptar ao organismo humano.
Fontes: David Zee, professor da Faculdade de Oceanografia da UERJ; Henrique Barbosa, professor do Instituto de Física da USP; Liane Biehl Printes, chefe do Departamento de Apoio à Educação Ambiental da UFSCar
PARA PENSAR - PARTE 1 “Estamos vivendo agora um dilema. Se morremos com a pandemia ou torrados, quando a terra tiver aumentado 1,5 grau de temperatura. Até 2035, vamos começar a nos encapsular em lugares gelados para não morrer torrados. Vai morrer muito mais gente disso do que da Covid-19” (Ailton Krenak, indígena do Vale do Rio Doce, ambientalista e autor de "Ideias para adiar o fim do mundo", da Companhia das Letras)
PARA PENSAR - PARTE 2 “É preciso parar a velocidade do progresso para chegar no futuro com alguma chance de restauração. Estamos atrasados. O que vamos ter de aprender daqui para frente é mitigar. A ideia de progresso nasceu com a noção de que estávamos constituindo uma experiência vitoriosa sobre a vida aqui na terra. Isso foi um engano” (Ailton Krenak, indígena do Vale do Rio Doce, ambientalista e autor de "Ideias para adiar o fim do mundo", da Companhia das Letras)