Novos prédios com foco em idosos incluem posto de saúde e até robôs; mercado imobiliário tem olhado com mais atenção para esse público
O envelhecimento tem feito as construtoras apostarem em projetos que se adaptam às necessidades dos idosos. Entre as novidades, estão prédios que incluem ambulatórios médicos internos, espaços adaptados e até robôs que ajudam na rotina dos moradores. Em um residencial sênior, você usufrui de serviços incluídos no valor do condomínio e pode agregar outros, pagos à parte, à medida em que envelhece. É o conceito aging in place, consolidado nos Estados Unidos, e que ganha força no Brasil.
O condomínio Vintage Senior Residence, projeto da Cyrela em Porto Alegre (RS), oferece enfermeiro 24 horas a partir de uma parceria com o Grupo ATS, especializado em gestão da saúde. Além disso, os botões antipânico dos 120 apartamentos (um no quarto e outro no banheiro) acionam a recepção e o ambulatório.
A enfermeira Mariana Guaragna conta que os atendimentos mais comuns envolvem a medição de pressão arterial, temperatura, saturação de oxigênio e glicose. Em quase seis meses de funcionamento, a única emergência foi um caso de desidratação grave de um paciente com covid-19. A ambulância foi chamada, mas ele não precisou de internação.
Mudança de hábito — Morador do condomínio Vintage Senior, o aposentado Gentil Sancandi, de 85 anos, conta que ficou mais ativo após a mudança para o novo endereço. Sem problema grave de saúde, ele fala com orgulho da pressão quase sempre na casa dos 12 x 8, conferida no condomínio. Sancandi faz exercícios de alongamento na academia, algo que nunca tinha feito na vida, e gosta de caminhar. Prefere as áreas verdes, porque a esteira é rápida para ele, que usa andador. O prédio tem piscina, mas o idoso tem receio por causa do aparelho auditivo. Esses serviços estão incluídos no condomínio, de R$ 1,1 mil. As duas sessões de fisioterapia que ele faz por semana são pagas à parte. Após viver em sua própria casa e num lar de idosos no interior, o gaúcho quis ficar mais perto das filhas na capital. “Ele é bem ativo, aproveita bem as coisas do condomínio. No interior, ficava só no quarto”, relata a cuidadora Daisy Peixoto.Foto: JEFFERSON BERNARDES / ESTADÃO
Em Curitiba, a construtora Laguna promete também usar a tecnologia como aliada. O empreendimento Bioos tem duas torres: uma residencial, com 108 apartamentos, e outra que é um centro médico, com um hospital-dia para procedimentos de baixa complexidade e que vai atender também os não residentes no condomínio. Quem quiser, poderá comprar um robô de telepresença. Além de assistências virtuais, como acender e apagar a luz e sintonizar o programa de TV favorito, o robô se movimenta pela casa e o idoso não precisa levantar toda hora. Preço R$ 60 mil. Com entrega prevista para 2025, o lugar tem apartamentos que custam de R$ 550 mil a R$ 1,1 milhão.
Em São Paulo, o Matture Home Life, da construtora Matushita, prevê uma parceria na área de telemedicina, que vai oferecer atendimento para consultas de emergências aos moradores. O edifício será erguido na região da Vila Mariana, zona sul. As obras começam neste semestre e têm entrega prevista em 30 meses.
Estudo da Fundação Seade diz que, em cinco décadas, a expectativa de vida de quem vive no Estado de São Paulo estará 17,7 anos maior do que é hoje
Alguns empreendimentos imobiliários anunciam isso [acessibilidade] como diferencial. Isso é básico, elementar. Velhice não é doença, é um período da vida (arquiteta e urbanista Lilian Avivia Lubochinski, que assina projetos de condomínios para idosos no Brasil e no exterior)
A demanda crescente de São Paulo ainda não é atendida. Certamente, é um segmento com alto potencial (Luiz França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias)
O mercado ainda está no início no Brasil. Há um problema na formação técnica de arquitetos e engenheiros. Não há disciplinas formais sobre projetos de saúde e bem-estar nos cursos. Só na pós (Norton Mello, engenheiro e autor do livro Senior Living)
Verificamos aumento do público, o que permitirá escala suficiente para novos empreendimentos (Claudio Bernardes, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Administração de Imóveis em São Paulo)
LEI DE 2020 OBRIGA IMÓVEIS A TER MAIS ACESSIBILIDADE Em vigor desde 2020, a Lei de Acessibilidade promove, indiretamente, a inclusão dos idosos no mercado imobiliário. Embora fixe normas de acessibilidade das pessoas com deficiência, ela prevê, por exemplo, a necessidade de corredores e elevadores mais largos para macas e cadeiras de rodas. 'A norma está sendo implementada, mas alguns empreendimentos imobiliários anunciam isso como diferencial. Isso é básico, elementar', afirma a arquiteta e urbanista Lilian Avivia Lubochinski, que assina projetos de condomínios para idosos no Brasil e no exterior. 'Velhice não é doença, é um período da vida', continua.
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