Enquanto o Brasil registra os piores índices de queimadas dos últimos anos, governo federal tem executado um volume mínimo do orçamento previsto para financiar ações de combate e prevenção contra incêndios
Dados do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop) mostram que, no primeiro semestre de 2022, foram usados apenas 18% dos recursos previstos no Ministério do Meio Ambiente para “prevenção e controle de incêndios florestais nas áreas federais prioritárias”.
Em julho, auge do período seco na maior parte do País, somente R$ 32 milhões de um orçamento total de R$ 175 milhões reservados para essas ações foram utilizados. Do total disponível, 51% foram empenhados até o momento, ou seja, carimbados para pagamentos.
Dados apontam que a mudança de ministro no meio ambiente não resolveu o problema dos incêndios na região amazônica. Pelo contrário, há uma intensificação dos crimes ambientais
“Infelizmente, os dados apontam que a mudança de ministro no meio ambiente não resolveu o problema dos incêndios na região amazônica. Pelo contrário, temos a intensificação de crimes ambientais, que consequentemente, são crimes contra a vida dos povos da Amazônia”, diz a deputada Vivi Reis (PSOL-PA), que reuniu os dados. O Ministério do Meio Ambiente foi questionado pela reportagem sobre a baixa execução no orçamento, mas não se manifestou a respeito.
FOCOS DE INCÊNDIO
Primeiro semestre de 2022
Floresta Amazônica: 7.533 = crescimento de 17%
Cerrado: 10.869 = crescimento de 13%
Junho de 2022
Floresta Amazônica: 2.562 focos de incêndio = pior junho desde 2007
Cerrado: 4.239 registros = pior junho de 2010
Desde 2019, primeiro ano da gestão do presidente Jair Bolsonaro, esse índice é crescente. Historicamente, anos eleitorais têm os maiores índices de desmatamento e queimadas
Fonte: Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia
CENÁRIO SOMBRIO NO DESMATAMENTO
No primeiro semestre de 2022, 3.988 km² da Floresta Amazônica foram devastados. O desmatamento deste primeiro semestre é o maior já registrado para esse período desde 2016, desde o início da série histórica no Inpe. Para ter uma ideia, o que ocorreu no primeiro semestre de 2022 é praticamente o triplo do volume registrado no mesmo intervalo de 2017, quando o desmatamento chegou a 1.332 km² na região. É o quarto ano consecutivo com recordes de desmatamento no período e supera em 10,6% a área devastada nos primeiros seis meses de 2021. O governo Jair Bolsonaro tem sido alvo de cobranças no Brasil e no exterior por causa do aumento do desmate.
O mês de junho também teve a pior marca da série histórica. Foram devastados 1.120 km² no mês na Amazônia, 5% a mais que em junho de 2021. Os Estados mais desmatados em junho de 2022 foram o Amazonas (401 km²) e o Pará (381 km²).
No Cerrado, foram desmatados 1.026 km² só no mês de junho, mais que o dobro do registrado em 2021 (485 km²) e 2020 (427 km²), um aumento de 111,5% em comparação a junho do ano passado. No acumulado do ano, entre o início de janeiro e o fim de junho, foram devastados 3.638 km² no Cerrado, um aumento de 44,5% em comparação aos seis primeiros meses de 2021, quando foram destruídos 2.518 km².