O conteúdo é viral: só a tag #testedadepressao tem cerca de 4 milhões de visualizações
Com reportagem de Leon Ferrari
Além das dancinhas e memes, um assunto sério tem ganhado destaque na plataforma de vídeos curtos TikTok: saúde mental. Com músicas dramáticas e tristes – algumas entoadas pela jovem cantora americana Billie Eilish -, usuários compartilham resultados de “testes” de ansiedade, depressão e estresse feitos na web. O conteúdo é viral: só a tag #testedadepressao tem cerca de 4 milhões de visualizações.
Psiquiatras destacam que um check-list de sintomas não faz diagnóstico, que, obrigatoriamente, depende de avaliação médica. Os especialistas veem risco de automedicação em virtude desse autodiagnóstico e orientam que “quem suspeite vivenciar um desses quadros busque profissional de saúde”.
Como funciona
Em sites fora do TikTok, a pessoa faz o “teste” em poucos minutos – por volta de dez.
O internauta apenas avalia sentenças e manifesta seu grau de concordância.
A página, então, gera os resultados que vão de “normal” até “severo” para cada um dos fenômenos (depressão, ansiedade e estresse).
O usuário, por meio de vídeos ou fotos, compartilha sua “ficha” na plataforma de entretenimento.
E tem fundamento?
A maioria dos testes divulgados no TikTok se baseia na versão reduzida da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (Dass-21). Ela é um instrumento de autorrelato (a própria pessoa se avalia) projetado para medir estados emocionais que podem indicar as três condições. O questionário foi desenvolvido por pesquisadores da University of New South Wales, na Austrália, na década de 1990.
Conforme o site da universidade australiana, porém, alimentado pelo codesenvolvedor do método, Peter Lovibond, “a aplicação não exige ‘habilidades especiais’, mas a leitura dos resultados deve ser feita por um “profissional de saúde devidamente qualificado“. A interpretação automatizada não é nunca recomendada, pois pode ser “enganosa” e “potencialmente perigosa”.
Lado bom: reduzir estigmas
O psiquiatra Jose Gallucci Neto, diretor do serviço de eletroconvulsoterapia (ECT) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP, destaca que esse tipo de escala não foi “desenhada para fazer diagnóstico”. Serve principalmente para pesquisa (triagem de casos) ou para analisar e aprimorar tratamentos aplicados em uma população já diagnosticada.
Apesar dos riscos e limitações, os “testes” podem ter um lado benéfico: o de reduzir o estigma em relação aos transtornos mentais. A avaliação é do psiquiatra e colunista do Estadão Daniel Martins De Barros.
Em um vídeo em seu canal no YouTube, Barros diz que é “bom” que as pessoas compartilhem os resultados. Isso porque, de acordo com ele, mesmo com diagnósticos de profissionais, um grande número de pessoas com depressão não se trata por causa do preconceito.