No dia 26 de julho, uma mulher foi assassinada com dez tiros ao lado do filho. O suspeito da ação é seu ex-marido. Duas semanas antes, outra sofreu um estupro durante o parto, enquanto estava na mesa de cirurgia passando pelos procedimentos de uma cesariana. O anestesista do hospital cometeu o crime enquanto a paciente estava inconsciente.
No mesmo período, veio à tona o caso de uma menina de 11 anos que deu à luz após ter sido estuprada. O padrasto é o suspeito pela violência. Testemunhas afirmam que a criança era mantida em cárcere privado há dois anos.
Cerca de um mês atrás, em junho de 2022, outra menina de 11 anos, também vítima de estupro, engravidou e foi induzida pela juíza Joana Ribeiro a desistir de prosseguir com o aborto legal. A criança só teve a garantia do seu direito após a repercussão do caso.
Ainda em junho, a atriz Klara Castanho anunciou ter engravidado em decorrência de uma violência sexual. Ao dar a luz à criança, decidiu entregá-la para a fila de doação. Mas, antes, foi exposta e julgada.
Dias, meses… Mais precisamente a cada sete horas, corpos femininos são assassinados por homens que acreditam ter poder sobre nós. Esse levantamento foi feito em 2021, pela ONG Fórum de Segurança Pública, que também elencou que a cada dez minutos mulheres são vítimas de estupro.
Mesmo com direitos assegurados pela Lei no caso do aborto legal, além do trauma, lidamos com a culpa imposta por uma sociedade conservadora e que ainda acredita que mulheres não têm direito de escolha.
Direitos esses que também são postos à prova quando falamos de proteção às vítimas de violência doméstica, já que muitas não se sentem seguras, mesmo após acionar medidas de proteção previstas para o afastamento de seu agressor.
Morremos, mas se sobrevivemos diante de tanta violência, teremos que lidar com dores que não deveriam ser nossas.
É lembrar daquele dia em que você (no caso eu) estava em um ponto de ônibus escuro, quando um homem se sentiu no direito de mostrar sua genitália. Corri assustada. Escutar de uma amiga, que enquanto dormia no transporte público, indo para o trabalho, teve seu corpo assediado, com uma mão masculina em suas partes íntimas. Acordou com medo.
O que temos em comum? Somos mortas, estupradas, julgadas, interpeladas, corrompidas pelo simples fato de existirmos.
Fiquei pensando se na coluna deste mês escreveria sobre um assunto tão dolorido para todas nós. Falar da violação de corpos como o meu é trazer um sentimento de repulsa pelo não respeito à minha e à nossa existência.
Refleti sobre qual seria a solução para que possamos viver sem medo, quais são as saídas que temos contra os abusos que sofremos todos os dias?
Estamos em um ano eleitoral, em que escolheremos quem assumirá o cargo para presidente da República, governador, senador, deputado federal, deputado estadual ou distrital.
O candidato que você está prevendo eleger tem em seu plano de governo medidas que acabem com a violência contra nós? Tem na base de seu partido a inclusão de mulheres comprometidas com a agenda contra o machismo? Leva em conta a importância do combate ao racismo e à homofobia?
Não acredito apenas na política institucional como ferramenta de transformação social. Para além disso, é preciso continuarmos com nossa tarefa de seguir denunciando essas atrocidades e exigindo respeito e o direito de controle sobre nossos corpos.
No entanto, é fundamental pensar nessas questões no momento em que decidirmos em quem confiamos o País por mais quatro anos. Seu voto pode ser decisivo para que tenhamos menos manchetes sobre a violência contra as mulheres e para que sintamos menos dor.