Erradicada do Brasil há 28 anos, paralisia infantil volta a ameaçar; campanha de vacinação vai até 9 de setembro
Com reportagem de Caio Possati, especial para O Estado de S. Paulo
A última vez que o Brasil registrou um caso de poliomielite foi em 1989. A ausência de diagnósticos nos cinco anos seguintes levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a reconhecer, em 1994, que o País eliminou o vírus da paralisia infantil (como a pólio também é chamada) em todo território nacional. Mesmo assim, especialistas ouvidos pelo Estadão fazem um apelo para que as crianças sejam vacinadas contra a doença, mesmo que o vírus não tenha sido detectado há mais de 30 anos em terras brasileiras.
O Brasil registra quedas na cobertura vacinal contra a pólio desde 2016. Segundo o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), as doses previstas para a vacina inativada contra a pólio – as que são administradas em bebês com menos de 1 ano completo — atingiram a meta pela última vez em 2015, quando a cobertura foi de 98,29%. A partir daí, a adesão despencou. Até que em 2021, o porcentual ficou abaixo de 70% pela primeira vez, com 69,9%. Ou seja, a cada 10 crianças, três não estão plenamente protegidas.
A vacina disponível pelo SUS, gratuita e acessível, é altamente eficaz e o efeito de imunização não atinge somente um único indivíduo, mas é importante para a proteção coletiva também. “O benefício da vacina vai além da proteção só da criança. Impede-se a transmissão de outras pessoas e, nesse sentido, (a vacinação) é importante para a imunidade de rebanho e para que o vírus não circule em comunidade”, diz Monica Levi, presidente da Sociedade Brasileira de Imunização.
O QUE É POLIOMIELITE (PÓLIO OU PARALISIA INFANTIL)
A poliomielite é uma doença altamente contagiosa, que atinge principalmente crianças com menos de cinco anos e que vivem em alta vulnerabilidade social, em locais onde não há tratamento de água e esgoto adequado.
O poliovírus é transmitido de pessoa para pessoa por via fecal-oral ou por água ou alimentos contaminados, e também de forma oral-oral, por meio de gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar.
O vírus ataca o intestino, mas pode chegar ao sistema nervoso e provocar paralisia irreversível — daí o nome paralisia infantil — em membros como as pernas, e também dos músculos respiratórios, levando o paciente à morte.
A poliomielite não tem cura. A prevenção é feita com a vacina.
CAMPANHA DE VACINAÇÃO VAI ATÉ 9 DE SETEMBRO A boa notícia é que o Brasil está em campanha nacional de vacinação contra a poliomielite até o dia 9 de setembro. O objetivo da mobilização é alcançar uma cobertura vacinal igual ou maior que 95% em crianças de 1 a 5 anos de idade, e proteger o público de até 15 anos com imunizantes do Calendário Nacional de Vacinação (veja a lista das vacinas distribuídas). Saiba como funciona a vacinação.
PERIGO REAL
Segundo a Organização Panamericana de Saúde (Opas), o País corre o risco de registrar novos casos da doença
- A circulação do vírus pelo mundo aumentou
- Outros países têm feito notificações de novos casos
- Os índices de vacinação estão abaixo da meta de 95%
- Desde 2016, o País não ultrapassa a linha de 90% de crianças vacinadas
- Em 2019, a adesão caiu para 84,19%
- Em 2020, muito em razão da pandemia de covid-19, o índice chegou a 76,15% dos bebês imunizados
- Em 2021, o porcentual ficou abaixo de 70% pela primeira vez, com 69,9%
Enquanto houver circulação do vírus no mundo, sempre há risco de retorno da doença. Se há uma pessoa contaminada, em meio a uma população que não está vacinada, o poliovírus pode se espalhar rapidamente (Mônica Levi, diretora da SBIm)
POR QUE VACINAR AS CRIANÇAS AGORA?
Porque o poliovírus, causador da poliomielite, não foi completamente erradicado do mundo e, embora os casos de infectados tenham sofrido uma queda de 99% nas últimas décadas (caiu de 350 mil casos estimados, em 1988, para 29 contaminações notificadas em 2018), a Opas alerta que se a doença — que não tem cura — não for completamente eliminada no planeta, 200 mil novas infecções podem acontecer a cada ano dentro de uma década.
Em julho de 2022, os Estados Unidos detectaram uma contaminação por poliomielite depois de 29 anos. O caso foi identificado no Condado de Rockland, em Nova York, e de acordo com o Departamento de Saúde do estado, a infecção pode ter acontecido fora do país. Moçambique (em maio) e Malauí (em fevereiro) também registraram pacientes diagnosticados com pólio.
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