Até o último balanço foram confirmadas 585 mortes — aumento superior a 130% em relação aos 246 óbitos contabilizados em 2021. Especialistas afirmam que é uma das piores epidemias da doença
Com reportagem de Renata Okumura, O Estado de S. Paulo
Independentemente da estação do ano, as medidas de combate à dengue devem ser mantidas de forma contínua. Embora o período conhecido como de maior transmissão seja entre novembro e maio, as mudanças climáticas têm ampliado os riscos de proliferação do mosquito transmissor mesmo em outras estações do ano. Entre 2 de janeiro e 18 de junho de 2022, conforme o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram registrados 1.172.882 casos de dengue no Brasil, o dobro de notificações registradas ao longo de todo o ano passado: 534.743.
Até o último balanço foram confirmadas 585 mortes — aumento superior a 130% em relação aos 246 óbitos contabilizados em 2021. Entre os Estados que apresentaram o maior número estão: São Paulo (200), Santa Catarina (66), Paraná (60), Rio Grande do Sul (57) e Goiás (55).
“Os casos de dengue estão estourando. Já temos mais óbitos, em apenas seis meses, do que os registrados ao longo de todo o ano passado. Estamos vivenciando uma das piores epidemias da doença. E há receio de termos um cenário pior que o registrado em 2015, quando houve uma das piores epidemias da doença, com 986 mortes”, avalia o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Embora o Aedes aegypti não sobreviva por muito tempo em baixas temperaturas — ao contrário do verão, quando o ciclo de vida pode chegar a até 60 dias —, os ovos e as larvas depositados na água permanecem vivos, podendo se desenvolver e dar origem a novos mosquitos com a chegada de semanas quentes, em qualquer época do ano.
Segundo o Ministério da Saúde, o período do ano com maior transmissão ocorre nos meses mais chuvosos de cada região, geralmente de novembro a maio. O acúmulo de água parada contribui para a proliferação do mosquito e, consequentemente, a maior disseminação da doença. No entanto, em anos com invernos chuvosos como o de 2022, o número de casos também tende a crescer, caso medidas de controle não sejam mantidas.
“Tivemos dois fatores. A questão toda é a chuva, mas no começo do inverno, no Sudeste e Sul, por exemplo, fez muito calor. Semanas com temperaturas maiores. Ou seja, as mudanças climáticas fazem com que a temperatura mais quente e mais chuva ofereçam uma condição perfeita para a proliferação do vetor”, observa Barbosa.
O surgimento de outras doenças, como a covid-19, tende a reduzir o número de campanhas de conscientização, assim como provocar o relaxamento de ações preventivas por parte da própria população.
“As pessoas acabam relaxando mais com relação às medidas de controle de combate à doença. Essa falta de ação contínua de conscientização por parte das autoridades e o relaxamento da população impactam no aumento de casos. Precisam ser retomadas o quanto antes. Está circulando o genótipo 2, que fazia um tempo que não circulava, que não é o mesmo da epidemia de 2015, desta forma, as pessoas têm mais suscetibilidade ao vírus”, acrescenta o médico infectologista da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
São Paulo é o Estado com mais óbitos no Brasil – Liderando o número de óbitos por dengue no País, o Estado de São Paulo registra 292,1 mil casos de dengue e 250 óbitos até agosto de 2022, número que já apresenta alta em relação aos dados registrados até junho pelo Ministério da Saúde. Em 2021, foram contabilizados 145,8 mil casos e 71 mortes em todo o ano.
Ainda de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo as cinco cidades com maior número de óbitos pela doença até o momento são: Araraquara (17), Franca (14), Santa Bárbara d’Oeste (13), São José do Rio Preto (7) e Americana (7).
Para ajudar no combate à doença, o governo paulista está investindo R$ 10,7 milhões para apoiar prefeituras no controle da dengue, zika e chikungunya. “Os 291 municípios beneficiados foram selecionados com base nos indicadores epidemiológicos e entomológicos. Os recursos serão utilizados em ações de combate à disseminação do mosquito transmissor e monitoramento dos casos notificados”, disse, em nota.
A secretaria acrescenta que o enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti é uma tarefa contínua e coletiva, cabendo aos municípios o trabalho de campo para combate ao transmissor de dengue.
SINTOMAS DA DENGUE A doença pode ser assintomática ou pode evoluir até quadros mais graves, como hemorragia e choque. Na dengue clássica, a primeira manifestação é febre alta (39° a 40°C) e de início abrupto, usualmente seguida de dor de cabeça ou nos olhos, cansaço ou dores musculares e ósseas, falta de apetite, náuseas, tontura, vômitos e erupções na pele (semelhantes à rubéola). A doença tem duração de cinco a sete dias (máximo de 10), mas o período de convalescença pode ser acompanhado de grande debilidade física, e prolongar-se por várias semanas.