Batalhar por direitos iguais para mulheres e homens é importante para melhorar a vida, as relações e o futuro. Nesse sentido, os primeiros passos são reconhecer as desigualdades e buscar o equilíbrio. Consta de alguma lista de efemérides perto de você: 26 de agosto é o Dia Internacional da Igualdade Feminina. Foi criado para marcar a data em que as norte-americanas puderam votar pela primeira vez em 1920 e para propor a reflexão sobre formas de fazer desaparecer desigualdades de direitos e condições entre homens e mulheres na economia, no trabalho, na política, na educação e na vida em sociedade (no dia a dia, nas ruas, no transporte público…).
Reunimos números não muito animadores sobre a verdade da desigualdade, em especial no mercado de trabalho. Em compensação, trazemos também conteúdos inspiradores de uma transformação que tem como objetivo principal o mundo melhor e mais justo para todas as pessoas (spoiler: ela, a transformação, começa na infância).
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EQUILÍBRIO DISTANTE
No mundo todo, estamos a 217 anos da igualdade entre gêneros
Islândia, Noruega, Finlândia e Nicarágua estão entre os países mais igualitários quando a questão é igualdade entre homens e mulheres. O Índice Global de Desigualdade de Gênero 2017 classifica 144 países com base em quão perto estão de alcançar a isonomia entre os sexos. O estudo investiga:
PARTICIPAÇÃO ECONÔMICA E OPORTUNIDADE
ACESSO À EDUCAÇÃO
SAÚDE E SOBREVIVÊNCIA
EMPODERAMENTO POLÍTICO
As brasileiras ganham, em média, 73,7% do salário pago aos homens
Fonte: IBGE
TÃO LONGE, TÃO PERTO
Reportagens das jornalistas Priscila Mengue e Cris Olivette, para o Estadão, refletem sobre o cenário no Brasil
MELHOR COM ELAS
Estudo da consultoria McKinsey aponta que companhias com maior diversidade de gênero e etnia têm entre 15% e 35% mais probabilidade de superar os concorrentes, respectivamente.
NO GERAL
Dos 144 países avaliados no Índice Global de Desigualdade de Gênero, o Brasil ocupa o 90º lugar, atrás de Argentina (34º), Peru (48º) e Venezuela (60º).
NO ESPECÍFICO
Na igualdade salarial, o Brasil está na 129ª posição. Em cargos executivos, as mulheres chegam a ganhar 50% menos. Países como Irã e Arábia Saudita, conhecidos por violar direitos femininos, têm melhor posição.
CARGOS
O levantamento global aponta que são ocupados por mulheres 39,6% dos cargos mais altos em empresas e no poder público. Na média salarial, elas recebem 58% do que é pago a homens, embora sejam 53,9% da força de trabalho.
COTIDIANO
Segundo a jurista Silvia Pimentel, os dados representam o que ainda é visto no cotidiano: a mulher é associada e responsabilizada por tarefas domésticas e cuidados das crianças e ainda carece de representação nas altas esferas.
“É importante a participação de mulheres em postos de comando: elas levam nova experiência de vida, novo olhar. Podem, e muito, colaborar para políticas
mais sensíveis ao gênero”
Silvia Pimentel, jurista, professora da PUC-SP e ex-presidente do Comitê para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres
POLÍTICA
Luciana Ramos, professora de Direito da FGV, diz que a cota de 30% das candidaturas para mulheres no Brasil não surtiu efeito. Hoje o Congresso tem 55 deputadas (de um total de 513) e 13 senadoras (de 81). As mulheres, diz, têm menor financiamento e espaço midiático de campanha e, muitas vezes, são incluídas na lista só para cumprir a cota, sem intenção partidária de elegê-las.
“Apesar de a Constituição dizer que homens e mulheres são iguais em direitos e deveres, isso não ocorre na prática. Elas conseguiram direito de voto, mas o direito de ser votada ainda não é plenamente aceito”
Luciana Ramos, professora de Direito da FGV
MERCADO DE TRABALHO
O cenário desanimador não impede que mulheres alcancem posição de destaque nas corporações, até mesmo na área tecnológica, notadamente dominada por homens
Única mulher a compor o conselho das empresas parceiras da Dell no País, Sylvia acredita que o mercado tem reagido ao preconceito, incluindo a questão salarial, mesmo distante do ponto de equilíbrio. “A força de vendas de nossa empresa na região Sul tem apenas presença de homens, em compensação, no escritório de vendas de São Paulo a esmagadora maioria é de mulheres. Não há preferência por gênero, depende apenas de competência e qualificação. Não fazemos distinção salarial por causa do sexo.” Segundo Sylvia, se as mulheres conseguem trabalhar sentindo cólica, podem ser mães e realizar uma infinidade de coisas, por que não poderiam ser CEOs de uma empresa de tecnologia?
Na Samba Tech, distribuidora de vídeos online para a América Latina, o cargo de CIO (diretora de TI) é ocupado por Yolanda Vieira Castro. Formada em ciência da computação e com passagens pela Zunnit, IBM e Oi, a executiva teve de estudar muito para crescer na carreira. “Quando entrei na faculdade, a escolha por uma área predominantemente masculina me fascinava, porque queria me destacar e provar que as meninas também podem ser incríveis em ciências exatas. Mas depois dos primeiros meses de aula entendi que não era tão simples assim, pois para que sejamos consideradas boas em áreas ‘masculinas’, temos de ser bem acima da média. (…). Hoje, nossa situação é melhor do que há cinco anos. Mas falta muito para termos igualdade de fato. Isso ainda é um privilégio concentrado em algumas regiões e setores específicos da sociedade.”
DIVERSIDADE É CULTURA
Para Renata Abreu, especialista em psicologia positiva e autora do livro Felicidade Feminina, certos traços da personalidade da mulher atrapalham a carreira se forem mal administrados. “Enquanto homens atribuem as próprias falhas a fatores externos, as mulheres tendem a potencializar o sentimento de culpa. Esse aspecto é apenas uma das razões para que elas estejam tão longe de se equiparar ao número de homens em cargos de liderança.”
Na avaliação de Renata, as comparações entre os dois sexos ainda são desafios comuns no ambiente corporativo. “A assertividade costuma ser elogiada nos homens e vista como tendência ao autoritarismo no caso das executivas. A cultura corporativa tem papel crucial para desenvolver a diversidade e estimular a confiança do sexo feminino.”
FALTA CONFIANÇA, DIZ PESQUISA
A consultoria global de negócios Bain & Company, em parceria com o LinkedIn, desenvolveu a pesquisa Charting the Course: Getting Women To the Top, que analisou o comportamento de homens e mulheres na trajetória aos cargos de liderança.
De acordo com os dados, mesmo tendo entre cinco e quinze anos de experiência, as mulheres estão em desvantagem quando o quesito é motivação: 56% delas demonstram interesse em ocupar posições de chefia, enquanto o índice dos homens é de 64%.
A diferença aumenta para 11 pontos a favor deles quando se trata de autoconfiança: 57% das mulheres acreditam que conseguirão ocupar um cargo de liderança versus 66% dos homens.
Sócia da Bain & Company, Luciana Batista diz que o cenário é revertido quando gestores e gestoras estimulam o crescimento das profissionais. “Esse posicionamento faz a diferença e serve de incentivo para que elas cheguem à liderança.”
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