As mulheres têm pouca participação em cargos de chefia (os números e a realidade dos dias mostram isso). A situação piora proporcionalmente para as mais velhas, pretas e pardas. Esta reportagem de Bárbara Pereira e Charlize Morais fala sobre cursos e consultorias de formação de lideranças femininas. O objetivo é aumentar sua presença em empresas e na sociedade.
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PROGRAMA ELAS
É a escola de liderança e desenvolvimento feminino foi fundada em 2017 por Carine Roos e Amanda Gomes. A dupla já tinha experiência com equidade de gênero e desenvolvimento comportamental e queria contribuir na formação de mulheres para posições de destaque.
O treinamento dura 54 horas e é dividido em três módulos. Nas aulas de autoconhecimento, elas aprendem a reconhecer suas qualidades, desenvolver a autoconfiança e trabalhar medos e inseguranças. Uma vez que o talento próprio já foi reconhecido, elas passam a estudar formas de gerar influência, lidar com relações de poder e garantir autoridade no ambiente.
“Em uma turma de cem mulheres certificadas, 30% já foram promovidas ou receberam um aumento salarial. Setenta e cinco por cento delas atribuem esse resultado aos conhecimentos aprendidos no programa”, conta Carine. Entre os avanços destacados estão melhora na produtividade, foco, autoconfiança e comunicação. Os cursos são procurados tanto por empresas que desejam investir no desenvolvimento das funcionárias, quanto por mulheres que buscam esse aperfeiçoamento na carreira profissional.
KVT FEMININO
Seguindo uma linha mais naturalista, Ramy Arany fundou o KVT Feminino em 2002 com o objetivo de cuidar de forma plena, além do lado profissional. “Se a mulher não estiver preparada por dentro, ela não vai fazer a diferença na liderança de fora”, diz Ramy. Por isso, as aulas são focadas no empoderamento estruturado a partir dos talentos naturais da participante. Quando a aluna se encontra capacitada para liderar dentro de uma área em que que tem domínio, ela passa a aplicar esse conhecimento em muitas outras situações.
O QUE ELAS DIZEM
“O ponto de vista feminino é valorizado. Casamento e filhos
não são vistos como empecilhos”
Vania Teofilo, designer e aluna
Mulheres que investem em cursos e programas de liderança costumam notar um grande desenvolvimento após a conclusão. A designer Vania Teofilo ficou mais determinada. “Consigo ver com clareza o que busco como resultado. Dessa forma, ficou muito mais fácil mapear as tarefas que precisam ser executadas e descartar as que não são relevantes”. O curso também trouxe benefícios para sua vida pessoal, com a redução significativa de estresse e ansiedade. “O ponto de vista feminino é valorizado nesse ambiente. Questões como casamento e filhos não são vistas como empecilhos”, acrescenta Vania.
Para Flávia Luz, coordenadora de negócios em uma startup, os cursos foram uma solução para um questionamento interno. “Neste ano, fiquei sem saber qual caminho seguir. Não estava me enxergando como líder, porque sou nova. Eu tinha síndrome de impostora e achava que estava ali por sorte”, diz Flávia. Depois de um workshop gratuito do Programa Elas, Flávia percebeu que não tinha motivos para não se enxergar como líder ou reconhecer suas conquistas. “Apesar de eu ter muito reconhecimento na empresa e ter crescido lá dentro, o reconhecimento financeiro não era o mesmo. Me faltava essa voz para defender. Hoje, me enxergo como uma pessoa capaz e competente. Consigo dar feedbacks mais conscientes para minha equipe e me portar diante do meu chefe”, comenta. Flávia ressalta a representatividade do curso. “A maioria dos líderes são homens e eu não queria me espelhar nisso. Eu queria criar meus próprios modelos de liderança”.
Além de ser procurado por mulheres que desejam crescer em suas empresas, o curso também funciona como um catalisador de projetos. Marina Haddad, por exemplo, queria empreender e encontrou nos cursos de liderança feminina uma oportunidade de preparação para colocar sua ideia em prática. O resultado foi tão positivo que a empreendedora irá lançar um workshop para conectar atividades físicas e empoderamento feminino.
“A maioria dos líderes são homens e eu não queria me espelhar nisso. Eu queria criar meus próprios modelos de liderança”
Flávia Luz, coordenadora de negócios em uma startup
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